Ser como Maria?
Capaz!
Arriscaria eu perder o noivo
E, virgem, ser barriga de aluguel?
Jamais!
Grávida, ir de Nazaré a Belém num jumento?
De maneira nenhuma!
José que desse jeito de falar com Herodes
Pra nos liberar daquele maldito censo!
Imagine se eu me disporia
A ter meu bebê numa estrebaria!
Ah! Sem chance! Me poupe!
Senhor, eu reconheço!
Aquilo que cantei, não era tão verdade:
“Tudo a Cristo a Ti entrego…”
Não sei se sou capaz de dispor-lhe minha liberdade
Entregar-lhe todos os bens, mordomias,
Meu tempo, meus amores…
Não sei se sou capaz
De aceitar, por ti, ter dores
Sofrer perseguições,
Dar ao outro o que me fará falta…
Garanto que se não fores Tu
A me jogares na fornalha
Eu é que não entro.
E tem mais, se lá cair
Farei de tudo pra escapulir.
Se a água não me afoga
Se o fogo não me consome
No sufoco, eu nem me lembro;
Só quero sair dali.
Houve tempo, em que, valente,
Achei que tudo podia!
Me fiz forte! (inconsequente…)
Pensei que, se a muitos falasse,
Com ardor testemunhasse,
Ah, a quantos eu salvaria…
O inferno se levantou
Puxou o meu tapete
E eu, de cara, caí
Por sorte me seguravas
E o tranco bateu em ti.
Agora que estou quebrantada
Reconheço que sou nada,
Sou egoísta e medrosa,
Eis aqui: membros, tronco, cabeça
Um pouco de conhecimento
Talvez minha experiência;
(Não sei que farás com isto
Mas como és Deus de milagres…)
Coloco no Teu altar.
Toma o que tenho em tuas mãos
Já podes, Senhor, com minha vida,
Do Teu jeito, trabalhar!