Argumento plausível com acontecimentos subseqüentes deveras previsíveis. A frase não foi das melhores, mas é através dela que consigo resumir meu sentimento ao assistir A Ilha, novo filme do diretor Michael Bay (da bomba chamada Pearl Harbor).
Quem já viu o treiler tem noção de quase toda a história, e isso é um dos problemas do filme. Inclusive, na tentativa de fazer o espectador se interessar pelo produto, os treilers de hoje têm revelado demais sobre o enredo dos filmes. Muitos deles chegam ao cúmulo de incluir cenas da conclusão da história, fato que muitas vezes detectamos ao assistir o treiler após ter visto o filme completo. Isso acontece inclusive com “A Ilha”.
Não leia os 2 próximos parágrafos se não quiser saber muito sobre o filme. Nós dizemos que eles contêm spoillers, que são informações importantes sobre o enredo. Se quiser pular, o parágrafo seguinte já poderá ser lido sem traumas.
O filme trata de um assunto tão polêmico quanto batido: a clonagem. Mas faz isso com muita sabedoria, levando o espectador a se colocar no lugar dos personagens ao fazerem suas descobertas. Milionários do futuro investem seu dinheiro contratando uma empresa que se propõe a desenvolver uma massa sem personalidade ou vontade própria que servirá de backup caso seus proprietários tenham algum problema de saúde e necessitem de transplante. No entanto os desenvolvedores descobrem que esses produtos não corresponderiam às espectativas se realmente não tivessem personalidade, e acabam criando cópias de seres humanos e as colocam para viver num local isolado do mundo, aos quais é contada a história de que são sobreviventes a uma contaminação mundial.
Lincoln Six-Echo (Ewan McGregor, de Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith) e Jordan Two-Delta (Scarlett Johansson, de Em Boa Companhia), entre muitos outros, vivem com a esperança de serem selecionados para irem à “Ilha”, o único local do mundo imune à contaminação onde a humanidade poderia recomeçar. O problema é que esses “sortudos” não vão pra ilha nenhuma e sim à sala de cirurgia para terem seus órgãos transplantados aos seus proprietários. Mas as coisas saem do controle quando Lincoln começa a se questionar sobre sua natureza e sobre seu objetivo ali. Então as coisas começam a “esquentar” quando o cara descobre que tudo aquilo em que foi obrigado a acreditar durante toda sua vida, na verdade, é uma grande armação.
Dá pra perceber que o enredo é bem interessante, por isso fiz questão de contá-lo aqui. Foi isso o que mais me empolgou no filme: a história é bem contada e nos faz até pensarmos que isso seria possível. O problema é o que se segue a partir daí. Depois da primeira hora de exibição, “A Ilha” deixa de ser um filme diferente para se equivaler a qualquer filme de ação que tem por trás uma boa agência de efeitos especiais, e não passa disso. Apesar da ação ser bem conduzida, o argumento “filosófico” fica pra trás e, o que poderia gerar uma brilhante abordagem sobre a ética em relação à vida, transforma-se numa seqüência de tiros, quedas e perseguição de veículos com acontecimentos bem pouco críveis.
O que mais me preocupa é pensar que a premissa original é possível. O desejo do ser humano pela vida eterna e sua obsessão pelo dinheiro podem muito bem conduzir a humanidade a uma caminho bem parecido com esse. Quando seu egocentrismo é maior do que seu interesse por muitas vidas alheias, coisas como essa certamente podem acontecer. Vemos uma ciência bem avançada que, por mais que pregue que o maior interesse é o bem-estar do próximo, nunca abre mão de deixar seus pesquisadores com os bolsos cheios de grana. E quando isso vira seu maior objetivo, ai de quem ainda estiver por aqui!