Desde que vim morar em São Paulo, não consigo parar de ficar indignado com esse trânsito maluco. Fui criado e aprendi a dirigir no interior onde a maioria das pessoas dirige bem devagar e todo mundo espera todo mundo nos cruzamentos. Cheguei aqui já preparado para enfrentar algumas barras no trânsito, mas não imaginava que fossem tantas.
Acredito que não só em São Paulo, mas em todas as grandes cidades do Brasil, o trânsito também enfrenta grandes dificuldades. Isso é causado pelo crescimento das cidades que não possuem estrutura para suportar tantos carros nas ruas. As centenas de viadutos de São Paulo, as novas vias que nascem a cada dia e os guardas amarelinhos que estão em praticamente todos os cruzamentos, não são o suficiente para recepcionar com ordem tantos veículos.
Se isso não bastasse, ainda existe o que eu considero ser o maior problema do trânsito das metrópoles: o próprio motorista. Aqui só se dá bem quem é esperto, aquele que desrespeita as leis e ultrapassa pelo acostamento quando existe uma fila enorme esperando por uma seqüência de semáforos. Quando mudei para cá, notei que os carros mudam de faixa apenas ligando a seta enquanto já estão fazendo a manobra. Agora tenho cada vez mais certeza de que nem seta precisa mais. Eles vão entrando sem ao menos ver uma brecha, e você, que não quer ver seu carro amassado, é obrigado a frear e permitir sua deselegância com muita paciência.
Para completar como uma cereja em cima do bolo, ainda existem os motoqueiros. Ah, os motoqueiros! Para esses, as leis de trânsito são apenas uma série de normas para distrair crianças malcriadas e dar emprego a algumas pessoas. Eles conseguem superar até a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Você precisa orar todos os dias antes de sair de casa para não se envolver num acidente com motociclista pois, se você simplesmente tocar o pneu de uma moto, saem motoqueiros até do bueiro para intimá-lo.
Dirigir em São Paulo é um exercício de fé. Você precisa exercitar sua paciência, sua compreensão e seu domínio próprio. Além disso, você precisa resistir à tentação de ser como os motoristas “experientes”. Afinal, eles são bem-sucedidos, nos ultrapassam com aquele ar de “olha como sou espertão!” e nunca chegam atrasados.
Parece que eu só vou conseguir chegar em tempo nos meus compromissos quando aprender a malícia do trânsito de São Paulo: quando eu parar em fila dupla, quando eu não der mais preferência para os pedestres na faixa ou quando eu não me importar mais com as multas que chegam por furar o sinal vermelho ou ultrapassar o limite de velocidade. Não quero isso para mim. Prefiro sair mais cedo de casa.
Dizem que existem três situações para avaliar o caráter de um homem: como ele trata a família, como ele se comporta jogando futebol e como ele reage no trânsito. Acima de tudo, somos cristãos. Em todas as situações devemos refletir o brilho de Cristo. Não tem porque acharmos que precisamos ser cristãos só quando somos observados por outros irmãos. Somos observados por Cristo em todo o tempo e, se não formos íntegros onde estivermos, não somos dignos de levar o Seu nome.