Filhos são para sempre

Amigos, não é só no futebol que não tem mais bobo. Na vida inteira todo mundo está esperto. Dias desses, brincando com minha filha mais velha, dirigi-me a ela em tom propositadamente grave: “A partir de segunda-feira eu não vou mais ser o pai nem da Carolina nem da Beatriz”. Ela deu de ombros e respondeu de bate-pronto: “Pai, deixa de bobagem. Você sabe que isso é impossível!” De fato. Li algures que você pode até vir a ser um ex-marido ou uma ex-esposa, mas jamais poderá vir a ser um ex-pai ou uma ex-mãe. Esta é uma condição que não se perde em hipótese alguma.

Tão óbvio, que até um criança de 5 anos compreende perfeitamente. Mas não tão óbvio para alguns adultos que, talvez por não conhecerem direito o Pai que tem, acham que eles podem um dia ser declarados “filhos de Deus” e outro dia este mesmo Pai vai chegar para eles e dizer: “Acabou. De hoje em diante você não é mais meu filho”.

Escrevo este artigo para responder à inquietante pergunta de um de nossos leitores, cujo nome manterei em sigilo. Ele indaga: “A salvação pode ser perdida? Sim ou não? A pessoa por mais que tenha feito continua sempre salva?” Creio que ele não esteja sozinho nesta dúvida. Muitos cristãos não sabem direito o que responder ante a questão da segurança da salvação.

Mas é fácil entender isso, quando estamos dispostos a crer no que diz a Palavra de Deus. O cerne da questão está justamente no fato de que a salvação não depende do que “uma pessoa tenha feito”, porque neste caso a salvação seria por obras e não por graça (leia Efésios 2:8-10). A salvação depende inteira e exclusivamente do que Cristo fez por nós (Hebreus 7:25). Isto quer dizer que se Cristo uma vez nos salvou, Ele é quem tem que garantir a estabilidade da nossa salvação. E ele o faz de maneira absolutamente competente. Ele é “poderoso para nos guardar” (leia Judas 24 e I Pedro 1:5). Duvidar disso é duvidar da capacidade e do poder de Deus, o que não faz nenhum sentido.

Pense no aspecto judicial da salvação. Deus nos declara seus filhos quando recebemos a Jesus (João 1:12). Esta é uma decisão definitiva. Não cabe qualquer recurso. Já exemplificamos como seria absurdo pensar que Deus poderia revogar esta declaração, por qualquer motivo.

Pense no fato de que Deus escreve nosso nome no Livro da Vida (Filipenses 4:3, Apocalipse 3:5). Isto acontece no momento em que somos declarados justos pela fé em Cristo Jesus. Não há qualquer cláusula que condicione a nossa inscrição nesse Livro, a não ser a fé no sacrifício de substituição que o Senhor realizou por nós na cruz. Ora, você acha que Deus vai escrever seu nome lá e depois vai apagá-lo? Impossível. Isso iria totalmente contra o caráter de Deus e contra a premissa da salvação pela graça.

Pense na promessa contida neste discurso de Jesus: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.” (João 10:28,29). Se essas palavras forem bem aplicadas ao coração sincero, elas não deixarão brecha para crermos nem por um segundo na estranha doutrina do “perde-ganha”, do “salvo-hoje-amanhã-quem-é-que-sabe?”. “Ninguém” é “ninguém”. Mesmo que a própria pessoa salva quisesse se perder, seria impossível. Houve até quem propusesse isso a Deus. Paulo estava disposto a se perder, para que seus patrícios judeus fossem salvos (Romanos 9:3). Moisés pediu que Deus o riscasse do seu Livro caso Deus não perdoasse o pecado do povo (Êxodo 32:32). Em nenhum dos casos Deus atendeu o pedido, porque não era possível.

Mas e os textos que aparentemente dizem o contrário? Lembre-se, antes de tudo, do alerta que o irmão Pedro fez há séculos atrás sobre pessoas que, não podendo compreender o sentido de certas Escrituras, acabam por deturpá-las. Ele chama a estes de “ignorantes e instáveis” (II Pedro 3:16). Este alerta cabe aqui, porque não podemos ensinar uma verdade a partir de um texto obscuro (como são todos aqueles que aparentemente ensinam a perda de salvação) e do qual nos falte melhor compreensão em detrimento de uma verdade clara e inequívoca ensinada em todo o Novo Testamento, que é a garantia de eterna salvação, isto é, de uma salvação que dura para sempre. Ainda não encontrei um estudante sério da Bíblia que conseguisse comprovar a teoria da perda de salvação. Sem nenhuma exceção, todas as pessoas que conheço ou vi defendendo esta teoria não conseguem sustentar sua argumentação por mais de duas ou três perguntas que lhes fiz. É difícil defender o indefensável! Até já encontrei entre esses pessoas sinceras, porém bastante ingênuas no seu discernimento das Escrituras, o que em alguns casos se demonstrou verdadeiro também em relação à interpretação e compreensão de outros assuntos.

Mas isso não seria um “liberou geral?” Se os crentes souberem que não vão perder a salvação, aconteça o que aconteça, então vai todo mundo cair na farra. Espere aí, todo mundo vírgula. Vai cair na farra quem é safado e sem-vergonha e a culpa disso não está na doutrina bíblica da segurança da salvação. Está na falta de caráter de quem pensa assim. Saber que sou salvo independentemente das minhas obras ou da minha fidelidade não é um salvo-conduto para o pecado. Isto porque a Bíblia ensina a GRAÇA abundante, mas não o PECADO abundante.
Não é por causa desse risco porém, que eu vou sonegar o ensino correto e sadio. O verdadeiro convertido, o salvo de verdade tem a Unção do Espírito de Deus que o conduz à verdade, e não ao pecado. À santidade e não à sensualidade. Ninguém precisa ter medo de ensinar a verdade, porque a verdade liberta. Por outro lado, quando ensinamos o que não é verdade, ficaremos eternamente reféns de nós mesmos e de nossos enganos.

Pensando bem:

Se tiver perguntas como a desse leitor e quiser enviá-las, responderemos ou encaminharemos todas com prazer.