Plante macieiras!

Meu presente neste natal para você é uma maçã. Não a maçã do computador Apple que todos gostariam de ganhar neste final do ano, mas a maça simbolizada nas palavras de Martinho Lutero: “Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria minha macieira.”

O mundo mudou nos últimos anos, se desintegrando diante dos nossos olhos. Esta geração, cidadã de dois reinos, dois universos de pensamentos que se colidiram, experimentou o moderno e o pós-moderno. Vivemos uma década de profundas transformações marcada pelo plurarismo da globalização que cultua as diferenças; pela efemeridade que valoriza as emoções acima de tudo; pelo desconstrucionismo que valoriza a relatividade, resultando na rápida erosão dos valores morais e perigosos sinais de enfraquecimento da família como um todo; pela divergência que afirma a suspeita, a desconfiança e a consequente crise de autoridade;

pela instantaneidade que enfoca a superficialidade do momento, os amores-líquidos e a vida fluida, uma sociedade afetada pelos relacionamentos superficiais e digitais; e finalmente pelo mundo do hiper-consumismo que virou a segunda roupagem de cada um de nós. Estamos sempre comprando, comprando, comprando. Não dá tempo para sonhar, esperar, nem há mais expectativas pelo presente de Natal.

Precisamos plantar macieiras! Mas de que tipo? Deixe-me contar-lhe uma história dos evangelhos. Era uma vez um fazendeiro muito rico que teve uma colheita de elevada produtividade e fez reservas e provisões para uma colheita ainda maior no ano seguinte. Ele disse a si mesmo: Cara, você é um sujeito fantástico, tem sucesso e está prosperando. Trabalhou duro e fez por merecer tudo que veio até você. Agora relaxa, coma à vontade, beba até cair e aproveite a vida boa. Naquela noite, o Deus Altíssimo quebrou seu sentimento de segurança e disse: Tolo! Esta noite a sua alma será exigida de você; e todo esse seu patrimônio, quem desfrutará? Chegou a hora de fechar as contas diante do Deus criador dos céus e da terra.

O mundo irreal do tênis Nike, dos perfumes do Boticário, dos sorvetes Haagen-Dazs, das lojas elegantes do Shopping Center, dos jeans Calvin Klein, dos tapetes persas, do Audi e da Ferrari, da Disney, do Spa, das férias na praia, do cruzeiro marítimo, da Copa do Mundo de 2014 passa rapidamente. Os dias se tornam cada vez mais triviais e transitórios. E no final de ano isso fica tragicamente intensificado. Estamos presos num labirinto frenético de eventos e encontros, festas e formaturas. Levantamos já cansados quando o relógio determina, bombardeados por manchetes trágicas de jornal que parecem próximas e remotas ao mesmo tempo, sem tempo para orar e meditar na Palavra, nos lançamos à atividade, à busca do sucesso e à produtividade, esgotados por inúmeras operações mecânicas e técnicas. Testados pelo congestionamento crescente, ansiosamente forçados a calcular tempo e distância em nível de minutos e segundos. Guiados por laptops, telefones, GPS e todo tipo de parafernália eletrônica, mantemos nossas interações humanas superficiais e individualistas. Nossa concentração é frequentemente interrompida pelo celular e pelas reuniões urgentes. Bombardeados pelas crises, com pouquíssimo tempo para responder os eventos diários e as pessoas mais próximas com humanidade. Sufocados, apressados, confinados, temos pouco tempo para celebrar a vida, pouco tempo para beijar e abraçar, pouco tempo para adquirir sabedoria, pouco tempo para encontrar alegria, pouco tempo para aumentar o vigor espiritual da alma. Pouco tempo para sonhar grandes sonhos. Pouco tempo para plantar macieiras.

Mas, precisamos plantar macieiras, comemorando a vida com jeito certo, com significado bíblico. Talvez para você o verdadeiro sentido esteja escondido nos velhos porões da sua memória infantil ou afogado diante de tantos símbolos natalinos internacionais como papai-noel, bonecos de neve, luzes coloridas, árvores de natal, panetones e chototones, nozes, uvas passas, presentes e peru assado. Pelo amor de Deus, pare e reflita seriamente sobre o fato mais importante da história em todo o mundo: a vinda histórica e humana de Jesus Cristo, o Deus salvador.

Plante macieiras que produzam frutos para a salvação do mundo, para a glória de Deus e paz na terra entre os homens. Eis aqui a revelação mais cintilante que a estrela na manhã do Natal trouxe para você: Jesus veio, se encarnou e te chama: quer você seja um executivo de uma grande empresa ou um vendedores de carros usados; quer seja uma celebridade do youtube ou um zé-ninguém desconhecido; quer seja um santificado membro da igreja local ou viciado, vítima da AIDS. Jesus chama todos para um relacionamento gracioso e amoroso com Ele. Se você parar prá ler os evangelhos neste Natal, verá sua paixão não apenas pelos santos e intocáveis, religiosos bonzinhos e fariseus piedosos; seu amor abraçava especialmente os imundos, os irremediáveis, os caídos, os violados, os atormentados, os não-resolvidos, os inseguros, os inadequados, aqueles que passaram no vestibular e aqueles que não passaram, até mesmo os barrigudos que não conseguem fazer dieta o ano inteiro.

Como colocou Thomas Merton: “O santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus”. Tenho certeza que você já experimentou a bondade de Deus neste Natal de muitas maneiras. Reconheça que você é amado por Deus, não porque seja bom, bonito e faça o bem. Todos nós temos que lutar contra a escuridão, um Darth Vader, um Wolverine dentro da alma. Eu reconheço na minha jornada o bom e o ruim intrinsecamente misturados. No Natal, Jesus está dizendo: Você é aceito. Você é aceito, aceito por aquele que é maior e melhor que você! Não tente fazer coisa alguma. Não busque nada além de Deus, não realize nada. Simplesmente aceite o fato de que você é amado por Jesus. O mais importante de tudo é saber que Jesus, o filho de Deus nasceu no tempo e na história para mudar e transformar a história da sua vida. Plante estas macieiras neste Natal.

Notas:

Fonte: www.sepal.org.br