Dias de copa do mundo são dias de muita animação na família Degaspari. Bandeiras espalhadas pela casa, roupas verde-amarelas no varal prontas para serem usadas, tabela dos jogos na parede e um álbum de figurinhas todinho para ser preenchido.
Se você é como nós, sabe da emoção de abrir um pacote de figurinhas e encontrar jogadores figurões da copa. A emoção é dobrada se eles ainda não estavam no álbum. Nós aproveitamos cada oportunidade para realizar trocas com amigos e desconhecidos para completarmos o álbum até o final da copa do mundo e depois ainda guardar esse item valioso por anos e anos. Em 2018 não foi diferente.
Em um dia ordinário deste ano, acordamos e preparamos com os meninos a mesa para tomar nosso café da manhã e fazer um pequeno devocional para depois enviá-los para a escola. Em nossa conversa do café, André, na época com 7 anos, disse para mim que queria muito levar as nossas figurinhas repetidas para a escola para tentar fazer trocas na hora do recreio. Eu disse que seria melhor levar apenas a cartela de anotações das repetidas e fazer as reservas com os amigos para, no dia seguinte, levar somente as figurinhas desejadas, mas o André estava muito empolgado com a missão de completar o álbum e decidiu levar todas as figurinhas repetidas.
Ele teve todo o cuidado ao colocar as figurinhas num estojo com zíper e ajeitar devidamente na mochila antes de ir – feliz da vida – para a escola. Ao deixá-los lá, falei nossa frase de sempre: “Deus abençoe vocês. Façam sempre o que é certo, não importa a situação!” e fui me encontrar com a Ângela, uma moça muito especial que acompanho em discipulado. Dessa vez a levei para minha casa para uma tarde muito boa de conversas, aprendizado, louças e limpeza de casa.
Chegou, então, o horário de buscar os meninos na escola. Estacionei o carro e fiquei no portão, como de costume, esperando os meninos que sempre voltam da aula contando muitas coisas felizes. Mas dessa vez foi diferente. André estava chorando muito revoltado. Uma coisa ruim aconteceu. Nossas cartinhas, todas, desapareceram da mochila do André. E, para piorar, ele volta com o estojo das cartinhas todo destruído. Meu coração de mãe estava esmagado. Fiquei revoltada. Senti a dor que ele estava sentindo, mas não falei nada, apenas o abracei e pedi para ele me contar a história todinha.
– Foi o Arthur, mamãe! Eu sei que foi! Eu mostrei minhas cartinhas para ele e ele disse que ainda não tinha álbum! Então ele ficou com vontade de pegar as minhas! Tenho certeza de que foi ele! Contei para a professora e ela disse que era feio acusar as pessoas sem prova, então eu disse que tinha uma prova. O meu estojo de cartinhas estava rasgado no lixo do banheiro. Levei para a professora e ela pediu para o Arthur abrir o estojo dele. Nossas cartinhas não estavam lá, mas sua tesoura estava cheia de fiapos do meu estojo.
Abracei ele, não resisti e choramos juntos. Fomos levar a Ângela para a casa e, no caminho, fui dizendo histórias de justiças e injustiças. Falei para ele que devemos buscar o reino de Deus e espalhar esse reino para todos. Para justos e injustos. Que ele tinha direito de ficar com raiva, mas que fazer algo além do que já tinha feito, só iria machucar ainda mais. Que ele precisava perdoar o Arthur.
No dia seguinte, fui à escola a pedido da diretora e, depois de esperar por uma hora no banco da diretoria, ela veio conversar comigo com lágrimas nos olhos. Disse que havia conversado com o Arthur que confessou que havia pegado as figurinhas do André. Então ela chamou o André na sala da diretoria para que o Arthur se desculpasse com ele e, juntos, encontrassem uma solução para o prejuízo. E foi nessa hora que a diretora embargou sua voz ao contar a resposta do meu filho. Ela disse que suas palavras foram:
“Arthur, obrigado por dizer a verdade. Mas eu vou te falar uma coisa: Você é um bobo! Era só ter me pedido as cartinhas que eu te dava! Nossa amizade é muito maior que essas cartinhas. Eu te perdoo. Não precisa comprar outras para me dar.”
E foi assim que André expressou que existe algo mais valioso que a copa do mundo em nossa família. Algo que não podemos comprar. E 2018 foi um ano de copa muito diferente. O Brasil não foi campeão, mas tivemos uma vitória diferente em nossa casa.
“O essencial é invisível aos olhos e só se pode ver com o coração.” O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry