O casamento por si só já representa um grande desafio. Unir duas pessoas de diferentes famílias, culturas, manias e criações esperando o “felizes para sempre”, desde a época do dilúvio, já representava um desafio e tanto! Agora, acrescentam-se a isto ferramentas que tomam praticamente 100% da nossa atenção nos momentos em que estamos livres (e naqueles que não estamos também) e temos então o “permaneça casado se for capaz”. O tempo que nos restava para investir no relacionamento com o outro está se esvaindo. Pouco a pouco novas ferramentas surgem para ocupar a sobra da sobra de um dia cansativo. Quem é o louco que esquece de recarregar a bateria do celular? Jamais! Mas e quanto à bateria do amor, que se recarrega com olho no olho e investimento de tempo? Pois é, Albert Einstein não estava tão errado quando disse:
“Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas.”
Bem, voltando um pouquinho no tempo, vamos fazer um exercício mental e pensar juntos como funcionavam os relacionamentos na época de nossos avós e bisavós nas seguintes situações:
Refeições/Momentos em família/Festas/Apresentações de escola/Eventos em geral.
Onde estava o foco e o prazer? Responda pra si mesmo antes de prosseguir.
Agora, vamos fazer o exercício de imaginar as mesmas situações nos dias atuais (por favor, pense um pouquinho). Onde está o foco e o prazer? Consegue identificar?
A resposta não é difícil. Há poucos anos nos encontros em família e entre amigos, o nosso foco estava no outro. Olho no olho. O prazer estava em falar e escutar, em curtir o momento, os lugares, as pessoas. Hoje, o foco está nas redes, nos posts, nos compartilhamentos e curtidas. Olho nas telas. Nas apresentações de escolas, crianças que antes enxergavam os brilhos dos olhos dos pais, hoje enxergam o brilho de um mar de telas. Triste, triste!
Antes de continuar, gostaria de elencar agora alguns dos muitos perigos oferecidos pela era digital:
- Nosso cérebro tem sido treinado para a velocidade. Informações chegam por todos os lados e a todos os momentos: Facebook, WhatsApp, Instagram, postagens, artigos, vídeos, e-mails e etc. Eis que então surge uma nova síndrome, a “Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA”. Pessoas acometidas por este mal encontram dificuldades em se concentrar, acordam cansadas, sofrem por antecipação, têm dificuldade imensa em separar tempo para contemplar o belo, esquecimentos frequentes, irritabilidade, entre outros.
- Quando navegamos nas redes, perdemos completamente a noção de tempo. Já aconteceu de olhar o celular pensando em ficar só dez minutinhos e quando se dá conta já passou mais de uma hora? Tempo perdido que poderia ter sido investido nos filhos ou cônjuge.
- O excesso de informações também causa distúrbios como insônia e dificuldade de concentração. Pessoas que antes liam livros inteiros, hoje não conseguem passar de uma ou duas páginas. No máximo um artigo curto ou vídeos de dois ou três minutos, e olhe lá! O que passa disso fica inviável.
- A inexistência de momentos de ócio, que sim, são benéficos e importantíssimos para a saúde mental. Contemplar o pôr-do-sol, observar um pássaro voando, passar a tarde deitado numa grama com os filhos, um piquenique regado a conversas e risadas… Esta geração não sabe mais o que é admirar um belo por-do-sol sem divulgar as fotos nas redes.
- Outro triste e preocupante fato é o vício no prazer depositado nas postagens/curtidas/comentários e não mais nos momentos e nas pessoas. São todos prazeres curtos e que geram a necessidade de novos estímulos escravizantes. Faça um teste: O quanto te incomoda o fato de passar uma semana sem postar fotos de lugares e momentos? Conseguiria ficar sem isso com tranquilidade, apenas desfrutando o prazer de estar com as pessoas? Ou sentiria grande incomodo? Faça um teste como exercício de autoanálise.
- Nunca na história da humanidade a facilidade de adultério e acesso a pornografia esteve tão grande. As oportunidades chegam a todos os momentos e sem serem convidadas. Antigamente, para se conseguir material pornográfico ou praticar o adultério, precisávamos sair de casa, mostrar o rosto, correr o risco de ser pego. Hoje, basta ligar o celular e, muitas vezes, sentados na cama com o cônjuge dormindo ao lado. O WhatsApp se tornou o grande vilão dos relacionamentos. Estou mentindo?
Mas é claro que não podemos ser radicais ao ponto de ignorar os benefícios da era digital. A tecnologia utilizada de forma sadia pode ser uma arma do bem. Exemplos? Existem milhares! Vamos pensar em alguns:
- Ferramenta de conhecimento;
- Financiamentos coletivos para boas causas;
- Vídeos e documentários;
- Rapidez em informações emergenciais;
- Facilidade de comunicação nos grupos;
- Contato com familiares e amigos distantes;
- Educação a distância;
- Eletrodomésticos que facilitam a rotina;
- Aplicativos fantásticos.
Lembram de mais algum? Ficaríamos aqui horas enumerando os benefícios.
Mas então, diante do desafio de manter um relacionamento sadio, equilibrando os PERIGOS e BENEFÍCIOS que a era digital nos oferece, o que fazer?
Em primeiro lugar, entendo que seja necessário estabelecer limites e regras. Achar que temos o poder de controlar o tempo gasto no mundo virtual sem o exercício da autodisciplina, beira a insensatez. Temos limites por todos os lados em nosso dia a dia: sinais de trânsito, horários de entrada e saída em escolas e empresas, limites de velocidade, locais apropriados para estacionar, filas, assentos de prioridade… As regras são um método pedagógico de manter a humanidade na linha. E com a era digital não seria diferente. Para manter um equilíbrio em seus relacionamentos e vida pessoal, sugiro que sente com sua família e estabeleçam juntos regras e limites. Alguns exemplos:
- Antes de fazer (pegar o celular, postar, responder mensagens), pergunte-se: é necessário isso agora?
- Estabeleçam momentos em que a tecnologia deve ficar de fora: refeições, visitas, antes de dormir, etc.
- Tempo de ócio (contemplar o belo);
- Tempo para leituras mais longas;
- Tempo para o olho-no-olho, conversas, jogos em família…
- Não ficar com os olhos fixos no aparelho na frente de pessoas reais, especialmente filhos e cônjuge;
- Não esconda nada de seu cônjuge. Compartilhem senhas;
- Exercício da meditação Bíblica diária.
Sua mente precisa ser treinada nesse sentido para que a situação não fuja do controle e cause destruição em seus relacionamentos. É um exercício de autodisciplina que precisa ser diário.
E qual seria a resposta do Evangelho para toda esta situação?
Filtre tudo aquilo que entra em sua mente. Descarte o que for lixo: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” Filipenses 4:8
Se algo ou alguma ferramenta tem te levado ao erro ou a prejuízos nos relacionamentos, corte de sua vida o quanto antes: “Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno”. Mateus 5:29,30
Não entre na “forma” deste mundo. Renove dia após dia seus pensamentos e a sua mente: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2
Você tem apenas dois caminhos a seguir: ou a as ferramentas da era digital irão controlar a sua vida, ou você vai exercer domínio sobre ela. Se ela não estiver a seu serviço, você estará a serviço dela.
O Espírito Santo de Deus poderá te oferecer todo o domínio próprio necessário para caminhar na contramão, para remar contra a maré. E isso é investimento de uma vida. Caminhada diária. É relacionamento profundo com o autor da sua vida!
“Mas o fruto do Espírito Santo de Deus é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e DOMÍNIO PRÓPRIO. Contra essas coisas não há lei.” Gálatas 5:22,23