Um dos hinos do qual sempre me lembro foi escrito pelo padre católico Peter Scholtes, intitulado “Eles Saberão Que Somos Cristãos Pelo Nosso Amor”. Esta música foi quase sempre acompanhada pelo pastor nos exortando a não apenas falarmos do amor de Cristo, mas também a mostrarmos o amor de Cristo em como servimos aos que estão ao nosso redor.

Não sou teólogo, mas sei que os cristãos protestantes creem que a salvação vem somente pela graça de Deus, mas que se o amor de Cristo habita nos crentes, então eles devem apresentar “bons frutos”.

Tiago sucintamente afirma: “a fé sem obras é morta”.

Então, devemos esperar que os cristãos evangélicos mostrem sua fé para aqueles ao seu redor como meio de evangelismo. A ciência social também tem um termo para este conceito, ele é chamado altruísmo. O termo tem uma variedade de significados, mas o significado mais relevante para esta discussão vem dos psicólogos que acreditam que isso seja “agir preocupado com o bem-estar do outro”.

É estar envolvido em atividade que beneficia mais os outros do que beneficia a si mesmo. Acho que todos concordam que o mundo será um lugar bem melhor se todos nós agirmos só um pouco mais altruisticamente.

Felizmente, agora temos dados concretos sobre o quanto o altruísmo é praticado pelos americanos. A Pesquisa Social Geral perguntou aos entrevistados sobre agir de maneira altruísta em vários cenários, tanto em 2012 quanto em 2014. Aqui estão as onze situações sobre as quais foram as perguntas: doou sangue, doou comida ou dinheiro a um morador de rua, devolveu dinheiro depois de receber troco a mais, permitiu que um desconhecido passasse na sua frente na fila, foi voluntário para uma organização sem fins lucrativos, doou dinheiro para caridade, ofereceu lugar para um desconhecido, cuidou de plantas / animais de estimação para os outros enquanto estavam fora, carregou os pertences de um desconhecido, deu instruções para um desconhecido e emprestou a alguém um item de valor.

Alguns desses atos são obviamente mais custosos do que os outros, mas todos eles têm sentido de bondade genuína e cuidado com outras pessoas, o que é algo que devemos esperar ver dos cristãos. Então, com que frequência as várias tradições religiosas se envolvem com cada um desses atos? A figura abaixo conta uma história interessante.

Observe que não há muita variação entre as tradições religiosas. Por exemplo, quase todos os grupos permitiram que um desconhecido furasse fila nos últimos 12 meses. A atividade com menor probabilidade de ocorrer foi doar sangue, enquanto com maior probabilidade foi dar instruções para desconhecidos.

Pode ser útil olhar para lugares onde os evangélicos parecem fazer melhor que a média. Por exemplo, os evangélicos são mais propensos a doar dinheiro para caridade do que aqueles sem fé religiosa, mas isso parece ser uma comparação injusta porque a bandeja para oferta é passada toda semana, enquanto os que não têm fé religiosa precisam tomar alguma iniciativa para fazerem uma doação.

O mesmo é verdade para voluntariar-se para uma organização sem fins lucrativos. Uma diferença significativa também aparece na questão de dar dinheiro extra de volta a um caixa, onde os evangélicos são dez por cento mais propensos a fazê-lo do que os que não têm fé religiosa.

Entretanto, existem outros casos em que os que não têm fé religiosa são mais propensos a se envolverem com altruísmo do que os evangélicos. Por exemplo, os que não têm fé religiosa são mais propensos a abrir mão do seu lugar para um desconhecido, bem como a dar instruções para alguém. Em conjunto, não parece que pessoas de fé significativamente se diferenciam daquelas que não reivindicam filiação religiosa.

Para testar mais isso, eu compilei uma escala de altruísmo computando todos os 11 itens e escalonando-os de 0 (significando envolvimento em 0 atividade altruísta) e 100 (envolvimento em todas essas atividades várias vezes por semana).

O gráfico acima é chamado de gráfico montanha e é uma excelente maneira de visualizar uma distribuição de valores. Como é facilmente aparente no gráfico, há uma grande uniformidade a ser encontrada na pontuação média de altruísmo para cada uma das sete tradições religiosas.

Por exemplo, os que não têm fé religiosa tem a menor pontuação de 28 em 100, enquanto a maior é dos judeus que pontuam 32,6. Todos os sete grupos caem dentro de um intervalo de apenas 4,6 pontos em uma escala de 100 pontos, e a maior parte das diferenças entre os sete grupos não está fora da margem de erro dos outros grupos.

A maior lição deste gráfico é o que não está aqui: não há diferença real em quantos atos de altruísmo ocorrem entre as pessoas de fé em contraste com aquelas sem filiação religiosa.

Eu pensei que o que talvez estivesse acontecendo aqui é que os católicos nominais estão sendo agrupados com católicos fiéis ou que os evangélicos que vão uma vez por ano à igreja estão sendo agrupados com aqueles que vão á igreja várias vezes por semana.

Então tive que testar essa ideia: quanto mais alguém é devoto à fé religiosa, é mais provável que esteja envolvido em atos de bondade a outras pessoas. O gráfico abaixo divide cada tradição em grupos de baixa renda e de alta renda porque alguns dos atos seriam obviamente menos caros para as pessoas que ganham mais dinheiro (doar dinheiro etc.).

À medida que vamos da esquerda para a direita, devemos esperar que a linha suba, o que indicaria pontuações mais altas na escala de altruísmo. Isso é o que geralmente encontramos – quanto mais as pessoas vão aos cultos, mais se envolvem com altruísmo.

Por exemplo, um evangélico que vai várias vezes por mês se envolve em 10% mais altruísmo do que alguém que nunca vai à igreja. Entretanto, essa relação não se limita apenas a evangélicos. O mesmo padrão aparece também para os outros grupos cristãos analisados aqui.

Entretanto, o painel inferior direito, que é daqueles sem religião fornece um resultado surpreendente. Primeiro, observe que aqueles sem fé religiosa que nunca vão, agem altruisticamente tão frequentemente quanto outros grupos cristãos.

Eu sei que parece ilógico aqueles sem fé religiosa irem à igreja, mas na Pesquisa Social Geral, cerca de um terço deles diz que vai à igreja mais do que nunca, então isso acontece. E quando este grupo vai mais à igreja, eles veem um rápido aumento em sua pontuação geral de altruísmo. Enquanto o tamanho da amostra é pequeno e, portanto, a margem de erro é grande, fica aparente que ir à igreja impulsiona o altruísmo para basicamente todos independentemente da renda ou da tradição religiosa.

Eu acho que existem duas maneiras de enxergar estes resultados. Uma perspectiva é ser grato por tantas pessoas de tantas origens religiosas e socioeconômicas diferentes se envolverem em comportamentos abnegados essencialmente na mesma taxa. Isso mostra a ideia de que todas as pessoas têm capacidade de serem bondosas umas com as outras e que, em geral, somos uma sociedade de bom coração e generosa que trata as pessoas como gostaríamos de ser tratados.

A outra é um pouco desoladora: os cristãos não deveriam se envolver em atos de abnegação em taxas superiores à daqueles que não têm afiliação religiosa? Eu diria que muitas dessas medidas estão estabelecidas de tal forma que deveriam levar os evangélicos a serem naturalmente mais altruístas do que aqueles sem comunidade religiosa.

Por exemplo, muitas oportunidades para voluntariar tempo, doar dinheiro e servir moradores de rua, todas vêm por ser parte de uma família da igreja. O mesmo poderia ser dito para olhar a casa de alguém enquanto está fora em férias ou até mesmo doar sangue quando a igreja patrocina uma movimentação.

Mas, apesar de todas essas oportunidades que são proporcionadas a pessoas que vão à igreja, elas se envolvem com altruísmo nos mesmos níveis que todos os outros. Os cristãos são constantemente lembrados que deveriam ser as mãos e os pés de Jesus Cristo, mas infelizmente isso não aparece nesses dados. Se o escritor do hino estiver certo, não parece que muitas pessoas “saberão que somos cristãos pelo nosso amor”.

RYAN BURGE

Dr. Ryan Burge é professor de ciências políticas na Universidade Eastern Illinois. Ele ensina em várias áreas, incluindo instituições americanas, administração pública e relações internacionais. Sua pesquisa concentra-se em grande parte na intersecção entre comportamento religioso e político, especialmente no contexto americano.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.