Amigos, é sempre uma festa maravilhosa ver o Corinthians perder. Seja para quem for, quando for, do jeito que for. É coisa que não se pode deixar passar em branco. Já tínhamos tido uma semana de gala com a desclassificação nos pênaltis diante do “poderosíssimo” Figueirense. Domingo foi só a pá de cal.
Que me desculpem meu amigo Mário Machado e meu cunhado e amigo Clóvis Jr, que não têm entre suas virtudes a de escolher bem seu time de futebol. Os “gambáticos” podem até vir a ser campeões um dia. Por enquanto eles seguem dando uma alegria atrás da outra. Para as outras torcidas, é claro.
O que mais chamou a atenção nos episódios lamentáveis proporcionados por parte (sejamos justos, mesmo em se tratando de corintianos) da torcida que compareceu ao Pacaembu para assistir ao massacre, quero dizer, ao jogo, foi aquele torcedor chorando desesperado no alambrado. Típico. E pelo andar da carruagem, ele vai ter ainda muito motivo para chorar. Que tenha cada vez mais.
Como classificar aquela atitude? Heróica? Emocionante? Irracional? Exemplar? Sintomática? Emblemática? Prefiro usar outros termos para defini-la. Até porque vivemos em um país em que milhares de pessoas passam fome todos os dias e ninguém chora por elas. Temos um desemprego assustador e ninguém dá entrevista chorando por isso. Não vejo alguém se descabelar pela existência nefasta e perversa de um presidente da Câmara, por nome de Severino.
Ninguém chorou pelo aposentado que morreu na porta da clínica no Rio de Janeiro. Ninguém chorou pelo bebê que foi abortado pelos pais, com o aval da justiça da Bahia. Ninguém chorou pelas crianças assassinadas na Rússia no ano passado, cenas que até hoje ficam minha retina. Ninguém chorou pelo engenheiro seqüestrado no Iraque. Ninguém chorou pelas crianças que nem sabiam o que significavam as canções de amor que as outras cantavam no dia das mães. E agora o cara vai chorar porque o seu time perdeu um jogo de futebol que não valia nada? Ora, me poupem!
Essa história serviu para mim pelo menos para uma coisa. Rever a minha “teologia do choro”. Faz algum tempo que eu presto atenção às pessoas que choram na Bíblia. Pode parecer um estudo meio “deprê”, mas é bastante revelador. Faz a gente usar nossas próprias lágrimas com mais critério, digamos assim. Faz a gente não desperdiçar esse manancial precioso que Deus nos deu.
Você é capaz de se lembrar qual foi o motivo que o levou a chorar nas últimas 3 vezes em que isso aconteceu? Esse exercício poderá ajudá-lo a compreender muito a respeito dos seus valores, conceitos, prioridades e maturidade (vê-se logo que esses requisitos no corintiano em questão encontram-se em baixa).
Veja alguns exemplos bíblicos famosos de gente chorando:
- Esaú (Gn 27:28): o choro do profano
- José (Gn 45:2,14;15): o choro do reencontro
- Ana (I Sm 1:10): o choro da súplica
- Os amigos de Jó (Jó 2:12): o choro da tragédia
- Jeremias (Jeremias 9:1): o choro do sofrimento
- Neemias (Neemias 1:4): o choro do desalento
- A mulher pecadora (Lc 7:38): o choro da contrição
- Pedro (Lc 22:62): o choro do arrependimento
- Maria Madalena (Jo 20:11): o choro da desatenção
- Jesus (Jo 11:35): o choro da sensibilidade
- João (Ap 5:4): o choro da limitação humana
Sugiro que você pegue cada exemplo bíblico citado e outros mais que há e faça seu próprio estudo. Há muitos outros, é claro, porque a Bíblia é Deus se revelando a pessoas, a seres humanos, de carne, osso e… lágrimas. Tente descobrir o porquê dessas lágrimas derramadas, nas mais diversas circunstâncias. Você vai perceber que existem motivos nobres e motivos ignóbeis. Há lágrimas sinceras, derramadas na presença do Senhor, que chegam a ser, elas mesmas, um ato de adoração e entrega. Há também lágrimas de raiva, de remorso, de desencanto da vida, de falta de rumo e propósito. Tudo depende de como está o coração de quem chora.
Tenho visto cristãos chorando por coisas absurdas, igualzinho ao torcedor aloprado do Pacaembu. Tem gente chorando porque o time perdeu, porque o dólar caiu, porque o salário não aumentou, porque os amigos não o convidaram para almoçar, porque seu nome não está na escala, porque o escolhido para a classe da escola dominical foi outro, porque não é chamado para cantar, porque o pecado do filho está sendo tratado pela igreja, porque seus interesses foram contrariados, porque não conseguiu namorar o fulano ou a fulana, porque os clientes não estão chegando, porque perdeu o emprego e por aí vai.
Não é que não possamos chorar por pelo menos algumas dessas coisas. O que intriga é que não conseguimos chorar por OUTRAS coisas. Não temos lágrimas em estoque pelos que tropeçam e caem, pelos que não demonstram interesse nas coisas espirituais, pelos líderes sem visão, pela politicagem que grassa o meio cristão em todos os níveis, pela falta de maturidade do cristão médio atual, pelos lares cristãos destruídos pelo adultério, pela “incompatibilidade de gênios”, pela priorização das carreiras profissionais, pelos jovens cada vez menos puros e mais entregues às suas próprias paixões, pelos que usam o nome de Deus para justificar suas escolhas erradas e assim por diante.
Somos muitas vezes como um corintiano em desespero, chorando à toa agarrado ao alambrado de um campo de futebol.