Amigos, mudei. Não mudei de idéia, nem de time, nem de igreja. Mudei de casa, mesmo. Aliás, eu vou requerer minha inscrição no Guiness: o cara que mais mudou de endereço em 10 anos. Dá quase uma mudança por ano. Já estou pegando o jeito. É passar no Pão de Açúcar, pedir caixas de Omo vazias, preparar um caminhão e as costas para um dia de intenso labor. Depois disso, mais alguns dias para colocar tudo nos armários novos, outros tantos para se acostumar e lembrar onde são as novas gavetas de cuecas e tudo bem. Toca o barco.
No fundo, há algo em mudanças que me fascina. Por exemplo, é muito bom poder mudar de vista e de vizinhos de vez em quando. Faz-me lembrar da poesia que aprendemos no primário. “Houve um tempo em que a minha janela se abria para um jardim.” Dessa vez, do sétimo andar a janela do meu quarto se abre para a janela do prédio em frente, é verdade. Mas a janela da sala ainda me permite uma boa visão do bairro Nova América, Jardim Elite e adjacências. Nada mal.
Além disso, mudar de casa nos obriga a rever tudo o que você tem acumulado em vão ao longo dos anos. Não estou falando de bens úteis como eletrônicos, eletrodomésticos, computadores e coisas pelo estilo. Até porque, desta vez os ladrões que entraram em casa ajudaram a diminuir o volume desses equipamentos. Mas a papelada que a gente vai ajuntando não é brincadeira. Cartas, convites de casamento, de formatura, boletins de igrejas do Brasil inteiro, cartazes de propaganda, mala direta da Telefônica, carnezinhos das Casas Pernambucanas, contratos de aluguéis vencidos, notas fiscais de produtos que nem me lembro mais onde estão, termos de garantia e mais um monte de impressos que sabe-se lá porque a gente não jogou fora ainda. Nada melhor do que uma mudança para se desfazer desse lixo todo. E aí você toma a célebre decisão de nunca mais juntar coisa à toa. Bobagem. Daqui a um mês, vai ter outro tanto. Só esperando uma nova mudança.
Por mais incrível e desconexo que pareça, isso me fez lembrar a história que Jesus contou sobre o homem que do seu depósito tira coisas novas e coisas velhas. Ele comparou esse camarada ao escriba versado no reino dos céus. Pode não ser a melhor interpretação da parábola, mas para mim, depois da enésima mudança, este versículo de repente passou a fazer mais sentido. Até porque, não foi só porcaria que eu achei guardado nos meus armários. Encontrei coisas que passei alguns dias procurando e que tinha dado como extraviadas. Reencontrei anotações, apostilas, mensagens antigas, livros, recordações da infância ou de pessoas queridas, bilhetes, demonstrações de carinho. Coisas essas que no vai-e-vém da vida a gente acaba deixando escondidas no fundo do baú.
Para aprender melhor sobre o reino de Deus é necessário de vez em quando dar uma mexida em tudo isso. Trazer à tona as coisas que guardamos em nossa vida, sejam novas ou velhas. Jogar fora o que não presta e guardar com muito carinho aquilo que é bom. Agregar valor à nossa existência com as coisas boas que já vivemos e desfazer-nos o quanto antes daquilo que não servirá para nada.
É interessante que muita coisa que hoje não vale nada, já foi importante e necessário guardar. Por exemplo, joguei fora uma meia dúzia de documentos de carro. Agora, não servem para nada. Mas na época em que foram emitidos podiam significar a diferença entre seguir viagem ou ter o carro apreendido. Assim é a vida. Tem coisa que ontem foi e hoje não é mais. A sabedoria da vida está em saber o que reter e o que descartar. Assim é o Reino de Deus. Dinâmico, vivo, um constante movimento na direção de novas e ricas experiências com Deus. Nunca se esqueça de que a igreja primitiva era conhecida como “a Igreja do Caminho”, porque ela nunca ficava parada. Quem fica parado é poste. E mesmo assim, para carregar energia para os lugares mais distantes.
Mude você também e descubra o fascinante mundo do depósito de coisas novas e coisas velhas que podemos manter nas gavetas da nossa vida.