A igreja tem um papel profético insubstituível na esfera pública, entretanto não é possível exercê-lo sem uma clara referência do reinado de Cristo — e não das nossas preferências ideológicas.
Na sua Teologia Bíblica, Geerdardus Vos estabelece como que o profetismo surgiu em Israel justamente na nova organização do reino teocrático sob um governante humano. Durante muito tempo os israelitas pediram um rei para Deus, que não foi atendido imediatamente, pois era o equivalente a rejeitar o próprio Deus.
Essa foi a razão pela qual, durante muito tempo, desde Josué até o período dos juízes, a instituição do reino foi mantida em suspenso. E foi através desse duplo movimento — primeiro negando um rei, depois dando um rei insuficiente (Saul) — que Deus resguardou a expectativa do povo por um ideal de rei segundo o coração de Deus.
Daí em diante, a ideia do reino permanece central na esperança do povo de Deus — inclusive da igreja. Os profetas eram justamente aqueles que resguardariam o povo e o rei de se afastarem das leis e da consciência de que quem reinava era o próprio Deus e não o monarca.
Os profetas eram guardiões da teocracia. Quando os reis eram justos, os profetas os louvavam, quando eles eram ímpios, as convocações proféticas ao arrependimento eram dramáticas. E assim, os profetas mantiveram-se sempre uma independência “supra-partidária” que lhes dava autoridade para confrontar os pecados públicos.
Tudo isso ensina muito sobre o papel profético da igreja. Geralmente nos lembramos do confronto às injustiças do governo, mas nos esquecemos da fidelidade à lei de Deus. Não existe profetismo sem crítica à idolatria. O propósito de nossas duras críticas ao governo é manter uma representação verdadeira do reinado de Deus no imaginário do povo, e não substituir o governante que não nos agrada.
A igreja precisa ter a coragem e a autoridade de reprovar um governo que se afasta dos princípios do Reino de Deus. Como também, nos aspectos em que os governantes são fiéis a Jesus devemos mostrar apoio e proteção. Esse é o trabalho profético da igreja — e está muito além de estagnar-se em uma posição partidária.