Um chamado à dependência

Amigos, hoje acordei com uma estranha sensação. O fim-de-semana foi bastante proveitoso, participei de reuniões e cultos de bom nível, fui alimentado pela Palavra, conversamos bastante sobre o futuro, sobre ministério, sobre a vida da igreja, sobre as necessidades de tornarmos nossas ações dentro do Reino cada dia mais eficientes. Há tanta coisa para ser feita, tantos objetivos a serem alcançados, tanto serviço. Há, de outra parte, muito ânimo e disposição, uma equipe comprometida, uma mentalidade nova se formando. Problemas a serem endereçados, orçamento a ser cumprido, pessoas a serem visitadas, pecadores a serem evangelizados, recém-batizados a serem discipulados. Perspectivas de crescimento, de avanço, de conquista, de ampliar as cordas da tenda.

Gosto disso. Gosto de ver as coisas acontecendo e a igreja avançando. Não, não. Não temos G12 na nossa igreja. Quem anda dizendo isso por aí não nos conhece e felizmente, nós também não os conhecemos. Não queremos ficar do mesmo tamanho a vida inteira, mas queremos o crescimento que venha de Deus.

Aí é que entra a tal sensação. Uma vontade intensa de abrir o coração diante do Senhor e agradecê-lo porque “Ele” conhece a minha estrutura e sabe que sou pó”. Uma necessidade quase física de chegar diante de Deus e dizer “se o Senhor não for conosco, não nos faça sair deste lugar”. Uma consciência que invade seu ser e faz você clamar a Deus, declarando sua mais profunda dependência dEle. Você começa a entender o que significam as palavras de Jesus “sem mim nada podeis fazer”. Nada mesmo. Nem um planejamento. Nem uma reunião. Nem um relatório. Nem um estudo bíblico. Nem uma pregação. Nem um ensaio. Nem uma apresentação. Nada. Absolutamente nada.

Que bom que é assim. Porque se dependesse da nossa capacidade intelectual, da nossa força física, do nosso tempo, nada aconteceria. Ouvi alguém dizer uma coisa muito interessante esta semana: “Tudo o que você ouvir de mal a meu respeito, acredite. E saiba que pode ser muito pior. Provavelmente fui eu mesmo quem fez. Agora, o que você ouvir de bom, não leve em conta. Porque se alguma coisa boa sair de mim, é puramente a graça de Deus agindo em minha vida”. Gostei disso. São palavras sábias. São o reconhecimento da nossa mais profunda incapacidade de fazer qualquer coisa por nós mesmos.

Que bom que eu não preciso ter todas as respostas. Aqueles que conheço que acham que as têm, me decepcionam a cada dia. Aqueles de cujos lábios nunca ouvi a expressão “não tenho certeza” e de cujas bocas nunca ecoaram as três palavrinhas mágicas que abrem a porta do conhecimento e da sabedoria (“EU NÃO SEI”), mas que se consideram os “sabe-tudos” da História do cristianismo, esses não têm me ajudado muito ultimamente. Acho que é porque quando eles não têm uma resposta de Deus, eles inventam uma. “A Bíblia ensina isso claramente”, dizem. Vou para a Bíblia e nem sempre acho isso lá. Estou aprendendo a cada dia a não ter vergonha de assumir que não sei tudo. Não preciso saber. Não vou saber.

Que bom que não preciso fazer tudo sozinho. Por esta razão Deus me plantou em uma comunidade, em um corpo, em uma vinha. Para me ensinar a valorizar o serviço do outro, o dom do outro, a participação do outro. Não preciso achar que só o que eu faço é bom e imitável e que, se eu não fizer, não sairá bem feito. Aliás, muito ao contrário, tenho conhecido e convivido com pessoas que fazem muito melhor do que eu poderia sonhar em fazer. Não preciso ter ciúmes deles. Não preciso me preocupar em “puxar o tapete” de ninguém. Ninguém me faz sombra no Reino de Deus, porque aqueles que estão servindo a Deus de coração, estão preocupados somente em deixar brilhar o Sol da Justiça em cima deste mundo corrompido. Tenho mais é que torcer, vibrar, ficar muito contente quando vejo pessoas desenvolvendo seus dons e consagrando seus talentos para a realização da obra de Deus.

Que bom que não sou o único a ver isso. A cada dia que passa, vejo Deus levantando pessoas por todos os lados, preocupadas com o presente e olhando para o futuro. Desprendendo-se de “identidades”, de “rotulações”, de “embrulhos para presente” através dos quais pretendemos gerir a igreja, como se fosse ela o nosso negócio particular, e não o projeto eterno de Deus. Tem muita gente boa e interessada no progresso do Evangelho genuíno. Gente que não se vende nem se entrega por interesses. Gente que sabe que não vai transformar este país gritando palavras de ordem na avenida, nem vendendo amuletos “ungidos” para enganar o povo, nem, por outro lado, trancando-se nos guetos do tradicionalismo e do engessamento e do cerceamento da liberdade do Espírito no meio do Seu povo.

É com gente assim que eu quero seguir. Sem confiar em esquemas, poder econômico ou político, sem depender do apoio de grandes ou pequenos.

Dependendo apenas de Deus.

Pensando bem:

“O grande problema do Cristianismo moderno é sua concepção de Deus” A.W.Tozer