“… não havia lugar para eles na hospedaria.” [1]
16h00
– Doutor, venha rápido. Emergência.
– Qual é a idade?
– Quatro anos
– O que houve?
– Ela começou a ficar roxinha…
– Parada cardíaca. Preciso de oxigênio aqui… iniciar massagem cardíaca. Dois acessos venosos já! Um e dois e três e ventila, Um e dois e três e ventila. Voltou. Os batimentos estão finos. Iniciar dopamina endovenosa.
– Os movimentos respiratórios estão presentes.
– Mantenha oxigenioterapia. Pode ser um choque séptico ou uma hemorragia aguda. Como se chama mesmo esta criança?
– Shelcier.
– O que houve mesmo com ela?
– Bem doutor, ela amanheceu hoje vomitando. Vomitou durante quase uma hora inteira e aí começou a ficar toda mole e com a boca roxa. Demoramos um pouco para trazê-la.
– Nós vamos colher alguns exames agora e solicitar uma vaga na UTI para internar a pequena Shelcier. Assim que conseguir a vaga transferiremos a criança.
Recebi esta criança a poucos dias atrás em um plantão de urgência. Seu estado era realmente grave. Ela respondeu bem à terapia com soro de rehidratação venoso e a dopamina (medicação usada para aumentar a força dos batimentos cardíacos). Seus exames mostravam um desequilíbrio de alguns sais minerais, mas nenhuma infecção. O quadro, contudo, não havia se estabilizado completamente.
Já passava das 21 horas e ainda a vaga na UTI não havia sido liberada (5 horas desde o início do atendimento). Tentei contactar o plantonista da UTI na esperança de transferir Shelcier para uma enfermaria comum – pelo menos estaria dentro de um hospital, onde qualquer intercorrência seria melhor atendida. Por telefone o atendente do hospital me disse que não poderia receber esta criança porque a UTI estava lotada e eles não poderiam colocar esta criança em uma enfermaria comum. Não havia lugar para Shelcier.
Deixei o plantão as 23h40. Shelcier estava compensada, embora seu quadro continuasse gravíssimo. Já estava conversando e pediu para tomar água. Seus lábios estavam rosados, o pulso estava forte. Ainda assim ela precisava de uma internação, pois provavelmente o quadro sugeria alguma infecção. Mas não havia lugar.
Shelcier foi internada após pelo plantonista que me seguiu, após várias outras tentativas frustradas. Um mês após toda história, estive com um parente próximo que me disse que havia se tratado de uma pneumonia por um germe bastante perigoso chamado estafilococo. Ela ficou na UTI por vários dias, perdeu peso, mas foi completamente curada, após administração de toda medicação necessária.
Este caso me fez lembrar do nosso Senhor… “Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” Mateus 8:20 Não havia lugar para que Jesus nascesse… Não havia lugar para que, durante Seu ministério, repousasse… Não havia lugar para sepultar seu corpo…
Não havia lugar para Shelcier. No momento em que ela precisava de socorro, quando suas forças vitais davam sinais de fraqueza não havia lugar para Shelcier repousar. Shelcier se identificou com o Senhor Jesus. Mais do que qualquer um, Jesus sabia o que era não ter um lugar para ficar. Ele sabia o que era ter que dormir em casas alheias, nascer em uma gruta, ter um ministério itinerante.
Podemos aprender algumas coisas com isto:
Jesus não tinha um lugar para repousar porque ele sabia que Seu Reino não era deste mundo. “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36). Jesus negou todas as artimanhas satânicas que o tentaram para exercer um reino terreno.
Jesus queria ocupar um lugar de destaque na vida de cada indivíduo. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). Jesus deseja que seu coração se abra e ofereça morada para Ele. Não, isto não é uma metáfora… Quando nós cremos em Jesus Cristo e recebemos o Seu sacrifício por nós na cruz, o Espírito Santo passa a habitar em nós (“Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” [2]).
Jesus conhecia o melhor lugar para estar. “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também.” [3]. Ele sabia que o mundo não podia oferecer todas as coisas que Ele desejava dar para aqueles que fossem Seus – aqueles que não Lhe negaram uma morada em seus próprios corações. O melhor lugar do mundo não é o céu, como você pode estar pensando. O melhor lugar do mundo é onde Jesus está. Estar com Jesus é estar no Melhor Lugar do mundo!
Não havia lugar para Shelcier…
Não há lugar para Jesus neste mundo.
Há lugar para Jesus na sua vida? Seu coração está pronto para receber as águas refrescantes da presença de Deus? Abra seu coração para Jesus agora mesmo. Não perca tempo. Assim como Shelcier, Jesus está aguardando ansiosamente um lugar na sua vida. Ao contrário de Shelcier, no seu caso, o doente é você e não Ele, quem tem pecado para ser perdoado, ferida para ser fechada, é você. Abra seu coração para Jesus neste instante e viva com Ele para sempre no MELHOR LUGAR DO MUNDO.
Até a próxima.
Notas:
[1] Lucas 2:7 [2] 1 Coríntios 6:19 [3] João 14:2-3
