Amigos, desculpem a ausência. Estive fora do ar por algum tempo, pelos chamados “motivos de força maior”. Não sei definir muito bem de quem era a força. Acho que era mais uma “falta de força maior” que me impediu de ter pensamentos alinhavados que resultassem em um artigo minimamente coerente e inteligível.
Muita gente já sabe, mas pela segunda vez em menos de 50 dias tive o desprazer e a tristeza de ser assaltado, ou furtado, subtraído por meliantes ou sei lá o nome que se queira dar a isso. É interessante como a polícia faz tanta questão de dar o nome certo ao delito, mas só para alimentar corretamente as estatísticas. Porque no final, tenha sido furto, roubo ou arrombamento, o que eu sei é que em algumas horas, perdi alguns milhares de reais em eletrônicos e outros equipamentos, a maioria dos quais será muito difícil recuperar ou repor.
Da última vez, foi-se também o computador, com todo seu precioso (pelo menos para mim) arquivo de dados. Tudo, tudo. Esta é a razão das minhas férias forçadas. Pela bondade do nosso amado editor, que não me cobrou nenhuma vez, entendendo minha situação, fiquei umas duas semanas sem escrever em Colunet. Bem, dos males o menor.
Aprendi algumas coisas sobre o que fazer quando isso acontece com algum amigo ou pessoa próxima, especialmente se ele for um cristão. Compartilho com você.
Primeiramente, é bom lembrar sempre que essas coisas acontecem com todos os tipos de pessoas. Cristãos ou não. Costumamos nos lembrar de que “a chuva cai sobre o campo do justo e também sobre o campo do ímpio”, mas esquecemos de que quando a seca vem sobre o campo do ímpio, também vem sobre o campo do justo. Quando cai a chuva de pedras sobre a plantação do perverso, no vizinho piedoso acontece a mesma coisa. Estamos sujeitos a algumas leis e condições, uma vez que vivemos em um mundo decaído, que independem do nosso caráter ou da nossa posição diante de Deus. Estou completamente seguro ao afirmar que não foi a vontade de Deus que os gatunos limpassem minha casa e um mês depois meu escritório. Conheço o meu Deus e sei que quando isso aconteceu ele não cutucou Gabriel e disse: “olha lá, Gabi, roubaram o tonto de novo”. Isso não cabe no seu caráter. Você pode culpar o governo, a pobreza, a fome, a polícia, a safadeza, o tráfico de drogas, quem você quiser. Mas Deus não pode receber qualquer parcela de culpa nisso, por menor que seja.
Lição nº 1: Deus não é obrigado a correr atrás de mim o tempo todo, como se fosse um guarda-costas.
Depois, é bom evitar ser o arquiteto de obras acabadas. Eu gostaria que 10% das pessoas que me disseram “você tinha back-up?” tivessem me ligado na quinta-feira antes da Páscoa para perguntar isso. Agora eu sei que o back-up estava desatualizado há 5 meses e que eu não poderia ter cometido uma bobagem dessas. E já que sei, não preciso que os iluminados, porém atrasados, sabe-tudos da vida, me dêem lições póstumas. Agora a Inês é morta. Não há nada que se possa fazer, a não ser ir dormir algumas horas mais tarde enquanto se tenta re-estabelecer algum nível possível de normalidade.
Lição nº 2: Quem chega atrasado, não pode ajudar em nada. Se quer ajudar, chegue antes da hora.
Também não ajuda muito vir com uma lista de versículos. Eu conhecia todos os que me foram citados. Romanos 8:28 foi o campeão. Outros lembravam, movidos pela sensação de impotência diante do quadro, que o fim desses bandidos será terrível. Deus há de tratar com eles, esses vagabundos, ordinários, maconheiros e… Sabe de uma coisa? Se Deus me ligasse hoje à noite e me perguntasse: “o que você quer que eu faça com esses indivíduos que subtraíram sorrateiramente os bens que lhe pertenciam?” eu diria: “faça o Senhor o que bem lhe aprouver. Mas se tiver jeito, peça para eles devolverem pelo menos a CPU, porque eu não tinha back-up.” Saber que o fim do ímpio é trágico não representa qualquer tipo de consolo e não repõe as perdas e danos.
Há outros que querem descobrir a razão de tudo isso. Divagam desde conclusões pseudo-teológicas, até impressões pessoais e achismo barato. Parece existir gente que sempre tem que falar alguma coisa, dar uma resposta, fazer um discurso, mesmo que ninguém tenha pedido. Esses dias, as respostas mais confortadoras para o meu coração foram a de dois amigos, que não sabem ainda (imagino eu) que deram a mesma resposta. Eles certamente lerão estas palavras na coluna e saberão de quem se trata. Eles disseram simplesmente algo assim: “NÃO RESPONDI NADA ANTES, PORQUE NÃO SABIA O QUE DIZER”. Não me entenda mal. Não estou dizendo que a Bíblia não conforta o aflito ou não serve para esses momentos. É só uma questão de lembrar dos amigos de Jó. Vieram de longe, sentaram-se e ficaram quietos por 7 dias. Teriam entrado para a história se fizessem isso. Mas resolveram explicar a situação. E embora falaram muita coisa correta sobre Deus, falaram para a pessoa e para a situação errada.
Lição nº 3: Um “NÃO SEI” sincero e prático vale mais do que uma lista de versículos e explicações, quando não se sabe o que dizer.
Muita gente queria saber se eu tinha ficado triste com a situação. Ora, é evidente que sim. Muito triste e até meio perdido. De repente, você coloca todas as informações da sua vida numa caixinha de plástico e da noite para o dia, ela some. O que você quer sentir? Alegria? Regozijo? Vai querer sair com os amigos para comemorar? Se você é um cristão, mas ainda um ser humano, vai sentir o baque. Desculpem se ao dizer isso estiver escandalizando aqueles hiper-heróis da espiritualidade cristã, que não se abalam, estão proibidos de questionar o que não entendem e têm medo de dizer a Deus o que estão sentindo. Se bem que esses, creio eu, nem estariam perdendo tempo de ler um site cristão, porque não precisam aprender mais nada. Já estão vivendo da “espiritosfera”. Não contentes em não serem mais deste mundo, agora nem querem mais ser deste planeta. Os outros que ainda restaram aqui, terão dificuldades e algumas vezes se entristecerão com os acontecimentos da vida. Claro que não vão ficar chorando o resto da vida. Depois de uns dias, passa. Aí você se levanta e começa de novo. Até a próxima topada.
Lição nº 4: Nunca tenha medo de ser sincero com Deus, mesmo que isso pareça à primeira vista um desrespeito.
Não tenho nenhuma dúvida de que Deus prefere muito mais um lamento sincero do que um hino falso.
Um amigo me disse um dia desses que Deus às vezes fala conosco. Outras vezes ele “grita” conosco.
Lição nº 5: Esta é só minha. Talvez um dia eu possa lhe contar. Não fique curioso. Isso não faz bem para o fígado.
Pensando bem:
“Ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam”. Jesus Cristo