Amigos, o assunto do momento é o meu assunto. Foi este o desafio de irmaos.com e não posso me furtar a ele. Então, não tem como deixar de falar sobre o filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo, que estreiou debaixo de uma enorme polêmica. Antes mesmo de ser exibido no Brasil, já rodavam emails e comentários a respeito dele. Particularmente, preferi ser coerente com o que ensino neste sentido, e esperei para ver antes de dizer qualquer coisa.
Antes de mais nada, é preciso discutir porque a Cruz de Cristo exerce este fascínio sobre a mente e o coração humanos. Uma discussão que começou na estrada de Emaús e que repercute até hoje. O filme “A Paixão de Cristo” é apenas mais um exemplo mais recente disso. A resposta é simples: a Cruz foi o mais importante evento que já teve lugar sobre a face da Terra. Nada foi mais tremendo ou abalou mais as estruturas dos céus e da terra do que este acontecimento. Para muitos, é uma “questão de opinião religiosa”; para outros é, sim, algo importante, mas de tanto repetir, já perdeu seu peso e seu impacto. Mas não se pode negar que a Cruz, a obra da Cruz, a mensagem da Cruz, o escândalo da Cruz tem um tremendo impacto sobre as pessoas.
Embora tão comentada, a Cruz até hoje não é bem compreendida. O que ela realmente significa para nós em pleno século XXI? Por sua causa, milhares deram suas vidas das formas mais cruéis. Por outro lado, em nome da Cruz, as maiores atrocidades já foram perpetradas contra os seres humanos. Como entender este mistério? É uma coisa preciosa ou é um escândalo? Esta é a discussão mais importante. Da resposta que conseguirmos em nossa pesquisa a respeito disso vai depender todo o nosso futuro.
Vou fazer alguns comentários, agora que vi o filme, e em seguida, talvez nas próximas duas ou três semanas que antecedem à chamada semana santa quero trazer nesta coluna algumas reflexões sobre o assunto, que poderão ser compartilhadas com seus amigos, que certamente estão de alguma maneira ligados nele.
Agora, o filme. Não creio que a polêmica toda da mídia em torno dele se justifique. Pareceu-me, depois de sair da sala, que tudo foi muito mais uma jogada de marketing, em cima de um assunto que desperta paixões das pessoas. Não vi nele muito mais do que tinha visto em qualquer outro filme secular sobre a vida de Jesus, exceto um maior realismo no que diz respeito ao sofrimento físico. No geral, a crítica era de que o filme é violento demais e que despertaria sentimentos anti-semitistas. Discordo das duas afirmações. Primeiro, porque a violência física ali retratada pode bem ter sido esta mesma. E qualquer outro filme de ação de Hollywood trás muito mais violência e de maneiras muito mais agressivas e gratuitas. A morte de cruz foi talvez a mais cruel já inventada pelo homem. E não apenas a crucificação em si, como também o contexto de torturas às quais o crucificado era exposto antes dela. Pode-se alegar que há um certo exagero na intensidade retratada no filme. De fato, é de se questionar que se os açoites e flagelos foram mesmo assim, seria difícil que Jesus tivesse suportado e não tivesse morrido ali mesmo. Mas não há como deixar de notar que os romanos não “alisavam” seus condenados.
Em segundo lugar, como é que se poderia isentar os judeus da época por tudo o que aconteceu? A Bíblia é clara quando afirma que Jesus “veio para o que era seu (o povo judeu) e os seus não O receberam”. Os acontecimentos daquela Páscoa sem dúvida nenhuma foram o ápice da rejeição do Messias por parte do Seu povo. Não vi absolutamente nada no filme que exagerasse a participação dos judeus. Soube, através de sites e comentários, que pressionado pela comunidade judaica, Gibson excluiu até a resposta do povo diante de Pilatos “Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos”. Se ele fez isso mesmo, foi um covarde, porque isto está registrado na Bíblia e a História registrou que isso aconteceu mesmo. Foi uma maldição que eles próprios assumiram e sofreram. Obviamente que existe um sentimento diabólico contra os judeus, com o qual o cristão piedoso jamais concordará. Mas não se pode esquecer nem omitir que muito do sofrimento deste povo deve-se ao fato de que sempre foram rebeldes contra Deus e sempre fizeram a escolha errada na hora errada. Isto é fato bíblico e histórico. O filme não tem culpa disso.
Mas isto não é, a meu ver, a principal questão a ser discutida. O principal é sobre a veracidade bíblica do filme. Vejo um certo exagero, um certo ufanismo de alguns ao falar sobre o filme. Alguns chegam a atribuir ao Espírito Santo a inspiração do filme. Outros já começam com aquele “nhém-nhém-nhém” de que “Fulano se converteu”, “Mel Gibson é crente”, “Não-sei-quem aprovou o filme, achou o melhor que já viu na vida” e por aí vai. Fico um tanto preocupado com tanta empolgação da parte daqueles que se dizem cristãos e conhecedores das Escrituras.
Não posso dizer quem inspirou os produtores, mas como cristão evangélico, ou seja, que crê, vive e prega O EVANGELHO, tenho por dever de ofício a obrigação de analisar qualquer questão que envolva a Jesus Cristo, meu Salvador e Senhor, à luz única, exclusiva e bem reveladora, da Palavra de Deus.
Quero portanto, tecer alguns comentários sobre o aspecto teológico do filme.
Mas estas serão cenas do próximo capítulo.
A Paixão de Cristo II
A Paixão de Cristo III
A Paixão de Cristo IV