Meu pé de acerola

Amigos, a casa onde moro atualmente possui um quintal invejável. É daquelas casas antigas do centro de Piracicaba, do tempo em que não se construíam casas com garagem e, por isso, o espaço nos fundos era imenso. Então, passei a deliciar-me da produção perene, segundo pensava, de um pé de acerola e outro de limão. Tinha para usar, dar e vender. Direto. Acerola e limão o ano inteiro, inclusive sábados, domingos e feriados. Era preciso congelar para não perder. Limão, de tanto que tinha, a gente nem se preocupava em guardar. Colhia na hora.

Tudo ia bem. A safra parecia interminável. Mas de repente, não sei o que houve. Já mandamos podar, adubar, aguar. De uns tempos para cá, como que mancomunados, tratados entre si, ambos resolveram mirrar. Seus frutos ou estão verdes ou estão podres. Salvam-se poucos limõezinhos sem graça e sem suco. Sobram limões podres pelo chão, que enchem sacos e sacos que vão para o lixo. Quanto à acerola, rainha do quintal até pouco tempo, o máximo que acontece são as floradas. O que antigamente se transformava em pepitas vermelhas e suculentas, hoje se transforma em sujeira para o chão frio.

Estamos pensando seriamente se vale a pena manter duas árvores cuja única função é dar limão e acerola e que não estão dando nem um nem outro. Para quê ocupariam inutilmente a terra? Vamos dar mais um tempo e, se continuar assim, mandaremos cortá-las. Se não querem dar fruto, pelo menos que não dêem trabalho.

Pode parecer meio insensível, um tanto egoísta, mas não vejo utilidade em árvore frutífera que não frutifica. Se eu quisesse somente folhas, eu teria plantado umas samambaias. Se quisesse beleza, teria plantado orquídeas. Se fosse um romântico, teria plantado rosas. Mas como o que eu quero é o prazer do sabor, escolhi frutas. E de sabor único, exótico. Só sabe o gosto da acerola quem dela experimenta. É uma coisa exclusiva. Não conheço nada no mundo que se assemelhe ao seu gosto. Então, se não serve mais para isso, bye bye. Foice nela!

Não é minha a parábola da árvore frutífera infrutífera. É de Cristo. Naquele caso, era uma figueira, no meio de uma vinha, mas que não dava figos. Consigo agora identificar-me com aquele proprietário rural. “Pode cortá-la. Não está servindo para nada”. O agricultor responsável ainda intercede: “Deixa mais um ano. Vamos dar-lhe uma última oportunidade de reação. Quem sabe ainda não sai alguma coisa que preste daí?”.

É assim que acontece com nossas vidas muitas vezes. A gente vem vindo bem, está firme com o Senhor, quer agradá-lo, quer que Ele tenha prazer com a nossa vida. Quando Ele vem inspecionar a nossa produção, ele enche um cesto cheio de frutos suculentos. Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl 5:22,23). Outras ocasiões o que Ele encontra é fé, virtude, conhecimento, mais domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e mais amor (II Pe 1:5-7). Tem tanto, que dá para fazer suco, sorvete, congelar, passar para os outros. São aquelas épocas pós-acampamento, pós-conferência, pós-ida-na-frente-para-se-consagrar. São aquelas fases em que a gente está mais preocupado com o que Deus vai falar de nós do que o que os nossos amigos ou vizinhos vão falar. É época de fartura, de satisfação, de prazer e alegria, tanto para nós como para o Senhor e ainda, por extensão, para aqueles que nos rodeiam, sejam familiares, irmãos em Cristo, líderes ou igreja.

Mas vêm também aqueles tempos de carestia. Desde aqueles dias em que até saem algumas flores, surge uma esperança, a gente declara a nossa vontade de que as coisas saiam bem, mas fica só na vontade, até aqueles frutos apodrecidos, asquerosos, que não servem para outra coisa a não ser o lixo. É quando a gente começa a mentir, a furtar, a dizer o que não deve, a usar linguagem baixa, a brigar com todo mundo, a ficar bravo, a usar de malícia e amargura (Ef 4:25-31). Às vezes fica pior. Aí surgem a prostituição, a impureza, paixões lascivas, desejo maligno e até avareza (Cl 3:5). E aí o Dono do terreno chega com o cesto e só tem desgosto. É a época do choro, da vergonha, dos riscos, da desilusão, de entristecer o Espírito de Deus.

A graça se manifesta, dá uma outra chance, chama ao arrependimento e ao abandono do pecado. Oferece a oportunidade de voltar a frutificar. Mas não para sempre. Um ano depois, uma decisão seria tomada, no caso da parábola de Jesus e no caso do meu pomar. Vai chegar o dia em que não vai dar mais tempo para reverter o quadro. Não dá para virar o jogo depois do apito final. Então, é bom dar um jeito de começar a dar fruto logo, antes que venham os maus dias nos quais diremos: “Não tenho neles prazer”.