Os evangélicos que não são atentos às datas tradicionais do calendário litúrgico da igreja podem não ter percebido que o período de quarentena do CODIV-19 coincidiu com a quaresma cristã – o tempo de quarenta dias que antecedem a Páscoa, principal festa do calendário bíblico.
Ter um período de preparação que antecede a celebração da Páscoa é uma preocupação do discipulado cristão em tomar consciência da trajetória que nosso Senhor percorreu até o seu sacrifício em nosso lugar.
O pecado e a morte nunca estiveram tão patentes aos olhos de Cristo quanto nos dias que antecederam sua crucificação. Por isso o forte desejo de permanecer em oração com os discípulos para suportar a pressão que cercava a obra de se fazer sacrifício por nós.
É por isso que a quarentena que o mundo foi colocado em razão da atual epidemia pode tornar-se um instrumento de Deus para nossa própria vivência da trajetória cristã.
O choque de morte e fragilidade humana com a crise epidemiológica trouxe realidades de dor e sofrimento que a igreja ocidental não está acostumada. Fomos privados de elementos básicos da fé cristã (como nossos cultos) que pareciam estar acima de qualquer ataque. Testemunhamos barreiras para o exercício de nossa fé.
Ouvi o reverendo Ricardo Barbosa usar essas duas expressões juntas: quarentena e quaresma. Acho que nada poderia ser mais frutífero para a igreja do que um período de vivência radical na fragilidade humana que o pecado e a morte trouxeram para a realidade.
O nosso desafio espiritual é abraçar a realidade do grande sacrifício na cruz de Cristo que nos tornará mais aptos a enfrentar nossos pequenos momentos de incerteza e medo.