Florzinha

Era uma florzinha nova, pequenina. A caçula de toda a sua família. E não era uma família qualquer. Era a maior e mais bela de todo o bairro. Para ser preciso, 273 irmãs. Mas aconteceu certa vez de aparecer um gigante peludo devorador de flores. Pisoteou tudo, degolou a maioria delas com seus dentes afiados; às vezes engolindo, outras apenas arrancando pelo puro prazer de destruí-las. Depois de algum tempo cansou-se da carnificina e parou. Deitou-se e aproveitou para esmagar mais algumas.

Seguiu-se então o desespero e a gritaria. — O que faremos? — bradavam as poucas ainda vivas. Talvez fosse melhor que se fingissem de mortas, pois diante da balbúrdia o temido gigante escutou e voltou a levantar-se. Agora começava a cheirar a base do caule de cada uma delas. Cheirou, cheirou…; até que meteu suas fortes patas com vigor na terra, jogando-as para longe.

A florzinha pequenina estava finalmente só. Tremia sem parar ao ver o gigante peludo de quatro patas aproximar-se. Mas eis que de longe se ouviu um som diferente. Um assovio atraíra a atenção do gigante e o levara para longe.

Florzinha, então, se viu sozinha. Chamou pelas irmãs, mas nada escutou. Chorou durante séculos, e nada. Certo dia percebeu que seu caule estava mais rijo. Suas folhas mais verdes e largas. Seu botão agora sentia o sol atingindo suas entranhas. Foi então que, pela primeira vez desde aquele triste acontecimento, sentiu-se realmente viva. Estava decidida: uma vez que sobrevivera à tamanha tragédia, dependeria dela trazer as outras irmãs à vida novamente. Foi o que fez. Esqueceu-se de sua pequenez, da zombaria das belas vizinhas do bairro que, desde o episódio do gigante tripudiavam dela, e cresceu forte.

Certa manhã notou algo diferente ao seu lado. Parecia ser um broto. Era mesmo verdade! Uma irmã estava nascendo! Tal constatação foi mais do que suficiente para que ela se animasse ainda mais. O tempo passou e outras vieram. Eram uma família afinal. Novamente a mais bela família do bairro.

Passou-se o tempo. Florzinha envelheceu; suas pétalas caíram, suas folhas amarelaram, mas ela nunca deixou de contar acerca do dia em que o gigante peludo as visitou. De como se sentiu amedrontada e sozinha, mas também de como reconheceu, mesmo sendo a menor de todas, sua importância e a necessidade de continuar, nem que fosse sozinha até o fim.

Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.

Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nossa carne mortal. De modo que em nós opera a morte; mas em vós, a vida.

Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está escrito: Eu cri, por isso é que falei, também nós cremos, por isso também que falamos, sabendo que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus, e nos apresentará convosco.

Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graça por meio de muitos, para a glória de Deus.

Por isso não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. (2 Coríntios 4.8–18)