Amigos, peço licença para interromper nossas reflexões e prestar uma homenagem que considero justa, embora póstuma. O povo de Deus em nosso país perde um guerreiro. Nosso querido “seu” Domingos Lipsi, abrasileirado até em seu nome, partiu para o Senhor, o que é incomparavelmente melhor. Certamente ele está no lugar que sempre almejou na vida. Ele não era mais americano nem brasileiro. Era cidadão dos céus. E viveu como poucos a ardente expectativa deste momento glorioso de encontrar-se com seu Senhor. Seu corpo, hoje semeado no solo de nossa pátria, era apenas o invólucro, a casca (“My shell”, como ele me disse muitas vezes).
Sei que muitas histórias há, e muitos testemunhos certamente surgirão a respeito da influência deste homem de Deus que viveu em nosso país por longos 55 anos. Por isso, costumava dizer a ele que ele era mais brasileiro do que eu, que tenho hoje 33 anos de Brasil.
Sou especialmente grato a Deus por sua vida. Foi através dele que minha família (por parte de minha mãe, Dna Hacy) tomou contato com o Evangelho. Lembro-me de minha avó, Dna Filomena, repetir muitas vezes a maneira insistente de como ele, ardoroso evangelista, lhe pregava a mensagem da salvação. Ela não estava muito a fim de ouvir, na verdade. Não dava a mínima para o que aquele americano dizia. Não era sua prioridade ouvir aquele história sobre salvação, pecado, Jesus e etc. Então ele descobriu que para ser ouvido, ele teria que ir à sua casa pouco antes da hora do almoço. Ela não poderia sair de perto do fogão e seria obrigada a ouvi-la (muita gente diria hoje que esta é uma “abordagem inadequada”). Mesmo assim, ela fazia questão de demonstrar seu desinteresse. Até que ele foi se enchendo daquilo e um belo dia encheu-se de razão, levantou-se irritado da cadeira e disse: “Dona Filomena, escuta bem, hã? A senhora está indo pro inferno, viu? E eu estou aqui para avisar isso e a senhora não está ligando!” Dizia minha avó que foi a primeira vez que ela parou para escutar. E converteu-se, talvez um pouco depois disso. Talvez a esta altura eles já tenham se encontrado lá na glória para lembrar essa história!
Guardo do seu Domingos a lembrança de um de meus últimos encontros com ele. Segurando meu braço, ele me disse: “Marcos, você é real para mim, porque estou tocando em você. Mas ultimamente Deus tem sido mais real para mim do que qualquer pessoa em quem eu possa tocar”. Não esquecerei estas palavras. Não tenho dúvidas de que eram reais.
Nunca consegui trocar com seu Domingos mais do que duas frases, incluindo “Tudo bem?” ou “Como vai?” antes que ele conduzisse a conversa para assuntos espirituais, que geralmente nos levavam a conversas longas e proveitosas.
Claro que ele não foi um homem perfeito. Só houve um Homem perfeito na história. Devia ter suas falhas, como todos nós as temos. Mas quem dera houvesse mais homens e mulheres dispostos a deixar seus países (e não nos tempos modernos, mas nos distantes idos de 1947!) e gastar suas vidas ainda jovens para levar o Evangelho da salvação a outros povos. Ele enfrentou oposição e perseguição e escolheu encerrar sua carreira no mesmo lugar para onde veio servir ao seu Senhor, quase 6 décadas depois.
Muito antes de adoecer, ele sempre expressou seu intenso desejo de estar com Cristo. Para ele, como para Paulo, isso seria incomparavelmente melhor.
Agora ele já chegou em casa!
Pensando bem:
“Deus tem sido mais real para mim do que qualquer pessoa em quem eu possa tocar.” Domingos Lipsi