Home, sweet home

Amigos, estou de volta. Nada como chegar em casa. O treinamento estava ótimo, o hotel era maravilhoso, muitas oportunidades de conhecer igrejas diferentes, pessoas novas. Os passeios e compras, tudo de primeira. O Havaí é maravilhoso, as praias são diferentes, o povo é simpaticíssimo, a biodiversidade (que vai de vulcões a florestas tropicais, de vales onde se filmou o Jurassik Park a montanhas cobertas de nuvens) é espetacular, os locais de mergulho simplesmente paradisíacos.

Mas lá não é a minha casa. Quando chega a hora de voltar, a gente fica muito, mas muito feliz. Você arruma as malas, fica de olho no relógio, o dia não passa. Aí ainda tem 32 horas de vôos e escalas pela frente. Parece uma eternidade. No meio do caminho quase vi a viola em cacos. Por muito pouco, muito pouco mesmo, não perco minha última conexão. Ficaria em Los Angeles, sem lenço e sem documento, perderia o vôo de Washington para São Paulo e aí seria uma maravilha. Graças a Deus, meus colegas de viagem seguraram (literalmente) a porta do avião, enquanto eu me desvencilhava milagrosamente do segurança imbecil (isso é quase uma redundância) que me barrou na entrada do aeroporto porque achou que a minha mala era muito grande. Engraçado isso. A dos terroristas era menor do que a minha e olha o estrago que eles causaram. Na minha só tinha chocolate e máquina fotográfica. Completamente inofensivos! Ufa! Escapei. Vou chegar em casa na hora prevista.

Mas é isso. Fui com duas malas, voltei com quatro. Ganha-se um livro aqui, compra-se um presentinho ali. Voltei com todas as roupas que levei, obviamente. Não levei sofá, geladeira, máquina de lavar, cama, travesseiro. Porque isso tudo tinha lá à minha disposição. E eu sabia que em pouco tempo estaria de volta. Era apenas uma viagem. Não era para sempre. Apesar de ter firmado novos relacionamentos, as minhas raízes ficaram aqui. Esposa, filhos, parentes, igreja, ministério, tudo o que é importante na minha vida estão deste lado do planeta.
Ainda que eu morasse lá por muitos anos, ainda seria sempre um estrangeiro, um pássaro fora do ninho. Língua diferente, comida diferente. Nada é igual. Tinha um grupo de 6 brasileiros na turma. Mesmo assim, éramos apenas forasteiros e todo mundo sabia disso só de olhar na nossa cara. Se não descobrissem isso pelas roupas que vestíamos, descobririam pelo sotaque brasileiro ou pelo tanto de sacolas que a gente carregava. Estávamos ali de passagem. Cumprida a missão, toca pra casa. Não comprei casa, ficava em hotel. Não comprei carro, quando queríamos sair alugávamos por um dia. Não fiz nada permanente. Em 30 dias estaríamos fora dali.

Sem contar a briga pelo telefone. Todo mundo queria ligar para o Brasil, saber as notícias da hora. A gente queria assistir às vitórias do Brasil na Alemanha, mas não podíamos, porque na televisão de lá só passa golf, baseball e basquete. Futebol, nem pensar. Argh! Que tragédia. Só dava para ver o resultado pela Internet. Que tortura!! Esta foi uma das piores partes. A gente precisava saber o que estava acontecendo em casa e ficávamos perdidos se não conseguíamos notícias.

Assim é a vida. Não somos daqui. Não pertencemos a este sistema. Estamos aqui como peregrinos. Nossa casa, onde realmente pertencemos, é em outro lugar. Somos cidadãos do céu. Então, não adianta querer fincar raízes aqui na terra. Isto tudo vai ser deixado para trás um dia. Para onde vamos, não precisaremos dos apetrechos de comodidade aos quais tanto nos apegamos nesta vida aqui.

A gente se mata dia após dia para comprar coisas, para acumular produtos, para enchermos nossa vida de bens de consumo. É triste ver como alguns cristãos vivem como se fossem ficar aqui para sempre. Agarram-se às coisas mais banais que esta vida oferece, sem perceber que estão segurando o vento. Quando chegar a hora de ir para casa, vão ficar desapontados de saber que nada disso levarão consigo. Para eles também servem as palavras de alerta que Cristo usou na parábola do fazendeiro rico: “O que tens preparado, para quem será?” Qualquer deveria olhar na nossa cara e dizer o que, como brasileiro, ouvi com orgulho muitas vezes no Havaí: “Você não é daqui, é?” É uma verdadeira tragédia quando as pessoas não conseguem definir a nossa identidade. É estranho que a gente já tenha se acostumado de tal maneira à cultura, ao modo de falar, ao modo de vestir, aos hábitos todos deste mundo, que pouca gente que passa por nós consegue saber, ou pelo menos ficar em dúvida, se somos ou não somos daqui. Se já fomos ressuscitados com Cristo e o nosso passaporte é de outra cor, porque ainda temos tantas ligações com a terra estranha onde vivemos apenas por algum tempo?

Creio que nós nos acostumamos demais a pregar e ensinar sobre os tópicos da vida e nos esquecemos de pregar a eternidade. Com isso, a qualidade da nossa existência tende a ser tão pequena quanto de fato ela seria se não tivéssemos qualquer esperança de uma vida eterna.

Vivemos pobres e morremos ricos.