Entrevista da semana: A viúva do profeta

Uma mulher que pede para não ser identificada. Viúva recente, enfrentava problemas sérios de restrições de crédito, correndo até o risco de perder seus filhos, confiscados pelos credores. Até que, segundo o seu relato, um milagre aconteceu em sua casa. Será que milagres acontecem? Tire suas próprias conclusões.

: Qual era o ofício do seu marido?

Viúva: Ele estava estudando para ser profeta.

: Como assim?

Viúva: É que ele estava entre o grupo de homens que acompanhavam o homem de Deus, Eliseu. Eles tinham uma espécie de escola bíblica, que preparava homens que Deus poderia usar para falar com o seu povo.

: E isso não dava dinheiro? Ser profeta, fazer milagres, essa coisa toda parece muito lucrativa hoje em dia…

Viúva: Você sabe, os discípulos dos profetas nunca foram gente rica. Esses dias eles foram fazer uma reforma lá no salão onde eles se reúnem e o pessoal não tinha dinheiro nem para comprar machado… Quem trabalha com Eliseu sabe que ele não pensa nisso. Você nunca ouviu falar que nem quando o Naamã (NR: comandante do exército da Assíria) veio até ele e ofereceu um monte de dinheiro como recompensa pela sua cura, ele não aceitou? Assim que meu marido foi ensinado. Mais do que o ensino de Eliseu, meu marido temia ao Senhor. Ele nunca usaria sua vocação para ganhar dinheiro. Isto não é ético e nunca será.

: Como a sra. encara, então, os profetas de hoje que enriquecem dia a dia?

Viúva: Acho que eles não teriam muito espaço na escola de Eliseu. Além disso, os leprosários estariam lotados. É só você ver o que aconteceu com Geazi (NR: ajudante de Eliseu que ficou leproso por ter pedido dinheiro a Naamã).

: Seus filhos foram confiscados?

Viúva: Não chegaram a ser, porque eu consegui o dinheiro para pagar as dívidas antes.

: Isso era uma atitude legal?

Viúva: É, estava na lei. Quem não consegue pagar suas contas, tinha que dar os filhos para serem escravos.

: O que a sra acha que aconteceria se essa lei existisse hoje?

Viúva: Ah! Ia ter muito crente indo pra igreja sem os filhos…

: E a lei falava alguma coisa sobre a situação das viúvas ou só sobre os credores?

Viúva: Falava. Deus sempre se preocupou com mulheres que estivessem na minha situação. Era uma obrigação social que a gente fosse assistida para não passarmos necessidades, porque a vida de uma viúva com filhos jovens é muito dura. Mas, como acontece até hoje, o que interessa para quem tem dinheiro, funciona. O que é para ajudar o pobre, sempre acaba esquecido, mesmo que seja lei.

: Como a sra explica o seu sucesso?

Viúva: Meu sucesso? Como assim?

: É que há quem coloque a sra na categoria de “Gente que Faz”. De repente, de endividada a sra passou a empresária. Como conseguiu isso?

Viúva: Mas isso não foi “meu” sucesso. Eu simplesmente fiz o que o homem de Deus me mandou. Eu não tinha nada em casa, a não ser uma botija de azeite. Eliseu mandou que eu buscasse vasilhas vazias na vizinhança e fosse derramando azeite nelas. Eu fui enchendo, enchendo, enchendo, até encher a última que eu tinha conseguido.

: E como a sra explica o que aconteceu?

Viúva: E pra quê eu precisaria explicar? O que me importa é o que aconteceu.

: Mas de onde veio aquele azeite todo?

Viúva: Moço, de onde veio eu não sei. Eu sei para onde foi. Pagou todas as minhas dívidas, livrou meus filhos da escravidão. E agora eu sei que se eu tivesse trazido mais vasilhas, eu teria conseguido mais azeite.

Pensando bem:

Nota da redação: A mulher não somente pagou suas contas, mas com o que sobrou, conseguiu sustentar a si mesma e a seus filhos. Ela não pagou nenhum centavo a Eliseu por isso.