Amigos, como foi que eu consegui viver todos esses anos sem saber que a loja mais chique do Brasil ficava na Vila Olímpia? Se eu soubesse disso, não teria feito compras na Governador, em Piracicaba, nem comido sanduíche de mortadela no Mercadão de São Paulo. Gente fina é outra coisa. Que chato ser pobre! Dizem agora que a loja é tão chique, mas tão chique, que a gerente de lá é a Sofia Alckmin, filha do governador do Estado. Imagino, então, que a tia do cafezinho deve ser a neta do Paulo Maluf.
O PT deve ter ficado só com o estacionamento. Para pagar a primeira hora do estacionamento, é bom ir preparado: R$ 30,00. É para quem tem sobrando mesmo. No dia da inauguração, apareceram caciques como Antonio Carlos Magalhães e o próprio Geraldo Alckmin.
Coitada da mocinha que é dona de lá. Diz a notícia que ela vai ficar presa por 5 dias. Por ironia, ou mais provavelmente, por zombaria da Polícia Federal, a operação chamou “Narciso”. Nada mais egocêntrico. Depois de tanto se olhar no espelho, não sobrou tempo para conferir as notas subfaturadas. A loja em questão, segundo a nota da PF, incorreu em delitos como “formação de quadrilha, falsidade material e ideológica, crimes contra a ordem tributária. É investigada ainda a possível sonegação fiscal sobre o lucro da empresa Daslu”. Mas o que é isso?! Se você não ler o cabeçalho, vai pensar que estão falando da Galeria Pajé, dos muambeiros do Paraguai. Isto é atitude típica da ralé, não da aristocracia paulistana.
Bem, menos ruim: apesar de tudo isso, a loja continua aberta. Você ainda pode comprar o seu sapato Marc Jacobs, sua gravata Valentino ou qualquer outro desses mimos de gente chique. Ou melhor, de gente très chic. E se você for um cliente VIP, não esqueça de depositar algum na caixinha. É para a fiança de dona Eliana. A exemplo de Al Capone, ela também parece ter esquecido de pagar os impostos devidos.
Esse é o Brasil. Um país de contrastes encantadores e surpresas agridoces. Notícias como estas mostram que a falta de vergonha na cara, a safadeza e a pilantragem não são privilégios da classe mais baixa da população, como muitas vezes a elite descarada e hipócrita formadora de opinião – capitaneada pelos falsos sábios que têm os microfones na mão – querem nos fazer imaginar. Não é só no morro e na favela que moram os bandidos. Não são apenas os sacoleiros do centro de São Paulo que contrabandeiam. O “rapa” agora chegou também no nível daqueles que freqüentam a alta roda, dão entrevistas nos programas de televisão, usam roupa de grife, viajam toda hora para o exterior e inauguram shopping bilionários. Chegou e achou.
Pena que não dá para acreditar que isso tudo seja sério. Sempre tem algum motivo escuso por trás de escândalos desta natureza. Alguém deve ter sido mal atendido, algum interesse foi contrariado. Essas coisas não acontecem por acaso e muito menos porque há uma isenção de tratamento entre o poderoso e o pé-rapado neste país. Talvez seja mais para desviar o foco do mar de lama em que o atual governo insiste em se meter.
Mesmo assim, de uma certa maneira esse tipo de coisa lava a nossa alma. Expõe, mais uma vez, que a podridão atinge a todos, democraticamente. Tem pobre honrado e pobre malandro. Nem todo pobre é pobre porque é vagabundo. E até arrisco a dizer que tem mais pobre honrado do que pobre malandro. Por outro lado, tem rico honrado, o que é coisa raríssima, e tem rico pilantra, o que é quase sinônimo. A origem das grandes fortunas no Brasil tem muito menos a ver com trabalho duro, e muito mais a ver com favorecimentos seculares, que vêm do tempo das capitanias hereditárias, passa pelos cafetões da agiotagem oficial do sistema financeiro perverso e opressor deste país e resvala em corrupção e ilícitos “menores” como este que agora vem à tona.
E viva o Brasil!