Amigos, os que me acompanham nesta coluna sabem que há cerca de dois meses estive fazendo um curso. Foi um mês de intensos estudos, muitas horas de palestras, trabalhos e reflexão. No meio disso tudo havia alguns intervalos, nos quais tive a chance de desfilar meu futebol em partidas internacionais. Veja você o privilégio. Representei o Brasil, junto com alguns amigos, num jogo contra um combinado ao qual chamamos, carinhosamente, de “Resto do Mundo”. Ganhamos. Fizeram a revanche, ganhamos de novo. Mas como tudo era levado na brincadeira e não havia absolutamente nenhuma rivalidade, disputamos várias outras “peladas”, misturando o pessoal para não ficar muito desequilibrado. Afinal, o futebol pentacampeão do mundo é imbatível. Em especial os indianos e africanos amam este jogo, embora poucos entendem efetivamente do negócio.
Um belo dia não havia quorum suficiente para um jogo completo. Estávamos ainda batendo bola em uma das traves, quando um dos indianos teve uma idéia inusitada. Ele propôs fazermos uma espécie “ataque-contra-defesa”. Um goleiro neutro lançaria a bola, a equipe que pegasse a bola primeiro faria o ataque, cabendo à outra apenas roubar a bola. Isto é muito comum em treinamentos dos times profissionais. Ocorre que, nesses casos, o objetivo do técnico é repetir movimentos, posicionamento, treinar jogadas ensaiadas etc. No nosso caso, quando a defesa retomava a posse da bola, não tinha nada a fazer com ela. A única coisa que restava era tocar a bola até alguém perdê-la novamente. Ou seja, se você era “defesa”, não havia qualquer objetivo prático. Era só correr atrás da bola.
Os indianos acharam que isso era muito legal. Para eles, futebol não é alguma coisa para se ganhar ou perder. É só um esporte para ser jogado. Não precisa nem de traves, porque não há necessidade de fazer gols. Depois de uns 10 minutos de “jogo”, a coisa ficou tão chata, que a gente não agüentou. A “defesa” resolveu parar. Para quem entende o mínimo, jogar futebol sem ter a chance de fazer gols não faz qualquer sentido. Jogar futebol não é como nadar, que a gente pode praticar apenas para fazer exercício. Futebol é jogado para ganhar ou perder. De preferência para ganhar. Jogar por jogar não tem graça nenhuma.
Andei pensando que a vida e o cristianismo (se é que isso pode ser separado) de muitos brasileiros parece exatamente um jogo de futebol sem traves nem gols. Para muita gente, isso não é importante. Eles só querem entrar em campo, suar um pouco a camisa, dar uns piques e pronto. Nunca se preocupam em fixar metas, em estabelecer objetivos claros. Não sabem para quê estão ali. Podem ficar anos e anos “jogando” esse joguinho sem graça, sem pé nem cabeça. No final, estão suados, cansados, parecem ter feito um grande esforço, mas não realizaram nada. Alguns acabam saindo de campo, de tão enjoados que ficam.
Não entendo porque as pessoas em grande parte das igrejas (especialmente nas “igrejas dos Irmãos”) têm tanto medo de objetivos. Ouço líderes por toda a parte dizendo que a igreja não é um negócio, portanto não tem que ser tratada com aquilo que eles chamam de “maneira empresarial”. Concordo que igreja não é um negócio. Concordo que não é contratando profissionais para serem os “CEO´s” de uma igreja que estaremos agradando a Deus. Mas você se lembra de que Paulo, o apóstolo, disse que ele não corria sem meta? Ele não ficava desferindo golpes no ar, perdendo energia à toa, esforçando-se muito só pelo mero esforço? Esta é a razão porque ele foi quem foi e nós continuamos sendo quem somos.
A dinâmica da vida cristã exige um planejamento muito bem feito para realizarmos alguma coisa. Não chegaremos a lugar nenhum se não soubermos para onde vamos. Lembra-se da pergunta que nos faziam quando éramos pequenos: “o que você vai ser quando crescer?” Esta pergunta precisa ser feita a cada cristão, ano após ano. O que você quer ser? O que pretende atingir? Qual é sua meta?
Não tenha medo de fazer isso. Tire um final de semana, um feriado, sente-se num lugar calmo e retirado, leve sua Bíblia, ouça a voz do Espírito de Deus ao seu coração. Ele fala através da Palavra, das circunstâncias, da paixão ou vocação que ele colocou na sua vida, dos dons com os quais ele lhe dotou. Peça a Deus que oriente você sobre qual é a sua missão na vida, onde você poderá ser mais efetivo e eficiente no reino de Deus.
Em cima disso, estabeleça metas claras de crescimento e desenvolvimento. Defina com Deus qual é o seu “plano de carreira”. Você vai se surpreender em quanta coisa esquecida das gavetas da sua vida vai ganhar vida com essa reflexão. Ninguém é bem sucedido só porque é esforçado. É preciso algo mais. É preciso entender que futebol tem que ter gols.
Pensando bem:
Se pelo menos 10 leitores fizerem algum comentário a respeito do tema, diretamente na coluna ou escrevendo para mim, eu me comprometo (eu me comproMETA) a escrever uma série sobre como estabelecer metas na vida cristã.