Amigos, será mera coincidência, azar de minha parte ou a cada dia que passa a gente vê as pessoas com menos vergonha na cara mesmo?
Tenho notado uma ocorrência cada vez maior de casais brigando na rua. Dia desses, nossa aula foi bruscamente interrompida por uma avalanche de palavrões e mútuas acusações, proferidas debaixo da nossa janela, plenas 2 horas da tarde. O embrólio só foi apaziguado com a chegada da viatura da polícia. Casal de classe média, carro semi-novo, bem vestidos. Quer dizer, a baixaria rola solta não apenas nos bairros da periferia.
Por mais duas vezes durante esta semana, deparei-me com semelhante cena. Voltando a pé para casa, outro casal dentro do carro ameaçava trágico desfecho: “Se você falar isso de novo, eu saio deste carro e não volto nunca mais”, berrou a histérica mulher. “Então saia, que eu quero ver”. Para espanto do truculento, ela saiu mesmo. E o besta teve que sair correndo atrás dela no meio da rua. Ontem, trafegando por uma avenida, daquelas cheias de semáforos, tive o desprazer de parar ao lado de um Uno, que apelidei de “Uno desUnido”. A cada semáforo, podia se perceber o desenrolar de uma discussão que se acalorava. Se eles não trocaram de avenida, quando chegaram no final o divórcio era coisa certa.
Sem contar o quanto você ouve de xingamentos e impropérios partidos aos gritos de dentro das casas quando a gente passa nas calçadas. Que coisa!
Dada à incidência cada vez mais freqüente, pus-me a pensar se era apenas uma coincidência ou se era mesmo uma marca do nosso tempo. Primeiro, as pessoas da nossa geração não têm mais filtro. Não se importam mais que todos conheçam suas mazelas. Não se preocupam em lavar roupa suja no meio da rua. O corar de vergonha não está mais presente no rosto das pessoas do século 21. É por isso que proliferam os programas de auditório onde as pessoas vêm para expor a uma multidão de espectadores igualmente sedentos de sangue e discórdias o exalar da sua putrefação. Também é por isso que as pessoas falam de suas vidas íntimas em público, contam seus casos, suas traições, suas cafajestagens como se fossem os feitos mais nobres da humanidade. Isso me faz lembrar do alerta que Paulo fez a Timóteo sobre o pecado daqueles que praticam obscenidades e fazem questão de divulgá-las e, em particular, daqueles que aprovam ou aplaudem os que agem assim.
Segundo, já é lugar comum mencionar que as pessoas da nossa geração vivem uma situação familiar lamentável, aqui como no mundo todo. É impressionante o ataque articulado e constante do diabo contra a vida familiar. A mídia, os formadores de opinião, os educadores, os psicólogos a até religiosos parecem unidos num só propósito: ridicularizar o conceito de casamento, fidelidade, compromisso, respeito e autoridade. Hoje, renasce uma indústria, a indústria do casamento. Mas não se empolgue: trata-se das empresas que ganham rios de dinheiro montando e vendendo estruturas a peso de ouro para os incautos que se importam mais com o brilho da cerimônia e com a pompa de uma festa do que com a bênção de Deus sobre suas vidas. O casamento em si, aquilo que começa depois que se diz “sim”, este não recebe qualquer investimento. Este não desfila na Hebe Camargo nem na Luciana Gimenez. Este não sai na “Caras”.
Para este, inclusive, faltam modelos. São poucas as famílias do povo de Deus que podem ser referência para as outras. Um contra-senso para os filhos de Abraão, a quem Deus disse: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Não é raro encontrar nas casas dos cristãos o mesmo comportamento, a mesma gritaria, a mesma desarmonia que se encontra nas casas desses cidadãos citados no começo deste artigo.
Terceiro, as pessoas da nossa geração estão tão comprometidas com o “eu”, que se torna quase impossível conviver com outros debaixo do mesmo teto. Não cabe. O ego é grande demais, toma o espaço, sufoca, expulsa, empurra para fora. Toda discussão começa por causa disso. E só termina quando o ego se rende. Somos bombardeados a todo momento com a diabólica mentira de que você tem que pensar em si primeiro. Tem que se amar primeiro, para depois amar o próximo, dizem. Chegam à ousadia de citar as palavras de Jesus Cristo, que disse “Ame o teu próximo como a ti mesmo”. Dizem os “iluminados do século XXI” que Jesus estava ensinado que você só consegue amar os outros se você, primeiro, amar a você mesmo. Bem, não é de hoje que o diabo torce a palavra de Deus para enganar os trouxas. O que Jesus está ensinando é que você precisa amar o próximo do jeito que você JÁ ESTÁ SE AMANDO. Paulo escreveu aos efésios: “Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja” (Ef 5:29). O natural para o ser humano é pensar em si mesmo, amar a si mesmo, colocar a si mesmo em primeiro lugar. O orgulho, o egoísmo, o pensar em si mesmo acima de todas as coisas e pessoas, este tem sido a raiz de muitos males que assolam a humanidade, desde Adão e Eva.
Nossa sociedade pós-moderna precisa de luz. A igreja que vive esta era – as pedras vivas que edificam o Santuário de Deus – é a única fonte de luz para um momento de trevas tão espessas quanto as da praga do Egito.
Pensando bem:
O que ouvem os pedestres que passam em frente à sua casa?