Quando alegrar-se não é uma opção

“Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” [1]

Você creu em Jesus Cristo. De agora em diante você é um Filho de Deus, salvo e remido pelo sangue do Cordeiro imaculado – Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou pela sua vida. E agora?

Já ouvi muitos testemunhos de conversão. Ex-traficantes, ex-padres, ex-prostitutas, ex-macumbeiros, ex-músicos seculares, ex-maconheiros e muitas outras histórias são ouvidas no meio cristão e mostram, guardados os devidos exageros e sensacionalismos, que o Evangelho foi, é, e continua sendo o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” [2]. Negligenciar os testemunhos destes irmãos é negligenciar a obra de Deus em suas vidas; precisamos criar espaços no convívio da igreja para que estas histórias sejam divulgadas.

    “Quando se tem a ousadia de transformar milagres em marketing, ao mesmo tempo o pastor de ovelhas é transformado em empresário. Nessa metamorfose maldita, o pastor substitui a teologia pela economia e alcança muito sucesso…” [3]

Preocupa-me o fato da maioria dos testemunhos que ouvimos dar uma ênfase excessiva ao passado. Em uma hora de testemunho, se gasta quarenta minutos dissecando detalhes da vida do sujeito antes de conhecer a Cristo; quinze minutos falando em como, por inúmeras vezes o evangelho foi rejeitado; e, por fim, quando a desgraça parece ter tomado conta de toda a fala até então, o testemunho termina: “aí eu aceitei a Jesus e minha vida se transformou”. Ponto final!? Como? Parece que o período mais emocionante da vida acontece quando ele está perdido no mundo sem esperança. Após aceitar a Jesus não existe nada mais interessante a ser relatado no testemunho. Por isso, quando digo que a igreja precisa abrir espaço para Testemunhos, não é deste tipo de exploração mercadológica da desgraça alheia que estou falando. Não podemos transformar um testemunho em um tristemunho!

Precisamos testemunhar da transformação que nossa vida experimentou – e experimenta, após nossa entrega a Cristo. A Bíblia nos ensina que “as coisas antigas já passaram”. Deus promete não se lembrar dos nossos pecados [4]. Por que então gastar tanto tempo descrevendo minúcias de um terreiro de macumba ou repetindo inúmeras vezes que o irmão fulano é um ex-isso, ou ex-aquilo? Quando nós cremos em Cristo, não somos chamados de ex-pecadores, mas de novas criaturas!

Jesus sabiamente ensina isso na parábola do Filho Pródigo. Aquele filho rebelde se envolveu com todo tipo de coisa imunda. Desprezou a presença do pai para desfrutar a vida. Desejou comida de porco… Jesus, ao descrever o “testemunho” do garoto, descreve com detalhes incríveis a maneira como o pai recebe o filho pecador com os braços abertos, calça-lhe sandálias nos pés, põe-lhe o anel no dedo e lhe prepara um banquete. Deste momento em diante, os momentos de perdição da vida já não importavam porque ele já não estava perdido. Jesus não esqueceu de incluir em sua parábola a necessidade premente do arrependimento que moveu o garoto em direção aos braços do pai, porém coloca o arrependimento e a restauração em situações eqüidistantes no relato, embora o período compreendido entre a partida e o retorno do garoto certamente tenha sido bem longo.

Testemunho não é simplesmente uma história que passou e ficou no passado, como um filme velho e empoeirado. Nossa história continua – muito mais excitante do que jamais foi. Alegre-se, meu irmão, pois em Cristo você não é ex-nada. Você é tudo-novo!

Notas:

[1] Lucas 15:32 [2] Romanos 1:16 [3] ULTIMATO, 2005 [4] Hebreus 10:17