Há algumas semanas os noticiários compartilharam a cena chocante de um mar de humanos tirando selfies com um golfinho morto. Confesso que quando assisti a reportagem pela primeira vez fiquei sem reação, inerte: “Será que estou acordada? É a vida real mesmo?”. Então busquei um fio de esperança em meio à escuridão da realidade e pensei: “Não, não deve ser verdade, deve ser sensacionalismo. Espero que seja!” Aí, alguns dias depois, acompanhando o noticiário, descobri que na verdade o golfinho chegou à praia já morto e os banhistas tentaram levá-lo de volta ao mar, mas como o bichinho retornou, a galera aproveitou para tirar uma selfie com o cadáver – o que acho uma atitude um tanto quanto macabra, mas se comparada ao equívoco inicial divulgado pela mídia, passa a ser uma atitude levemente aceitável.
Então fiquei matutando todas essas informações e uma mistura de sentimentos e pensamentos invadiu a minha alma: “Nós não matamos golfinhos para tirar selfies, mas será que não estamos matando nosso casamento, nossas amizades, nosso tempo com os filhos?” E pior: “Será que não temos postado diariamente em nossas redes selfies com cadáveres de relacionamentos?”
Tenho um medo danado de um dia meus filhos me entregarem um desenho onde eu esteja com o celular nas mãos, por isso evito ao máximo que eles me vejam assim, com os olhos fixos na tela enquanto falam ou quando estamos juntos. Outro dia uma amiga disse acertadamente que a geração de hoje não vai lembrar dos sorrisos e olhos fitos dos pais nas apresentações de escola, pois estão todos encobertos por um mar de smartphones. Não quero que meus filhos guardem a lembrança da mãe tirando selfie de tudo e de todos. Quero que lembrem da nossa alegria por pessoas (e não coisas) e momentos reais (não virtuais).
Fica então a oportunidade de reflexão: O que será que estamos sacrificando na vida real para satisfação do mundo virtual?
Que a constatação desses fatos possa gerar um incômodo tão forte dentro de nós, que nos impulsione a mudar. Esse é o meu desejo. Essa é a minha oração.