O eixo do mal I

Amigos, interrompemos nossa programação normal para falar o assunto do momento, que domina as conversas na rua, os noticiários, os fóruns de discussão na Internet (inclusive deste site) e até as reuniões de oração: a guerra contra o Iraque. Assunto controverso, que dividiu até o parlamento da Inglaterra e os líderes mundiais que votam na ONU. Não serei eu, portanto, que me atreverei a ter a palavra final sobre a questão. Mas não poderia me furtar de comentar este assunto, porque estes momentos são propícios a reflexões profundas a respeito de Deus, do mundo e de nossas próprias vidas.

Sinto-me favorecido pelo espaço nesta coluna, uma vez que já tenho me manifestado no fórum deste site e até no seu mural de recados e por isso preciso esclarecer que não quero usar este texto como resposta a quem pensa diferente, porque não sou o dono da verdade. Só quero analisar melhor algumas colocações feitas e dar minha opinião sobre elas.

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Já se disse no passado que a guerra expõe o pior das pessoas e o melhor das pessoas. No que diz respeito às opiniões expressas por muitos “cristãos” que erguem suas vozes a favor de uma guerra estúpida e sem sentido, parece que esta guerra está expondo somente o pior.

Tenho ouvido estarrecido as manifestações de alguns e tenho procurado analisar seus argumentos. Cito e comento alguns.

1. Os Estados Unidos são a nação que Deus escolheu para exercer juízo no mundo.

Os que pensam assim, argumentam que neste momento da História, George Bush é um instrumento nas mãos de Deus e como tal tem carta branca para invadir o que quiser e matar quantos quiser. Os soldados que lutam a seu favor são, por este raciocínio, “ministros de Deus” para exercer Sua justiça no mundo.

É verdade que Deus já usou nações ímpias para exercer Sua justiça. A cruel e injusta Babilônia levou Judá para o cativeiro e a ímpia Assíria levou Samaria. Nesta categoria, certamente poderíamos encaixar os Estados Unidos da atualidade, uma nação apóstata, imoral, idólatra, materialista e até ateísta. Deus está tão longe da vida nacional americana como está da vida dos povos muçulmanos. De cristãos, os americanos (como um povo) só tem o nome. Mas estudando-se criteriosa e biblicamente a maneira como Deus se propôs a lidar com a humanidade hoje em dia, o conceito de uma nação disciplinando outra nação está totalmente fora de cogitação. Não posso ver a mínima base bíblica para tal afirmação, a não ser que leiamos a bíblia com forte sentimento de tendencioso patriotismo.

2. Deus usou Israel muitas vezes na antigüidade para destruir nações ímpias que se opunham a Ele.

É verdade. Mas em nenhum caso o motivo era controlar o petróleo do mundo nem fazer o dólar voltar a subir frente ao euro. E em todos os casos, houve uma determinação clara da parte de Deus a respeito do que fazer. E neste caso, Deus não determinou nada para ninguém. Deus nem foi consultado. Para colocar Deus no centro desta guerra é preciso muita imaginação.

3. O revide americano ao 11 de setembro é plenamente justificável.

Considerando a tremenda incompetência das agências de inteligência americana, que mesmo gastando bilhões de dólares do contribuinte por ano, não conseguiram descobrir um plano gigantesco que demorou anos para ser tramado e executado dentro do seu próprio território, não seria melhor que a primeira punição fosse aos próprios compatriotas que não fizeram a lição de casa e expuseram seu país a este vexame mundial?

Ademais é inexplicável que a inteligência de alguns permita aceitar como normal o uso completamente desproporcional de forças, que já arrasou o Afeganistão e nesse momento arrasa o Iraque, semeando ainda mais ódio e antipatia contra os Estados Unidos.

Como cristão que diz ser, George Bush deveria saber que a Deus pertence a vingança, não aos podres poderes dos exércitos humanos. E este deve ser também a postura dos outros cristãos.

4. George Bush e os americanos querem apenas libertar o povo iraquiano do domínio de Saddam Husseim. É uma luta pela democracia e portanto um mal necessário.

A estes, que provavelmente acreditam também em Papai Noel e coelhinho da Páscoa, resta perguntar porque então os americanos não invadem também Cuba ou o Paquistão ou os países africanos que gemem sob ditaduras iguais senão piores do que a de Saddam. E é bom lembrar que Saddam foi financiado pelos mesmos EUA durante a guerra contra o Irã, assim como Bin Laden foi treinado pela CIA, quando interessava ao Tio Sam opor-se ao império russo.

É impossível não ligar esta guerra aos poderosos interesses de dominação econômica dos Estados Unidos, seja pelo aspecto do petróleo, seja pelo aspecto da queda do dólar frente ao Euro, seja na demonstração de força que o império quer dar para intimidar o resto do mundo. É difícil de engolir a história de “libertar o Iraque”.

Não acredito em mal necessário. O mal é sempre mal.

Pensando bem:

O mal é sempre mal.