Amigos, o que escrever num final de ano que saia do lugar-comum? Como não falar do balanço do período findo e projetar novos propósitos para o seguinte? Como escapar da constatação de que mais um ano está acabando, que tudo passa rapidamente e nós voamos? Então, se não há outra coisa que se possa fazer para deter a marcha do tempo, vamos a ela.
Deus é eterno. Para ele não existe passado ou futuro. Ele não precisa de relógio nem de calendário. Sua infinitude descarta o tempo. Nós é que precisamos dele. Não foi por outra razão que ele estabeleceu luzeiros no firmamento, “para fazerem separação entre o dia e a noite, para serem eles para sinais, para estações, para dias e anos” (Gênesis 1:14). Estava criado o sistema que usamos até hoje para contar o tempo. Em linguagem leiga, diríamos que uma volta da Terra em torno do seu próprio eixo e temos um dia. É a tal rotação. Uma volta da Terra em torno do Sol e temos um ano. É a abençoada traslação. De acordo com a inclinação do eixo de rotação da Terra, temos as estações. Que beleza! Não faltei às aulas de Física do Cosenza… Como não há nada de novo debaixo do sol, tem-se que desde que foram criados, pela Palavra de Deus, estes astros estão em perfeita sincronia. Salvo o dia em que a Terra parou para Josué acabar o serviço que estava fazendo, sempre acontece a mesma coisa. Todos os dias têm 24 horas, todas as semanas têm 7 dias, todos os meses têm 4 semanas e todos os anos têm 12 meses. Por que, então, a cada fim de ano a gente acha que o tempo está passando mais depressa ou que nosso dia precisaria ter 28 horas?
Pense bem em quantas coisas temos hoje à nossa disposição que supostamente foram criadas para nos permitir economizar um tempo lascado. Alguns de vocês nem se lembram mais disso, mas já houve época em que para fazer uma ligação interurbana era necessário tirar o fone do gancho (meu Deus, o que é isso??), pedir linha para uma telefonista e dizer o número para o qual você queria ligar, em geral composto de 3 dígitos. Se fosse interurbano, você pedia a ligação e esperava algumas horas para que ela fosse completada. Eu me lembro quando em viagem aos Estados Unidos na década de 90 presenciei pela primeira vez na minha vida uma ligação a um celular, em plena estrada. Parecia ficção científica. Hoje, bem, hoje você não só fala, como faz uma infinidade de coisas com um aparelho celular na mão. Pode fazer tanta coisa que acaba perdendo tempo com uma série de atividades completamente frívolas e sem proveito que servem somente para um coisa: perder tempo. No mínimo paradoxal.
Há não muito tempo, se você quisesse escrever alguma coisa a um amigo, namorada, esposa, se estivesse viajando e quisesse contar como estava o passeio, você teria que sentar, escrever, colocar em um envelope, ir até o correio e enviar. Agora, basta digitar uma frase de 140 caracteres e clicar. Seu amigo recebe vídeo, foto, frases mal escritas, mas frases etc. Muito mais rápido. Mas como isso é tão legal, tão fascinante, tão moderno, acabamos ficando o dia inteiro fazendo só isso. E, para nosso espanto, descobrimos que não temos mais tempo de visitar nossos amigos. No mínimo patético.
Sem contar que houve coisas que criamos para ganhar em tempo que nos fizeram perder em outras coisas. Por exemplo, há algum tempo, se quisesse experimentar uma boa e saudável refeição, teria que usar alimentos frescos e cozinhá-los de maneira relativamente lenta, num fogão de 4 bocas. Claro, isso é coisa definitivamente do passado. Agora é só abrir um daqueles empanados de frango (que de frango mesmo só tem o nome, as penas, bicos e toda a titica que sobrou depois de retiradas as partes nobres), colocar no microondas e pronto. Ou então ir a uma praça de alimentação e se empanturrar de fast-food, acompanhado de uma bela dose de refrigerante aguado. Engula rápido e volte para o ringue, companheiro. Você ganhou tempo no almoço, mas para quê? No mínimo, doentio.
Se você quisesse fazer amigos, tinha que estar disposto a conhecer pessoas, conviver com elas, descobrir quem elas eram de verdade. Isso levava tempo. Meses, anos, décadas até. Agora não. Não temos tempo. Tem um jeito mais fácil e rápido. Crie um apelido, esconda sua verdadeira identidade e passe a falar o que vem na sua cabeça. Dispute ferrenhamente quantos seguidores você tem no Twitter ou quantas visitas foram feitas ao seu blog. Muito mais rápido. Muito mais simples. Muito mais instantâneo. Muitos “amigos virtuais”. Mas para quê? No mínimo, preocupante.
O fato concreto é que acabamos ficando escravizados justamente pelas coisas que prometiam nos libertar. Estamos ganhando tempo enquanto, perdemos a vida.
Feliz ano novo.