Lemuel, o rei classe média

Amigos, tem dias em que parece que não vai dar mais. As forças chegam ao fim. O saldo estoura para além de todos os limites. As contas de avolumam e os credores batem à porta. Vender os bens, se ainda tivesse sobrado algum, seria a saída. Os antigos financiadores estão com medo e negam-lhe o crédito outrora farto. E se dependem de você crianças e famílias, as coisas se tornam ainda mais dramáticas. O que você pagou de juros na vida daria para construir uma fortuna. De fato, alguém está construindo fortunas com os juros tirados do suor dos endividados. É a tirania do capitalismo. Os bancos ganham bilhões enquanto os que produzem fecham as portas. E não é de hoje. No tempo de Cristo já havia credores incompassivos.

Mas isso não atenua a sua crise. Você volta para a planilha de gastos e descobre que nem trabalhando dois anos sem comer nem beber nem comprar mais absolutamente nada, você não consegue levantar o que precisa. Sim, se aqueles que lhe devem algum pudessem devolver, daria para passar mais um mês. Só que eles estão na mesma que você. Não tem como pagar mais nada. Estão no limite do limite. Por todos os lados você ouve a mesma coisa. Ano de eleições, medo de sermos a Argentina do ano que vem e aí ver o caneco entortar de vez.

Então você analisa: onde foi que eu errei? Gastei demais com o que não devia? Não adiei sonhos de consumo que nunca estiveram nos planos de Deus? Tentei manter um nível acima do que poderia? Agi mal nos negócios, tentando prejudicar alguém, e o tiro saiu pela culatra? Pensei pouco em Deus quando tudo ia bem e agora ele parece tão distante que eu nem tenho coragem de chegar perto dele? Outros mais pensariam: não tenho sido fiel nas ofertas? Esqueci-me dos missionários? Não fui solícito aos que me pediam? Fechei o coração às necessidades alheias?

A crise afeta a todos, inclusive os que pertencem ao Senhor. É verdade que sempre houve aqueles que mancharam Seu nome porque não sabiam administrar bem o que tinham, e de caso pensado, má-fé mesmo, gastavam mais do que ganhavam. Sabiam antes que não iriam pagar. Só que hoje a situação está no pescoço de muitos que sempre se importaram com o bom nome, seu e de Deus.

O dia da angústia chegou. Não há saída. Então, a gente se lembra da oração do Rei Lemuel. Ele não fazia questão de ser rico, embora também não estava muito a fim de ser pobre. Ele queria ter apenas o suficiente. A classe média estava de bom tamanho para ele. “Nem a riqueza nem a pobreza” era o seu pedido. Tinha a ousadia de pedir para não ser pobre, mas tinha o contentamento de não precisar ser rico. “O pão que me é necessário”. Ótimo. Nada de BMW´s ou Mercedes na garagem, mas também nada de cobradores das Casas Bahia batendo na porta. Nada de investimentos em CDI ou em ações da Petrobrás, mas também nada de juros do cheque especial para enriquecer banqueiro.

Não sei quanto a você, mas para mim a filosofia do Lemuel está mais do que atual e de bom tamanho. Deus preserva o Seu nome da vergonha, e a gente aprende a viver contente, mesmo sem conseguir chegar àquilo que este mundo materialista chama de “sucesso”.

Pensando bem:

“Já tem gente querendo subir na vida para um dia alcançar a classe baixa” Luis Fernando Veríssimo