Amigos, ele finalmente chegou. Ufa! Que sofrimento! O país está pintado de verde e amarelo. As ruas estão barulhentas, buzinaço por toda parte. Hoje não é o som estressante dos congestionamentos intermináveis. É a explosão de alegria de um povo campeão. Somos, pelo menos no futebol, os melhores do mundo. E só daqui a doze anos alguém poderá superar-nos. Alcançamos novamente a hegemonia do futebol mundial. Qual será a manchete dos jornais na Argentina, Inglaterra, Itália e França? Bom, eles têm uma vantagem: pelo menos não precisarão ficar com a propaganda eleitoral gratuita!
O duro agora será conseguir arrumar uma rima boa para o “Rumo ao Hexa”! Que esquisitinho, hein?
Pois é. Hoje, segunda-feira, o despertador tocou. Acordei como um penta-campeão. Sou o melhor do mundo. Sou da mesma pátria do Ronaldo, que se não é o Fenômeno que dizem, pelo menos neste mês de junho foi Fenomenal. Sou xará do goleiro mais sensacional da Copa. (Aliás, sem bairrismo, mas com tanto jogador que já passou pelo Palmeiras, ganhar essa Copa foi a maior moleza.) Maravilha!
Coloco os pés no chão do quarto. Procuro os chinelos e os óculos. Sim, sou cinco vezes campeão. Mas o que isso mudou na minha vida, além de alguns minutos de emoção? Quer saber mesmo? Até agora, nada. Preciso correr para fazer os pagamentos do dia, vou trabalhar até às 22h00, tenho mil ligações para fazer. Que tal se o Roberto Carlos ou o Rivaldo dividissem o prêmio deles comigo? Ia ajudar bastante nesta segundona!
Ah, mas eles não sabem que eu existo. A gente sabe muita coisa sobre eles. Por exemplo, a mulher do Cafu chama-se Regina e ele diz que a ama. A do Ronaldo, Milena e faz embaixadinhas. O Kaká é solteiro e é crente. Eles visitaram a nossa casa todos os dias nas últimas semanas. Mesmo assim, a ligação dos jogadores com a gente, na prática, não existe. Além disso, como todos os outros que já foram campeões, eles vão passar. Daqui a alguns dias, a gente vai esquecer aquele gol que o Ronaldinho perdeu ou aquela furada do Lúcio. Surgirão novos Rivaldos e novos Klébersons. É assim que funciona. Então, a gente aprende que, embora não faça mal a ninguém acompanhar um campeonato e vibrar um pouco com a vitória do nosso time, não será daí que virá a alegria e a força de que precisamos para levar a vida.
Como brasileiros, hoje somos vencedores. Mas isso não basta. É preciso que sejamos mais que vencedores. E isso é perfeitamente possível. Aquele que nos amou, quer dizer, aquele que se importou conosco, que viveu as nossas mazelas, que experimentou a nossa dor, que visita pessoalmente a nossa casa e sabe a quantas andam nossa despensa e nossa conta bancária, que conhece a nossa luta e o nosso sofrimento, aquele que deu a própria vida por nós, ELE nos dá uma vitória tão retumbante que dura mais do que até à próxima Copa. Dura por toda a eternidade.
Pensando bem:
Somos mais que vencedores!