Oportunidades

Amigos, estou de volta. Depois de um mês vivendo uma aventura inesquecível em Angola, Deus me permitiu chegar em casa são e salvo e retomar minhas atividades normais. Família, igreja, trabalho, acampamentos. Não considero estas coisas como uma rotina enfadonha. Pelo contrário, são oportunidades fascinantes de crescimento pessoal e de serviço para o Reino de Deus.

Entre as coisas que fiz esta semana encontrava-se a simples tarefa de tirar cópias de algumas cartas. Fui até o local especializado e, enquanto esperava, tive uma rápida conversa com uma senhora, abordado que fui por ela mesma. Olhando por sobre os meus ombros, ela percebeu que meu impresso falava sobre acampamento para jovens. Ela não teve dúvida. Educadamente, pediu desculpas pela intromissão no meu particular, mas mostrou-se interessada no assunto. Entabulamos uma conversa e depois de algumas frases, em menos de 5 minutos, percebi o que ela realmente queria. Dona de uma empresa de alimentação, vendedora de produtos para emagrecimento (que, sob a confirmação de seu próprio testemunho pessoal, aumentaram sua auto-estima, geraram renda para si mesma, uma divorciada com três filhos para criar e produziram a tão buscada “qualidade de vida”), representante de empresas de cosméticos e mãe de um advogado (“excelente”, segundo ela). Quer dizer, antes que eu pudesse dizer a frase “sou um cristão”, ela já tinha dado seu currículo, quatro cartões de visita, endereço e telefone e oferecido uma gama de produtos para eu comprar, que se não me abaixo, arrasariam minhas finanças por um bom tempo.

Descontada uma certa agressividade na abordagem, fiquei a considerar a atitude daquela mulher. Uma evangelista nata. Do capitalismo selvagem, diga-se. Uma mulher apaixonada. Por vendas, talvez. Uma mulher motivada. A ganhar dinheiro, provavelmente. Mas, sem qualquer sombra de dúvida, uma mulher focada no que faz. Não perde oportunidade. Imaginei o que seria viajar com ela de São Paulo a Vitória de ônibus, 15 horas. Seria difícil sair ileso. Alguma coisinha, nem que fosse um tubinho de creme para rachaduras nos pés, a gente acabaria comprando. Preciso de gente assim na minha escola!

Precisamos de gente assim na nossa igreja também. Gente que se expõe, que não perde tempo, que não perde uma chance de mostrar aos outros aquilo em que acreditam. Gente que não tem medo de levar um “não” como resposta, que não desiste fácil quando os abordados querem desistir. Gente que não fica dando a desculpa da ética ou da boa educação para não falar o que precisa sobre o resultado de uma vida sem Deus.

Gente focada na expansão do maior projeto da História, o “Reino de Deus em nós”. Gente que oferece a casa, o carro, o tempo, os ouvidos às pessoas, para que elas percebam o quanto precisam daquela mensagem.

Claro que há muitos que fazem isso porque encaram os pecadores perdidos não como pessoas que precisam urgentemente da salvação de Deus, mas como “clientes” que em breve darão “retorno” com seus dízimos e ofertas. Esses são aqueles “pastores que a si mesmo se apascentam” de quem falou Judas em sua carta. São falsos pastores, portanto. Querem criar ovelhas para aproveitarem-se da sua lã e se bobear até da sua carne mesmo. Mas deixemos esses de lado.

O fato concreto é que na maioria das vezes não conseguimos potencializar para o Evangelho nem mesmo aquelas pessoas que quase se oferecem para serem alcançadas. Há um fenômeno em curso nos nossos dias, talvez seja algo novo, um mover de Deus na História, não sei bem definir. Muitas pessoas estão procurando os crentes por conta própria. Dia após dia ouço histórias em cima de histórias de pessoas perdidas que, em desespero ou como resultado de uma busca por Deus (à là Cornélio em Atos 10), acabam se abrindo de tal forma para Cristo que chega a ser inacreditável. Pedem cursos bíblicos, perguntam sobre a salvação, freqüentam nossos cultos.

Neste contexto, fica ainda mais destacado o alerta do apóstolo Paulo: “APROVEITEM AS OPORTUNIDADES”. A gente nunca sabe quando ou se vai ter outra. E quantas são! Você pode viajar de ônibus ou de avião, passar horas do lado de uma pessoa e descer da condução sem trocar uma palavra sobre a sua fé. Você pode trabalhar na máquina ou na mesa ou no escritório ao lado e jamais testemunhar do que Cristo fez em sua vida. Você pode gastar 20 talões de cheques por ano e nunca falar nada sobre a salvação para as 400 pessoas com quem você fez negócios ou efetuou pagamentos (de preferência se nenhum desses cheques voltou…). Você troca mensagens com uma porção de gente todos os dias pela Internet e pode ser que nunca tenha usado este recurso para falar do amor de Jesus. Você pode passar por dezenas de pedágios nas estradas e reclamar muito deles todos (como eu faço sempre) e nem cogitar de entregar um folheto ao funcionário da praça, que vai indo para o inferno e que não tem culpa pela existência dos pedágios. Quantas são as oportunidades que Deus nos dá e quantas nós perdemos, na maioria das vezes por simples distração.

Como não gosto muito de conversa de vendedor, não tive dúvida. Cheguei no escritório e deletei sumariamente todas as propagandas, telefones, panfletos e cartões que a minha nova amiga do balcão do xerox tinha me passado. Agora, escrevendo sobre aproveitar as oportunidades, não tive como não pensar: “Burro! Por que você não ficou com os números para ligar para ela e oferecer o seu produto, que é de graça, deixa as pessoas com o rosto mais lindo do mundo e ainda garante uma vida eterna com Deus?”

Foi mal, hein?

Pensando bem:

Há duas coisas na vida que jamais recuperamos: o tempo e as oportunidades. Aproveite-as bem.