Amigos, Lula e uma grande comitiva de ministros e homens de negócios acabam de voltar da China. Os comentários de todos na imprensa e nas confederações de empresários são os mais positivos. Não há uma voz que discorde do fato de que uma aproximação se faz necessária deste gigante, que já é um dos maiores mercados do mundo, que cresce assustadoramente e que abre perspectivas comerciais incalculáveis. Dá até medo de pensar nisso. Imagine se a China quebrar daqui a alguns anos. Vai arrastar o mundo consigo, porque todos hoje querem fazer negócio com ela. E já se dizia desde o tempo da minha avó: quanto maior a altura, maior o tombo.
Todos aplaudem os esforços, todo mundo quer tirar uma casquinha, ninguém quer perder a oportunidade de se tornar parceiro de uma potência consumidora como esta. Fala-se até mesmo na necessidade imperiosa de se falar mandarim, porque proporcionalmente são poucos os chineses que dominam o inglês. Li algures que a língua universal daqui a 50 anos será essa. Imaginou? Se está difícil aprender inglês e espanhol, faça idéia mandarim. Já estou aceitando matrículas!
Eu não sou economista, mas também não sou idiota. Qualquer um que leia jornal ou que conheça o mínimo do que acontece à sua volta sabe que este é um caminho sem volta. A globalização, queiramos ou não, chegou para ficar. Não tem como escapar disso. Já que não podemos contra ela, juntemo-nos a ela. Mas tem uma coisa que ainda não consegui entender. Quando Lula viaja para Cuba ou se declara amigo de Fidel Castro, todo mundo fala mal. Publicam as listas de jornalistas presos na ilha, falam dos últimos cidadãos que foram para o paredão, lembram as atrocidades do comunismo cubano.
Tudo certo. Tem mais é que falar mesmo. Cuba, que já foi o sonho de muitos jovens da esquerda brasileira, até hoje não saiu daquilo. Parece uma maravilha, mas só quando você está de fora. Quem está dentro ou quer ou já quis sair. Chamam Cuba de “A Ilha da Oportunidade”. É porque na primeira que você tiver, você tem que cair fora! Todo dia tem gente querendo fugir e conseguir asilo político em algum lugar.
Aí fica a dúvida: ao que me conste, a República Popular da China não é exatamente uma democracia. Não é um exemplo de tolerância política nem de liberdade de expressão. Não é um lugar onde se pode escolher sua religião ou forma de culto. Lá também tem paredão e também tem gente presa, torturada e desaparecida porque discorda do regime. Esses dias li uma notícia de jovens que estão presos por terem colocado na Internet alguma coisa que o governo comunista considerou subsersiva. Por que, então, ninguém reclamou que o presidente viajou para lá? Por que, no plano internacional, os Estados Unidos não invadem Pequim para “libertar os que vivem sob a tirania”? Só consigo arrumar uma resposta: Cuba não compra nada, não é mercado e não interessa a ninguém. Santa hipocrisia! Desde que entre dinheiro na parada, todos os princípios éticos, democráticos e filosóficos que alguns tanto defendem, caem por terra, ficam no segundo ou terceiro plano, se ainda houver espaço para eles.
Este é o mundo. Este é o sistema controlado por Satanás. Esta é a regra do jogo. Sempre é bom lembrar que mundanismo não tem a ver só com roupa, bebida e cinema. Mundanismo é um estilo de vida. Seguir o “curso deste mundo” significa adotar sua maneira de pensar, seus raciocínios falaciosos, sua maneira interesseira de tomar decisões, sua falta de escrúpulos na hora de decidir de que lado vamos ficar. Ser mundano é agir de acordo com o que dita o sistema.
Isso vale tanto para as decisões da alta cúpula dos governos como para a maneira de um líder tratar um problema na sua igreja. Isso vale tanto para o Pentágono como para a reunião dos jovens. Vale tanto para os motivos que levam a ONU a tomar suas medidas como para os motivos que nos levam a aceitar ou não uma responsabilidade em um projeto missionário. Ser do mundo é agir como o mundo. Quando se age no Reino de Deus com o mesmo espírito politiqueiro e atrelado a interesses que não são os do Reino, estamos sendo mundanos. Quando queremos controlar o pensamento dos outros, dirigir o “show”, ofertar para depois fiscalizar, transformar nosso potencial em arma de opressão do povo de Deus, estamos sendo mundanos. Bem como quando tomamos decisões parciais, para favorecer uns em detrimento de outros. Quando agimos com hipocrisia, “atacando Cuba” e fingindo que não sabemos de nada a respeito da “China”, isso é também mundanismo.
Lá fora é normal. É assim mesmo que funciona. Lá é o chamado “reino deste mundo”. Aqui dentro é diferente. Aqui é o Reino dos céus. O modus operandi é diferente. Os valores são diferentes. Aqui dentro, pau que dá em Chico dá também em Francisco. Não tem diferença. Não são usados dois pesos e duas medidas. Não se fazem críticas somente quando interessa. Não se ergue a voz apenas contra aqueles de quem não gostamos. Não denunciamos somente aqueles que não fazem parte do nosso curral.
Isso é coisa do mundo.
Pensando bem:
Quando a igreja invade o mundo, isso é missão. Quando o mundo invade a igreja, isso é omissão.