Amigos, de fatos inusitados se faz a vida. Veja a que ponto pode chegar a imbecilidade e a impáfia do ser humano. Um juiz de direito no Rio de Janeiro entrou na justiça para exigir ser chamado de “doutor” ou “senhor” pelo porteiro do prédio. Ele ficou indignado ao perceber que o porteiro chamava a síndica de “senhora” mas quando se dirigia a ele, chamava-o simplesmente de “você”. Exigiu mudança no tratamento, no que não foi atendido pelo funcionário do condomínio. Irritado, foi às barras do Tribunal. Em primeira instância, o magistrado que julgou o caso considerou o pedido improcedente. Mas um desembargador reviu a sentença e criticou a decisão, porque, segundo ele, o juiz “não proveu a antecipação de tutela ao colega”. Pela descrição feita pelo próprio autor, sua vida é de total reclusão ao seu apartamento, uma vez que ele faz questão de dizer que não mantém qualquer tipo de relacionamento com qualquer um dos condôminos. Em linguagem popular, o camarada é um chato de galochas. Um intragável.
Fiquei pensando como será o seu epitáfio: “Aqui jaz o ILUSTRÍSSIMO SENHOR DOUTOR MERETÍSSIMO Fulano de Tal, ora carcomido por vermes que se apoderaram de sua distinta carcaça. No presente estado, data venia, iguala-se aos mortais que nunca ostentaram quaisquer títulos ou honrarias, mas que ocupam jazigos nas cercanias de sua última morada. Requer-se ao emérito defunto a designação que, em vida, foi-lhe assegurada pela Justiça brasileira.” Como disse o porteiro ao saber da exigência de chamar o homem de “Doutor”: “Fala sério, aê!!”
Realmente existem pessoas de carne e osso que são assim. Parece inacreditável, mas não é.
De fato, essa atitude é muito mais comum e próxima de todos nós do que podemos pensar. Alguns, devido à cultura e acesso à informação que possuem, conseguem chegar mais longe no extravasar do seu orgulho, arrogância e prepotência. Outros, não podendo ir a tal extensão, despejam tudo isso nos outros de maneiras mais sutis ou comuns.
É o caso, por exemplo, daqueles que, frustrados com o seu desempenho na vida, fazem da igreja seu curral e, tal como o caso daquele servo infiel que passou a espancar seus conservos enquanto o senhor viajava, desprezam, insultam, agridem e ameaçam seus irmãos. Quanto disso temos nas igrejas desde o tempo de Diótrefes! São aqueles que exigem respeito, mas não se dão ao respeito. São aqueles que falam (ou escrevem) grosso, mas são covardes e fogem do assunto quando argüidos diretamente. São aqueles que acham que por causa do seu poder econômico ou de sua influência entre os mais simples podem exigir o melhor tratamento, olhando os outros de cima para baixo; acham que podem falar o que quiserem, sem que ninguém tenha o direito de contestar ou responder; colocam-se na condição usurpada de “guardiões da verdade”, como se alguém a tivesse concedido.
No afã de preservar seu status são capazes de tudo. Até de entupir a justiça (ou os púlpitos) com questiúnculas de objetivo exclusivamente pessoal, que não levarão a lugar nenhum e que têm como único alvo agradar seus próprios ventres. Como abutres famintos, fuçam a podridão de seus próprios interesses mesquinhos. Esquecem-se, porém, de que um dia todos os desígnios virão à luz. Toda tentativa de intimidação e amordaçamento dos semelhantes será julgada. Deus não é cego, lento e ineficiente como a justiça humana. Desde Hagar, já se sabe que “o Senhor é Deus que vê”.
O que será que tem na cabeça um homem que faz isso? Onde será que ele quer chegar? Uma coisa é certa: mesmo que ele esteja coberto de razão e que a justiça lhe dê ganho de causa, você pode imaginar qual será a reação de seus vizinhos. Dá para se ter uma idéia da imagem de intolerância e altivez que já ficou impregnada à sua pessoa. É assim mesmo que acontece. Cada vez que alguém toma uma atitude dessa natureza no nosso meio, mais vai ficando claro quem é quem. Quais são os objetivos, onde se quer chegar e o que move muita coisa que é feita, escrita e pregada por muitos “ministros” nos nossos dias. Afinal, ninguém é tão bobo quanto se pode pensar.
Pelo menos tem essa vantagem. Cada dia está ficando mais fácil para saber de quem a gente tem que passar longe.
Pensando bem:
“Os médicos nos ensinam como o homem é fraco; os professores nos ensinam como o homem é ignorante; os advogados nos ensinam como o homem é cachorro” Carlos Aimar, comentarista de futebol nos anos 70.