Tempestade no copo de chopp

Amigos, as gafes da semana passada foram monumentais. Começaram com a do reporteco do New York Times e a infeliz reportagem da sua lavra. Evidentemente tendenciosa, ela tentou passar como certo uma coisa sobre a qual eu pessoalmente nunca ouvira falar: que o presidente da Silva não poderia ser presbítero, porque ele é um tanto “dado ao vinho”. Soube, depois da repercussão do caso, que este era um assunto que volta e meia freqüentou as páginas dos jornais e revistas aqui mesmo no Brasil. Nada que o transformasse num ébrio ou muito menos em um alcóolatra incapaz de tomar decisões. O que mais me assustou não foi saber que Lula pode ter tomado algumas decisões de pileque. O que me assusta muito mais é pensar que ele estava sóbrio! Aí a coisa complica mesmo.

Concordei plenamente com a reação do governo. O repórter foi leviano mesmo, foi irresponsável e até mentiroso, quando afirmou que a nação se preocupa com o caso a ponto de considerar que Lula não está em condições de governar por ser um bêbado. Claro que isso não existe. Se é comigo, eu processo o cara mesmo. Se for legalmente possível, cancelo o visto e peço a cabeça dele para o diretor do jornal.

Só que eu não sou o presidente da República. E aí é que entra a segunda gafe da semana, talvez maior ainda do que a primeira. Até mesmo a oposição já tinha se solidarizado com o Lula. Era tudo o que ele precisava para conseguir apoio até dos antigos inimigos: um ataque de fora. Mas ao tornar pública a intenção de expulsar o jornalista, ele conseguiu a façanha de perder o jogo, depois de estar ganhando por 2 x 0, aos 45 minutos do segundo tempo!

Até esse dia, ninguém tinha ouvido falar no nome de “Larry Rohter”. Agora, ele virou um repórter conhecido no mundo inteiro. Pior, de vítima, o presidente passou a réu. Foi chamado, talvez até com razão, de ser autoritário, ditador, comparado a Pinochet, Saddam Husseim e outros linha-duras. Essa reportagem, como tantas outras que saem pelo mundo afora, cairia no esquecimento, lá e aqui. Ninguém ficaria sabendo disso. Agora… Ele poderia ter sido mais esperto, pressionar o patrão do camarada, exigir uma retratação ou até mesmo processá-lo, exigindo uma indenização, como fazem as celebridades. No máximo isso.

Isso me faz confirmar uma coisa que estou tentando aprender. Tem coisa pela qual vale a pena a gente brigar muito, nem que a gente fique sozinho da Silva. Mas têm outras para as quais não vale nem a pena dar bola. É gastar vela demais com defunto ruim. É dar notoriedade a quem não merece. De repente você descobre que é quase impossível tentar “tirar a limpo” as histórias que correm o mundo a seu respeito. E então você aprende que fofoqueiro e produtor de boato são como espuma de sabão em pó: quanto mais você agita, mais eles aparecem, mas se você joga um balde de água fria, some tudo. A própria vida vai correndo e mostrando quem tem credibilidade e quem não tem. Sempre hão de existir aqueles que conseguem chegar a presidente da República e aqueles que vão ser repórteres por 35 anos e não vão sair daquilo.

Eu nunca vou deixar de ficar indignado com uma notícia falsa a respeito de quem quer que seja. Sempre ficarei enojado ao saber que pessoas manipulam informações, escrevem a respeito de outros o que não é verdadeiro nem justo. Cada dia mais percebo que isso não acontece somente na impressa podre e corrupta, o quarto poder mundial, tão sujo e imoral quanto os outros poderes deste mundo, como também, e com indesejável freqüência, até mesmo dentro do povo de Deus.

Sei de gente que nem me conhece, que nunca me viu mais gordo e que já tem sobre mim uma opinião formada, baseada no que lhe disseram os “diários oficiais” da pilantragem e da fofoca gratuita. Volta e meia, chego a algum lugar para pregar ou para fazer qualquer outra coisa e as pessoas vêm para mim dizendo: “Puxa, eu tinha uma idéia totalmente diferente sobre você”. E eu fico me perguntando: `Como é que ele poderia ter qualquer idéia sobre mim se ele nunca me viu antes?` Fazer o que?

No começo, confesso que isso me incomodava, porque não acho isso correto nem amável, especialmente quando é feito por líderes, por gente importante e influente. Depois comecei a entender que não adianta tentar “expulsar o repórter”, porque ele ainda vai ficar sendo o coitadinho da história. Esse pessoal diz o que quer, mas ai de você quando você responde à altura. O mundo cai na sua pele.

Porém, se você deixar o barco correr (“nada como um dia depois do outro”), as próprias pessoas que estão ao redor desse tipo de gente começam a ver quem eles são. A autoridade que eles imaginam ter começa a ruir debaixo dos seus pés. Daqui uma década, se todos estivermos aqui, eles estarão no mesmo lugar, criando e divulgando as mesmas intrigas e sem produzir absolutamente nada de positivo e duradouro para o Reino.

No melhor estilo Larry Rohter.