Amigos, sem dúvida os últimos acontecimentos envolvendo jovens assassinos de classe média são chocantes. É a parricida com seus comparsas, ontem o viciado que matou a avó e a empregada. Mais chocante ainda é a postura de uma sociedade hipócrita e discriminatória, que lança sobre a favela toda a culpa pela violência desmedida e incontrolável que assola este país. Quando a tragédia atinge os endinheirados, a gritaria é geral. Enquanto está no morro, ora, o que é que eu tenho a ver com isso? A vida está mostrando que o ser humano é tão podre no cortiço quanto nas mansões dos Jardins. Tão desesperadamente corrupto na Rocinha quanto na Vieira Souto.
Onde estão agora os palradores de uma sociedade moderna, descolada, articulada, humanizada, independente e democrática? O que tem a dizer os psicólogos e psiquiatras de plantão? Um deles, que não cansa de dar entrevista a tudo quanto é canal de TV, tentando achar explicação para tudo isso, anda dizendo que os pais precisam ser mais atentos e buscar a ajuda de um profissional para cuidar dos filhos. Estranhíssimo, porque a Sra Richtofen era profissional da área de psiquiatria. Não foi isso que resolveu.
Onde estão aqueles que defendem a criação democrática dos filhos, a liberdade total, a não-interferência, a ausência de limites?
Onde estão aqueles que acham que a solução é a melhor distribuição de renda e a educação, se a moça era estudante de direito e dinheiro nunca foi o que lhe faltou?
Esta tragédia já foi abordada sob muitos aspectos. São os aspectos que mais saltam aos olhos. Associação de drogas com más companhias, um amálgama da ganância com a falsa sensação de liberdade. Mas poucos mencionaram o papel da família e da criação de filhos. É incrível que um pai não saiba a quantas anda a vida de um filho que, quase na casa dos 30, não trabalha, não tem qualquer compromisso, acorda meio-dia, almoça, descansa um pouquinho até umas 5 (porque ninguém é de ferro), vai malhar na academia e depois sai para a balada. Isto de segunda a sexta, inclusive sábados, domingos e feriados. Aí seu filho aparece de Kawasaki, mas tudo bem. Deve ter sido algum bico. Ele usa droga? “Não sei, nenhum pai pode saber se o filho usa droga” De fato, este tipo de pai não consegue mesmo saber.
É evidente que esse tipo de tratamento é compulsório. Quem cresce sem noção de compromisso, sem responsabilidade, sem ter que assumir as bobagens que faz, sem ter que prestar contas de nada, uma hora vai encontrar na vida alguém que se opõe ao seu caminho. E aí as reações são imprevisíveis, podendo variar de uma “simples” agressão verbal ao professor na sala de aula, ao guarda de trânsito, ao segurança do Shopping até tacos de baseball, tiros ou facadas.
Tenho assistido apreensivo a um comportamento perigosamente semelhante de muitos pais cristãos em relação a seus filhos. Cada dia mais me assusta o número de jovens nas igrejas que não tem qualquer responsabilidade na vida. Se você quiser falar com alguns deles, tem que chegar depois das 4. Da tarde, obviamente. Enquanto os pais “deixam o couro no serviço pra fazer filho estudar” (do clássico sertanejo “A Vaca Já Foi Pro Brejo”), os marmanjos dormem até babar na colcha. A adolescência agora vai até perto dos 35. Até lá, os pais são obrigados a dar comida, casa, carro, roupa lavada, manter empregada (porque tirar os pratos da mesa pode causar LER – Lesão por Esforço Repetitivo), comprar os presentes da namorada, pagar as viagens de férias, o colégio, o cursinho, a faculdade. Lá pelas tantas, o traste resolve casar. Aí os pais precisam preparar a casa, os móveis, a viagem de lua-de-mel (para a Europa, é claro), a festa e dois anos de supermercado.
Aqueles que têm dinheiro para bancar esse estilo de vida dos filhos, acham que ninguém tem nada a ver com isso, o dinheiro é deles e eles fazem o que bem entenderem. Alguns tiveram privações na infância e agora, novos-ricos, querem que os filhos tenham tudo o que não tiveram e mais um pouco. É claro que fazer o melhor pelo conforto dos filhos não está errado. Mas fazer o melhor nunca foi alisar irresponsabilidades e inconseqüências. Não interessa se você, pai, tem dinheiro para bancar isso. O que está em jogo é a maturidade e utilidade de seu filho, para a vida e para o ministério. Lembre-se de que seus filhos pertencem a Deus, não a si mesmo. É para o Seu louvor que eles precisam ser criados.
Para aqueles que não tem dinheiro, então, a coisa fica ainda pior. Surge o agravante da pressão do grupo. “O pai da fulana deu um Audi pra ela de presente. Por isso nem me venha com um Palio Fire que eu não quero nem olhar”. Daí, o pai-empregado vai se ralar, fazer quinhentas horas-extras por semana, ganhar uma úlcera, perder toda a sua utilidade para o serviço de Deus, porque senão ela vai ficar com trauma! Enquanto isso, o filho-príncipe pode repousar calmo e sossegado pelos corredores do palácio.
Talvez você ache um exagero a aplicação partida de um caso de assassinato brutal. O fato é que o impacto que este tipo de comportamento está causando às igrejas já é muito alto. Muito mimo, muito melindre, muito biquinho de birra, muito não-me-toque. Muitas igrejas estão às voltas com os filhos dos crentes. Quem trabalha com acampamento sabe quanto é difícil. Tenho colegas no ministério que narram problemas terríveis com jovens que são membros de igreja e tudo. Cada vez mais freqüentemente as drogas, a promiscuidade, a bebida, as baladas estão laçando gente nossa. Já citei nesta coluna uma grande igreja de São Paulo que pegou gente se drogando no banheiro na hora do culto. A gente sempre acha que é exagero. Conosco, nunca vai acontecer. Mas acontece. Preocupa-me, sobretudo, a qualidade de ministros e obreiros que teremos na próxima geração, se não corrigirmos a rota a tempo.
Sei que muitos que me lêem são jovens. É hora de vocês também fazerem uma auto-avaliação. Que tipo de filho você tem sido? Um sanguessuga? Um boa-vida convicto? Um bebezão crescido? Um filho pródigo? Alguém cujos limites são estabelecidos de acordo com a sua própria vontade? Ou um filho responsável, piedoso, solidário, compreensivo? Lembre-se de que este tempo de suas vidas será fundamental para determinar o tipo de servo de Deus que você será. Lembre-se também que mesmo que seus pais tenham errado em algum ponto, se você hoje conseguiu ler e entender este artigo, tornou-se responsável pela sua própria maturidade e não poderá usar sua criação como desculpa para não ter uma vida frutífera e abençoada.
Pensando bem:
Esse tempo de suas vidas será fundamental para determinar o tipo de servo de Deus que você será.