Essa semana um relato chocante parou o Brasil. Na verdade movimentou. Movimentou as redes e as ruas. Uma adolescente de 16 anos foi violentada sexualmente por mais de trinta homens numa mesma noite e teve as imagens do ato cruel e desumano divulgadas na internet. É sabido que qualquer relação sexual ou toque íntimo sem consentimento se caracteriza por crime de estupro. Neste caso, um estupro coletivo.
Em depoimento à polícia, a vítima relata ter um filho de três anos e ser usuária de ecstasy, cheirinho da loló e lança perfume. Não estou aqui para julgar o comportamento e escolhas da vítima (apesar de não achar normal a maternidade aos treze anos e benéfico o uso de entorpecentes). Na verdade, o meu desejo sincero com esse texto é despertar reflexão a respeito da deturpação do sexo e da sexualidade no Brasil, especificamente.
Temos uma filha de nove anos e um menino de seis. Ensinamos a eles nas pequenas ações do dia-a-dia sobre escolhas e suas consequências.
“Filha, se não estudar para a prova, vai tirar nota baixa. É consequência de uma escolha sua.”
ou
“Filho, se não organizar os seus brinquedos, não vai poder assistir TV. É uma escolha sua. Assuma as consequências.”
E é interessantíssimo ver que, desde muito cedo, já estão aprendendo sobre o benefício de escolhas sábias, pois sabem que o peso da consequência é duro e inevitável. E isso é aprendizado para uma vida! Estou ensinando a eles que temos, sim, liberdade de escolha, pois vivemos em um país livre, mas a ânsia por uma liberdade sem limites nos leva ao extremo da libertinagem. Em nome de “eu faço o que bem entendo da minha vida” atropela-se valores, ética e moral, uma escolha perigosa e que traz prejuízos incalculáveis a indivíduos e à sociedade como um todo. Fato.
Você quer baile funk regado a drogas e bacanal? Quer virar a noite na balada bebendo com os amigos? Quer sexo descompromissado? Quer usar entorpecentes, traficar drogas, portar armas? Pois bem, a escolha é sua, tem total liberdade pra isso. Mas assuma o peso das consequências.
“Eu sou dono da minha vida e faço o que bem entendo dela. Faço sexo aos 11/12 anos, tenho filhos e uso drogas. A vida é minha, ninguém tem nada a ver com isso. Frequento bacanais, swings e curto o sexo descompromissado. Não interessa a roupa que eu visto, curta ou longa, se frequento ou não o morro.”
ou
“Eu traço dez garotas por noite, no mínimo! Baile funk toda semana, sou usuário de drogas sim, mato se for preciso. Outro dia passamos a noite comendo uma garota. Foram trinta caras em cima de uma. Eu faço o que bem entendo da minha vida!”
Estamos falando de escolhas. Simples assim. E por favor, não venham me dizer que é possível fazer esse tipo de escolha e ficar livre das consequências. O mundo não funciona desse jeito. Se escolheu seguir esse caminho, impossível fugir dos perigos que o cercam. Quer passar a noite bebendo com os amigos e depois sair dirigindo? Ok, a escolha é sua, mas assuma as consequências. Quer transar com todos os caras que tiver vontade? Beleza, a escolha é sua. Quer trair seu cônjuge? Quer comer açúcar e gordura sem limites? Quer deixar seu filho ler, escutar e assistir o que tiver vontade? Você é livre, faça! Mas saiba que uma hora ou outra as consequências virão.
E não me entendam mal. Não falo aqui das escolhas da garota especificamente, e sim a respeito das escolhas de toda uma sociedade. A menina é apenas mais uma vítima de uma sociedade ensanguentada pelo estupro, assim como os trinta rapazes. Criminosos sim, mas vítimas (ou resultado) de uma nação marcada por estupros morais, éticos e de valores. Sejam quais forem as escolhas dela, do namorado e dos amigos do namorado, o fato é que existem consequências e, infelizmente, pessoas inocentes acabam indo no mesmo pacote.
O triste, triste mesmo, é ver o rumo que o país está tomando. Estamos num carrinho de rolimã rumo a um abismo de sangue, descendo de forma descontrolada. E sabe a única coisa que pode frear esse carrinho? O amor, regras, valores, limites e moral. Em Hiroshima, para lembrar outra tragédia da Segunda Guerra, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o mundo precisa de uma “revolução moral”. Estou de acordo. Se o nosso desejo sincero é poder ligar a TV e ter a certeza de que não veremos mais notícias como essas, precisamos de ordem, decência e revolução moral. Não tem outro caminho. Não tem. Não existe manifestação forte o suficiente para combater um mal enraizado em nossa cultura e que infecta humanos na sua tenra infância.
É de pequeno que se aprende sobre escolhas, sexualidade e consequências do sexo descompromissado. É ainda na primeira infância que se deve ensinar sobre a preservação do corpo, os efeitos da droga no organismo e que violência e estupro são atitudes muito más e inaceitáveis. É em casa, no ambiente familiar, que a criança entende, principalmente através do exemplo de seus cuidadores, o que é respeito, limites e moral. O garotinho deve aprender logo cedo a respeitar o corpo da mulher, inclusive o corpo daquelas que não se dão o respeito e, a garotinha, do mesmo modo, deve aprender a valorizar e preservar o seu próprio corpo. Enquanto tivermos cuidadores ensinando aos filhos que é aceitável e normal cenas como essas, teremos garotas sendo estupradas por trinta homens. Os desenhos, filmes, novelas, músicas e descaso dos cuidadores na construção dos pilares do caráter dos filhos estão nos empurrando ao abismo.
As manifestações são válidas, sim! Precisamos gritar, movimentar e deixar de silenciar. Mas, infelizmente, a verdade é que isso não muda caráter dos cidadãos que estão se formando e crescendo achando que “traçar” dez garotas numa noite e perder a virgindade aos 11/12 anos é aceitável. Que é normal o pai trair a mãe. Que não tem nada demais mentir, roubar, enganar, defraudar, trapacear… Afinal, o mundo é dos espertos, não é mesmo? Pois bem, agora assumam as consequências dessa “esperteza”.
As novelas transbordam imoralidade. As letras de música tocadas em festinhas infantis deturpam a sexualidade. A adultização precoce apodrece a alma de uma sociedade já adoecida. Você sabia que seis das mais respeitadas associações médicas americanas (entre as quais as de pediatria, psiquiatria, psicologia e a influente American Medical Association) afirmam que há uma impressionante conexão entre a violência na mídia e o comportamento agressivo das crianças? E que o mesmo acontece com exposição às cenas sensuais que ocasionam a erotização precoce? Um estudo¹ revela que em 152 horas de monitoração da TV aberta há 308 incidências de cenas eróticas e inapropriadas para crianças e pré-adolescentes. Em média, a cada 29 minutos eles recebem um estímulo erótico e, em geral, a referência é machista e preconceituosa e são usadas para fazer rir. E cada vez que você apoia, incentiva ou fica inerte diante dessa podridão, está ajudando o carrinho a descer mais depressa e financia o estupro da sociedade. Você filtra o que seu filho assiste, escuta ou joga? Mesmo? A reforma precisa ser feita, antes de tudo, na base, na matéria-prima do ser humano que está sentado aí no sofá da sua casa. A primeira infância é o momento de formar (ou não) um célula cancerígena.
Como mãe e cidadã, tenho dado a minha vida para a formação de dois cidadãos do bem, de caráter e que estão aprendendo, sim, que liberdade sem limites leva à libertinagem. Aqui em casa temos regras, valores e moral. Frisamos diariamente o respeito, escolhas e suas consequências. Sei bem que estou entregando à sociedade células saudáveis. Mas sei também que remo contra a maré. É preciso mais, muito mais para fazer esse carrinho parar. Então olho para Deus e a única palavra que me vem a mente é “Socorro!”. Que Ele tenha misericórdia de nós!
Mas, em um momento de reflexão, me lembro que tudo, absolutamente tudo o que é preciso para fazer esse carrinho parar, Deus já nos ensinou através da vida de Jesus. Está tudo ali, certinho, registrado. É só ler, aprender e seguir. Então chego à conclusão de que, mais do que uma revolução moral, precisamos antes da renovação do nosso entendimento: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12.2
E minha oração então muda: Pai, renove a mente e o entendimento dos pais das crianças que hoje estão se formando. Renove a mente dos cuidadores e educadores! E o pedido de socorro permanece: Tenha misericórdia de nós!
Nota:
¹Fonte: Dia-a-dia da Educação
Imagem: Superinteressante (Julho de 2015)