Amigos, continuo no fim do mundo. Fiquei sabendo depois de chegar aqui que não existe nenhuma outra ilha no mundo que seja mais distante do continente do que o Havaí. Estou mesmo isolado. Uma ilha é sempre um lugar interessante para reflexões sobre a vida. Então aqui vamos nós.
Quando cheguei no aeroporto de Maui, encontrei um grupo de alunos que estavam chegando para o mesmo curso que eu, esperando a condução para ir para o hotel. Havia um nigeriano, dois brasileiros, um indiano, um mexicano, um panamenho. Uma verdadeira torre de Babel! Começaram as apresentações, aquele papo: “de onde você é, qual seu nome, o que você faz, quanto tempo de viagem, é a sua primeira viagem aos Estados Unidos, de que igreja você é?” e assim por diante. Cada um foi se identificando. Até chegar a vez do indiano.
“Sou médico, membro das igrejas dos “Irmãos”, cheguei na semana passada porque tinha que encontrar com algumas pessoas em Atlanta.” Ok. Entramos juntos no carro, cada um carregando sua bagagem, continuamos a conversar. Tudo muito natural. No outro dia, fomos apresentados ao restante do grupo e para nossa surpresa, o tal médico era simplesmente o coordenador geral do nosso curso, autor de vários livros, uma alta autoridade dentro do Instituto. Quebrado o gelo e passados alguns dias, numa conversa que tive com ele pelo corredor eu mencionei o incidente e lhe disse: “Todo mundo que estava naquela van ficou super sem graça quando soube quem você era, porque nós te tratamos como se você fosse um dos alunos, como todos nós.” Sua resposta foi: “Eu sei disso. Mas não havia razão para eu me apresentar de outra forma. Eu sou igual a cada um de vocês”.
Durante as aulas descobrimos que todos os nossos professores são de altíssimo nível. Só dá doutor, catedrático, médico, consultor internacional, executivos de grandes empresas, assessores de órgãos como ONU, UNESCO, UNICEF, etc. Mas a gente fica sabendo disso apenas porque na apresentação de cada um o coordenador menciona essas coisas ou porque o currículo deles é colocado no quadro e a gente pode ler. Até agora não vi um único deles se auto-denominar como “Doutor Fulano de Tal” ou “ Reverendo Não Sei das Quantas”. Nenhum deles fala demais de si mesmo. Mesmo quando dão um exemplo de sua experiência pessoal, reparo que eles estão mais dispostos a falar de seus fracassos e erros do que de seu sucesso e reconhecimento, que muitas vezes é internacional.
Eu resumo esta atitude em uma palavra: humildade. Eles não precisam fazer pressão para mostrar o que são. Eles são e pronto. A glória não precisa ficar com eles. Falar de seus diplomas, títulos e realizações não é necessário para autenticar o que dizem.
O resultado dessa postura é a conquista quase imediata do respeito por parte dos alunos, a maioria deles também líderes renomados de vários setores em seus países. Sentamos junto com eles para almoçar, tomar café, fazer compras ou ir à praia. Eles assistem e incentivam nossas intervenções ou consultas, ouvindo-nos com atenção e respeito. Eles nos tratam de igual para igual, nunca de cima para baixo.
Às vezes durante as aulas discordamos de alguma de suas opiniões ou conceitos. Eles nos ouvem, aceitam considerar um outro ponto de vista. Recebem essas participações (mesmo quando são contrárias ao que estão dizendo) como uma ajuda bem-vinda ao contexto, nunca como uma ameaça ou afronta à sua sabedoria.
Posso dizer que temos aprendido uma grande lição desses homens de Deus. Mais do que tudo o que possam nos transmitir de conhecimento e teoria, recebemos deles uma lição de como se deve administrar o sucesso, a liderança e a proeminência.
Por muito menos do que isso, tenho visto pessoas se colocando em pedestais e exigindo na base do grito que todos se curvem aos seus pés. Detonam qualquer pensamento contrário. Reputam como pernicioso qualquer que ouse discordar de suas opiniões. Têm enorme dificuldade em lidar com o contraditório. E por isso são temidos pela frente e ridicularizados pelas costas. Sem contar aqueles que falam mais de si mesmos do que da mensagem que estão pregando.
Líder de verdade não precisa se impor. Suas qualidades e virtudes aparecem sozinhas.
Direto de Maui, HI,