Por convicção ou por conveniência?

Amigos, estamos mais uma vez em plena campanha eleitoral municipal. Cada vez mais, a propaganda se torna a alma do negócio político. O que vale mesmo hoje em dia não é exatamente o que o candidato é, mas o que ele parece ser. É preciso estar em evidência, aparecer mais no horário da TV, ter mais dinheiro para panfletagens, comícios, shows, favores e populismo. O chamado “marketing pessoal”, a valorização da apresentação do candidato, toma o lugar ou, na melhor das hipóteses, ocupa o mesmo lugar das propostas e idéias.

Em meio à farta criatividade dos responsáveis pelas campanhas, criou-se a figura das mocinhas e mocinhos nos semáforos, tremulando bandeiras dos partidos. É uma festa. Parece a abertura das Olimpíadas. Fecha o sinal, eles surgem aos bandos, desfilando na frente dos carros. Não sei se os partidos realmente imaginam que alguém vai definir seu voto por causa delas, mas o fato é que elas estão em todos os semáforos, de todas as cidades do país.

O mais interessante disso tudo é perceber o ânimo desses militantes profissionais. Se você passa às 7 da manhã, eles estão animadíssimos, eufóricos quase. Passa na hora do almoço, já não se vê tanto entusiasmo. Agora, lá pelas 3 da tarde, a coisa avacalhou de vez. Eles torcem para o farol abrir logo, para que possam sentar-se na beira da calçada. Um dia desses uma delas estava apoiada sobre o mastro da bandeira, com uma cara tão feia que dava medo. Eu pensei: “se o candidato dela tiver toda esta vontade, ai de nós se ele for eleito”.

Tudo isso se explica facilmente. Poucos ou talvez nenhum desses propagandistas de semáforo está ali porque acredita no que está fazendo. Com esse desemprego todo, até bandeirinha do Maluf a gente carrega para ganhar uns trocados. Não são mais aqueles meninos de 12 ou 13 anos que trabalham nisso. Tem um monte de pai e mãe de família que aproveita a chance de ganhar algum trocado nessa época, porque a coisa não está fácil. Eles não estão ali porque são politicamente conscientes. Para eles tanto faz o perfil, a competência ou a coerência dos seus candidatos ou a ideologia dos seus partidos. Se o partido concorrente pagar cincão a mais por dia, lá vão eles, na hora. Não tenha dúvida disso. Seu trabalho não é motivado por convicção. É motivado única e exclusivamente por interesse. Nenhum deles daria a vida pela causa que carregam na bandeira. Ninguém estaria disposto a sacrificar nada por isso. Se amanhã o coordenador da campanha não lhes pagar a diária, eles simplesmente não vão aparecer. Nem relógio trabalha mais de graça. Até eles cobram a bateria para funcionar.

Que grande diferença existe entre fazer qualquer coisa na vida porque estamos convencidos de uma verdade, especialmente uma vez que tenhamos provado esta verdade em nossa própria experiência e fazer porque ouvimos dizer, ou porque isso nos traz alguma vantagem ou benefício. No primeiro caso, daremos tudo de nós. Lutaremos até o fim, correremos riscos, enfrentaremos adversidades, aceitaremos desafios. No segundo, é mato ou morro. Ou corremos para o mato ou corremos para o morro. Lutar, para quê? Como é que eu vou me esforçar, se agora a mamata acabou e se eu não tenho nenhum compromisso com a coisa?

Infelizmente, tem muita gente na igreja de Cristo que não definiu ainda porque está ali. Não sabe se está porque deveria estar ou se é porque tem algum interesse passageiro. Fica balançando a bandeira no semáforo só enquanto está recebendo o sanduíche e os 10 reais por dia. Se precisar colocar alguma coisa do bolso, cai fora. Se precisar renunciar alguma coisa, não conte com eles.

Ficam por ali enquanto as amizades, as paqueras, as programações, o agito da galera, a boa qualidade musical, as piadas do pregador ou qualquer outra coisa lhes atraia a atenção. Não porque estão transformados pelo poder do Evangelho. Não porque tenham chegado à conclusão de Pedro: “para quem iremos, Senhor? Só Tu tens as palavras da vida eterna”. Não porque reconhecem que a vida cristã é muito melhor e muito mais interessante do que a escravidão das baladas, dos vícios, das noites sem dormir, do sexo livre, das ficadas, da conversa frívola, da rebeldia e da imoralidade.

O que vai acontecer com essa gente depois que a eleição passar?

Pensando bem:

“Muitos líderes conseguiram fazer seus liderados matar por eles. Poucos conseguiram fazê-los morrer por eles” Andrew Roberts , em “Hitler & Churchill: Segredos da Liderança”