A Bíblia começa com a história da criação. Deus fala e o universo existe. Dentro dessa história está o relato da criação da humanidade. Segundo a Bíblia, além de tudo mais que Deus fez, os humanos são especiais, um feito tremendo! O Livro de Gênesis registra o momento em que Deus decidiu criar os seres humanos: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gênesis 1:26-27).
Segundo a Bíblia, os humanos são diferentes porque, ao contrário de todas as outras criaturas no planeta, nós fomos criados à imagem de Deus. Todos têm o que os cristãos chamam de imago Dei – latim para “imagem de Deus” – e, portanto, são muitas vezes referidos como portadores da imagem. Por esta razão, os humanos têm valor; eles têm valor acima de qualquer outra coisa na criação. Quando essa noção é aplicada à ética e aos direitos humanos, ela é revolucionária.
Todos nós somos feitos à imagem de Deus. Isto é o que torna nosso valor e nossa dignidade inerentes e inseparáveis de quem somos, quer os governos reconheçam os direitos humanos ou não. Nós não temos direitos porque os merecemos; nós não temos direitos porque somos brancos ou negros, homens ou mulheres, americanos ou chineses. Nós temos direitos porque cada um de nós é feito à imagem de Deus e, portanto, tem valor e dignidade inerentes.
Mas esta verdade nem sempre foi autoevidente ou amplamente acreditada. Através da história, várias culturas têm reconhecido os direitos de poucos – talvez apenas homens, talvez apenas homens brancos, talvez apenas proprietário de terras. Na Grécia antiga, o berço da democracia, os homens eram vistos como tendo direitos, enquanto as mulheres, as crianças e os que não eram gregos eram vistos principalmente como propriedade.
É no cristianismo e, mais especificamente, na Bíblia que encontramos a fonte dos direitos humanos universais. Todos os humanos são criados à imagem de Deus – este é o argumento dos abolicionistas para a dissolução da escravidão. Todas as mulheres são criadas à imagem de Deus – este é o argumento dos defensores dos direitos das mulheres pela igualdade salarial e direito ao voto. As crianças são criadas à imagem de Deus – este é o argumento contra o trabalho infantil. Para defensores pró-vida, esta verdade se estende até mesmo para dentro do ventre, como argumentam que todo feto é um ser humano, um portador da imagem no útero e, portanto, é merecedor de liberdade e de vida.
Embora possa ser fácil ter esses direitos como garantidos ou pensar que eles são apenas parte do que significa ser ocidental ou americano, as raízes dos direitos humanos básicos são encontradas na afirmação de que cada pessoa tem um valor inerente porque cada pessoa é feita à imagem de Deus.
O falecido Max Stackhouse, professor e diretor do Centro de Teologia Pública Kuyper em Princeton, colocou desta forma: “Honestidade intelectual exige reconhecimento do fato de que o que passa como princípios ‘seculares’ e ‘ocidentais’ de direitos humanos básicos se desenvolveram em nenhum outro lugar do que a partir das principais vertentes das religiões biblicamente enraizadas”. Este fundamento bíblico dos direitos humanos também serve como base da ética e do conceito de justiça social modernos.
Justiça para todos
Poucas causas animam nossa geração como questões de justiça social. Uma vez que reconhecemos que todo indivíduo tem direitos humanos inerentes, esses direitos devem ser protegidos por lei. Mas como vimos ao longo da história humana, há vezes em que a lei nega proteção para aqueles que mais precisam dela. Muitas ações horrendas, em um momento ou outro, foram sancionadas pela lei. Então, como decidimos quais leis manter e quais derrubar? Simplesmente porque algum preconceito permanece legal, isso de forma alguma o torna certo.
Uma das razões pelas quais a Bíblia é valiosa é porque ela revela o caráter moral de Deus e, ao fazê-lo, ela revela o tipo de caráter moral que ele planejou para as pessoas que criou. Se os humanos são feitos à imagem de Deus, então é razoável pensar que parte de portar sua imagem seja agir de maneira que reflita seu caráter. Veremos que o Deus da Bíblia é justo, condena o mal e tem compaixão para com as vítimas.
A Bíblia revela um Deus cujo caráter permanece consistente e cujo desejo por justiça permanece claro. Esta revelação existe acima de opiniões pessoais e legais sobre questões sociais e serve como principal fonte de recurso quando, às vezes, entendemos errado.
Martin Luther King Jr. reconhece isto. Ele foi preso em Birmingham, Alabama, por exercer seu direito constitucional de liberdade de expressão e de lutar pela liberdade de uma classe de cidadãos oprimidos. King não podia apelar à multidão por justiça; no seu caso e no seu tempo, ele mal podia apelar aos tribunais. King fez o que muitos no passado fizeram quando a justiça terrena foi negada a eles: Ele apelou para uma lei que transcende o tempo e suplanta a autoridade secular.
King escreveu, “Como se pode determinar se uma lei é justa ou injusta? Uma lei justa é um código feito pelo homem que se ajusta à lei moral ou à lei de Deus. Uma lei injusta é um código que está em desacordo com a lei moral… Uma lei injusta é uma lei humana que não está enraizada na lei eterna e natural. Qualquer lei que eleva a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrada a personalidade humana é injusta. Todos os estatutos segregacionistas são injustos porque a segregação desfigura a alma e prejudica a personalidade”.
É difícil subestimar o impacto da Bíblia neste determinado episódio da história americana. King, um pregador cristão, confrontou a violação aos direitos humanos da sua época com um apelo baseado não no senso comum, mas em uma verdade maior enraizada no caráter de Deus como revelado na Bíblia.
É difícil ignorar a influência que a Bíblia teve em nossa cultura. Entretanto, você pode não concordar com esta caracterização da história e você pode não compartilhar nossa opinião sobre a importância da Bíblia em relação à justiça social ou aos direitos humanos. De fato, você tem liberdade para discordar. E é para essa liberdade, liberdade religiosa, que nos voltamos agora.
Livre para (des)acreditar
Uma das críticas comuns que temos ouvido em nossas viagens e nas muitas discussões que tivemos pelo país é que a Bíblia é fonte de opressão e que os cristãos estão sempre tentando forçar sua fé aos outros. Os cristãos são frequentemente retratados na mídia como sendo agressivos, com exigências contrárias à cultura, protestando contra os direitos dos outros e buscando tudo, desde limites ao sexo até a censura. Muitos nos disseram que acham que os cristãos que se envolvem em assuntos públicos e tentam influenciar a política pública o fazem a fim de obrigar todos a acreditar do jeito deles.
Somos sensíveis a essa crítica. Quando consideramos a maneira que os cristãos têm se envolvido com a sociedade e com a cultura, não podemos negar que os motivos de alguns em assuntos públicos podem estar alinhados com essas acusações. Mas queremos começar a separar o que algumas pessoas dizem ser bíblico do que a Bíblia realmente diz.
Entre outras coisas, este país foi fundado no desejo de exercer a liberdade de expressão religiosa. Multidões deixaram a Europa e outras terras onde a crença e a prática religiosas eram controladas pela igreja ou pelo estado, e vieram ao Novo Mundo para ler e aplicar a Bíblia de acordo com suas convicções pessoais. E como nossa nação começou a formalizar nossa liberdade, tornou-se lei que o Estado “não fará lei a respeito do estabelecimento da religião e do livre exercício dela”.
Desde a fundação desta nação, os cristãos têm defendido uma oportunidade de serem ouvidos, livres de constrangimentos governamentais, religiosos e sociais. Desejamos uma oportunidade para oferecer a verdade que encontramos na Bíblia e cabe a você pegá-la ou largá-la. O cristianismo se fortaleceu e a Bíblia não é limitada de nenhuma maneira, quando outras religiões têm o mesmo acesso ao mercado de ideias que ele tem. Se pudéssemos sussurrar uma coisa no ouvido de cada guerreiro da cultura, seria que não é necessário limitar os outros a fim de sermos ouvidos.
Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo alemão que foi executado pelos nazistas por fazer parte em um plano de assassinato contra Adolf Hitler, escreveu extensivamente sobre a liberdade cristã, o engajamento cristão no cenário mundial, e a importância de uma livre troca de ideias. Ele escreveu, “A liberdade essencial da igreja não é um presente do mundo para a igreja, mas a liberdade da Palavra de Deus para se fazer ouvir”. O que ele está dizendo aqui é que a Bíblia tem sua própria autoridade e sua própria liberdade. A verdade encontrada na Bíblia precisa apenas ser levantada e apresentada. A fé não é fé quando é forçada para você; isso é coerção.
Nós acreditamos que quando você ler a Bíblia encontrará uma narrativa sendo oferecida à humanidade ao invés de imposta a ela. Esta narrativa é a essência de toda liberdade religiosa que vemos protegida na nossa forma de governo e praticada na nossa cultura. Para aqueles que criticam o cristianismo como sufocante e para aqueles que usam o cristianismo para sufocar as vozes dos outros dentro do mercado de ideias, nós dizemos, “Vá para a Bíblia”.
Jesus não viaja de cidade em cidade exigindo que todos acreditem nele. Em vez disso, vez e outra, nós o vemos chegar em cena, proclamar sua mensagem, curar os doentes e fazer um convite para segui-lo. Jesus diz na Bíblia, e por extensão para você e para mim, “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mateus 11:28).
Quer você escolha acreditar na Bíblia ou não, quer você escolha lê-la ou não, há pouca razão para duvidar que a Bíblia continua a ter impacto em nossa cultura. Há razões, além do mero hábito, por que ela é fonte de conforto em dias nacionais de luta e de luto. Há uma razão por que você pode encontrá-la nos bastidores, suportando a estrutura da nossa sociedade. Gostaríamos de propor a ideia radical de que a Bíblia é um texto único que é mais do que simplesmente outro livro, mais do que uma mera coleção de histórias; ela é revelação do caráter divino.
LAUREN GREEN MCAFFEE
MICHAEL MCAFEE
Lauren Green McAfee é palestrante, escritora e conecta com um coração para envolver os outros na Bíblia, bem como Embaixadora Corporativa do Hobby Lobby. Michael McAfee é Diretor do Engajamento Bíblico do Museu da Bíblia em Washington D.C.
Este trecho foi retirado Não É O Que Você Pensa de Michael & Lauren McAfee.
Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.