Quantas vezes você já ouvir falar de gangues de meninas envolvidas em pancadarias em jogos de futebol, boates ou shows? Ou quantas vezes escutou o relato de mulheres entrando em escolas armadas assassinando alunos? Ou quem sabe quadrilhas femininas de roubos a bancos? E quanto aos estupros e relatos de pedofilia? E violência doméstica? Pois é, quando o assunto é violência e agressividade os números não nos deixam mentir. Os homens estão há anos-luz a nossa frente! E por que será que eles costumam ser infinitamente mais agressivos e violentos do que as mulheres? Você tem algum palpite? Será que nascem assim?
É fato já comprovado pela ciência que o banho de hormônios que o nosso cérebro sofre ainda na vida intrauterina interfere na formação das sinapses nas meninas e meninos de maneira diferente, influenciando no comportamento e desenvolvimento na vida fora do útero. Também está estatisticamente comprovado que as meninas costumam falar antes que os meninos, por exemplo, amadurecem mais rápido e são superiores no que se refere à habilidade motora fina. Por outro lado, os meninos se destacam quando falamos de atividades motoras mais grosseiras e que envolvem inteligência espacial. Somos seres biologicamente diferentes e isso é inegável e irrefutável. Mas também é fato que o ambiente, a cultura e o período histórico em que nascemos e nos desenvolvemos, exercem uma influência (absurdamente) significativa em nossa formação.
E não é segredo pra ninguém que vivemos imersos nos resquícios de uma cultura machista. Estamos aos poucos (e com muito esforço) nos desvencilhando de paradigmas e estereótipos que trouxeram (e ainda trazem) muito sofrimento à mulheres e crianças. Há não muito tempo o homem era visto como o dono da mulher, um ser visto como inferior e limitado. Elas não podiam falar em público, trabalhar fora, estudar ou votar. Marido bater em mulher era aprovado por lei, você sabia? A esposa não tinha autoridade, inclusive, sobre o seu próprio corpo, ou seja, se o marido tivesse vontade de fazer sexo com ela de forma violenta ou durante uma enfermidade, por exemplo, ela não poderia optar por não fazer, pois o seu corpo pertencia à ele. Os garotinhos, desde muito novos, eram treinados a serem violentos, afinal “homem que é homem bate, manda, peita, se impõe e não chora!” Uma triste realidade sustentada na agressividade.
E pra quem ainda acha que isso é coisa do passado, sugiro que circule pelos canais infantis, jogos de vídeo-game e converse com professores. Já parou pra pensar por que a grande maioria dos desenhos e jogos feitos para meninos contém cenas de agressão e violência? Já cansei de escutar de professores de educação infantil sobre falas e cenas de violência entre meninos nas escolas. E muitos com o apoio e respaldo dos seus próprios pais: “Arrebenta aquele moleque! Arranca sangue do nariz dele! O sujeito merece apanhar mesmo!” E aí, quando os pais desses garotos são chamados na escola, fica fácil entender o comportamento da criança, que no geral é bombardeada diariamente por cenas e falas de violência em sua própria casa. Sem contar os desenhos, filmes e jogos a que são expostas e que transbordam agressividade. E tudo isso com o total apoio e incentivo dos pais, “afinal, o garoto precisa aprender a ser homem!”
E eu pergunto, o que é ser homem pra você? O que entende por masculinidade?
Pra mim, virilidade e força diz respeito a sinceridade, honestidade, fidelidade e honra. É ser forte e seguro de si e não precisar passar a vida reafirmando sua masculinidade através da violência. É ter certeza do valor que tem e por isso prezar pelo valor do outro.
Mas aí você vai dizer: Mas meu filho vai ficar apanhando de tudo e de todos sem reagir? Ele precisa aprender a se defender! Exato, ele precisa aprender a se defender e isso não quer dizer necessariamente que, se apanhar ou for ofendido, precisa arrebentar o oponente, mas sim que precisa aprender a se desvencilhar da situação e procurar ajuda. Sim, talvez, em algum momento isso peça um chute, um empurrão ou até um soco, mas percebe que é muito diferente de ensinar a ser agressivo e promover a violência?
Eu sou mãe de menino e sei bem o que é vivenciar este universo. O meu garoto tem espadas, luva de box e saco de pancadas, mas usa-os como esporte ou brincadeira, e nunca para a agredir outras pessoas. E sabe por que? Por que filtramos os desenhos que ele assiste e os jogos que joga. Mediamos as brincadeiras, relações entre amigos e entretenimento. Estamos inculcando em sua cabecinha que violência não nos leva a lugar algum. Quer dizer, leva sim, leva a destruição de vidas, famílias e sociedades. Uma crianças que cresce acreditando que precisa ser agressivo para ser valorizado, é certo que levará isso pra vida adulta. E é aí que se explica o sangue que escorre diariamente dos jornais e noticiários.
Um adulto violento não se faz sozinho, mas é feito pelo ambiente em que se desenvolve. Simples assim.
Meu filho (que aliás se chama André, que significa homem viril) é um menino que está aprendendo a ser homem de verdade. Está aprendendo a ser sincero, honesto, fiel, honrado, ajudador e cuidadoso com os amigos e com o ambiente em que vive. Está aprendendo a reconhecer suas emoções e administrar a sua raiva. Está aprendendo também a não machucar os outros (nem com palavras) e se impor de forma honrada nos momentos necessários. E é fácil fazer isso? De forma alguma! Falo de um processo demorado e cansativo, um verdadeiro trabalho de formiguinha. Mas faço isso porque entendo a minha responsabilidade como cidadã. Se anseio por uma sociedade menos violenta, preciso começar trabalhando dentro da minha própria casa. E se cada um de nós fizer a sua parte, quem sabe daqui há alguns anos os noticiários não estejam mais falando de intervenção militar, mas sim de uma geração de homens que mudou (pra melhor) a história do seu país.
Sonhar não custa nada né?