Amigos, um ano atrás estava revoltado com o Verdão. Escrevi o artigo Segundona, criticado por alguns e entendido por outros, expressando a minha indignação pela queda do Palmeiras à Segunda Divisão. Hoje, volto ao tema. Pretendendo manter a coerência, fico feliz em perceber que estava certo naquela ocasião. Defendia princípios e valores e apontava causas daquela triste página do time de Parque Antártica, para finalmente tirar algumas lições para nossa vida.
Sugiro que você leia no arquivo irmaos.com o texto que redigi naquele dia. Isso dará mais sentido ao texto de hoje.
Primeiro, porque continuo não gostando da palavra e nem do dia “segunda”. Continua sendo algo assustador, tenebroso, indigesto. Aliás, se há um sentimento estranho tomando o coração dos palmeirenses é este: conquistamos mais um título que os corintianos não têm (o outro é a Libertadores), mas não queremos sequer sonhar com o bi-campeonato!
Segundo (ai! que palavrinha!!!), porque foi um ano em que ninguém pegou no meu pé a respeito de futebol. Não tinha o que dizer e para falar a verdade, me senti melhor sendo o primeiro da Segunda do que o último da Primeira. Houve momentos em que achei até bom estar na Segundona.
Terceiro, porque cobrei que eles vencessem invictos. Não deu, mas quase. Perderam só 3 jogos. Os outros venceram com galhardia.
Quarto, porque não perderam oportunidades. Quando foi a hora da decisão, eles “chegaram junto”, não deram moleza. Apesar de o time ser formado na maioria dos casos por garotos, tiveram muita calma e coragem.
Quinto, porque o técnico foi o mesmo do começo ao fim. Foi criticado, contestado e até ridicularizado, mas sabia onde queria chegar. Isso é marca de um líder de verdade, diferente de alguns “Levir Culpas” e Luxemburros por aí.
Sexto, porque o ambiente no grupo é nitidamente diferente. Sem críticas públicas a setores do time ou ao técnico. Sem reclamações por causa da reserva. Sem fogueira de vaidades. Não havia espaço para este tipo de coisa. Fundamental.
Sétimo, porque meu xará mudou de postura. Ao invés de pedir para não jogar, Marcão foi lá e botou a cara a tapa. Recusou propostas e afirmou textualmente que se precisasse quebrar a perna para fazer o Palmeiras subir, ele faria. Aí sim. Isto é coisa de homem de caráter.
Oitavo, porque se não escrevi, pelo menos disse a vários amigos que se houvesse virada de mesa para o Palmeiras e Botafogo voltarem no “tapetão” eu não assistiria mais futebol. O que aconteceu, pela primeira vez na história do campeonato, foi que times grandes caíram e voltaram dentro de campo. Parabéns.
Nono, porque se também não escrevi, sempre me perguntei se esse título teria volta olímpica. Não teve, mas foi comemorado como uma vitória brilhante, que inegavelmente foi. Porém, para manter a coerência, deixe-me afirmar: NADA MAIS DO QUE A OBRIGAÇÃO. Fizeram o mínimo que se podia esperar depois de tanta derrota e humilhação. É verdade que quando se cumpre a obrigação de modo digno e honrado, a gente merece o reconhecimento. Então, aqui vai meu reconhecimento. Foi um time brioso, raçudo, valente e decidido. Não ficou devendo nada aos grandes times que venceram nos últimos anos. Se este time tivesse disputado a Série A, talvez tivesse pelo menos disputado uma vaga para a Libertadores. OK. Então tá. Chega de confete e vamos voltar para a realidade. Fim de reconhecimento.
Décimo. Eu encerrava meu artigo do ano passado dizendo que pelo Palmeiras não valia a pena derramar uma lágrima. Continuo achando isso. E digo mais, agora na vitória: pelo Palmeiras (ou por qualquer time que seja) não vale a pena se empolgar muito também.
Mas pela Igreja vale. Aí chegamos a um ponto crítico. Eu continuo me perguntando: se a igreja tivesse sido rebaixada no ano passado, que atitude teria tomado? Será que já foram resolvidos todos os problemas que 2002 trouxeram? Será que todas as intrigas, fofocas, maledicências, desamores, acusações, ciúmes e invejas foram devidamente tratadas? Estão as igrejas hoje, ao final de 2003, podendo comemorar um retorno à vida, à “elite”, à Primeira Divisão? Estão os missionários sendo melhor assistidos, sustentados e acompanhados?
Todos nós que erramos, que caímos, que fomos derrotados em alguma área em 2002 já estamos de volta? Todos os que romperam sua comunhão com Deus, sua vida de serviço no Reino, seu testemunho, já estão recuperados?
Chegaremos todos nós ao final de 2003 celebrando uma recuperação suada, buscado com esforço e dedicação ou continuaremos a amargar uma vida derrotada e sem brilho? Seremos abraçados no aeroporto, carregados em triunfo ou, como no ano passado, chegaremos escoltados pela polícia e seremos obrigados a sair pela porta dos fundos?
Mesmo depois de termos sido fiéis, ainda Deus terá motivos para nos chamar de “servos inúteis”, como na parábola. Mas eu prefiro ser um servo inútil e fiel do que além de inútil ser um mau-caráter, desleixado e descomprometido. Prefiro fazer apenas o meu papel, a minha obrigação, o meu dever e poder chegar ao fim da minha vida podendo dizer, humildemente, como Paulo: “Completei a carreira!” Fiz o que se esperava de mim. Não decepcionei, não fui omisso, não me escondi da responsabilidade. Não troquei de time.
Sabe de uma coisa? Acho que comecei a gostar da segunda…
Pensando bem:
Descer pode ser um impulso para subir. Subir pode ser um impulso para voar.