Brigando com a balança

Amigos, há cinco anos quase completos escrevi minha decisão de enfrentar a realidade e dar um jeito de emagrecer (Malhação, 31/08/2005). Naquela época, precisava perder doze quilos. Quase cheguei lá. Perdi dez. De lá para cá, muita coisa mudou. Entre essas, parei de malhar, de caminhar ou de fazer qualquer outro exercício físico. Quase dobrei a quantidade de comida, a freqüência a restaurantes, sem muita preocupação com a qualidade nutritiva dos alimentos ingeridos. O resultado era mais do que previsível: não somente recuperei os dez quilos de 2005, como consegui mais quatro além desses. Ou seja, a coisa ficou pior do estava.

Então, depois de ler muita coisa, ouvir especialistas, consultar endocrinologistas e instalar um espelho maior no quarto, pensar positivo (“Eu vou emagrecer! Eu vou emagrecer!”), orar para Deus me emagrecer instantaneamente, entendi que precisava mudar definitivamente vários hábitos, a começar pelos alimentares. Não vou dar os detalhes desta operação (se quiser saber mais, “pergunte-me como”), mas posso compartilhar algumas lições comuns a muitos seres humanos que se embrenham nesta seara.

Nos primeiros cinco dias, reduzi três quilos. Fiquei animado. Tão animado que resolvi dar uma trégua a mim mesmo. No último sábado, decidi que não seria tão fatal assim participar de um churrasco com amigos. No domingo, como ninguém é de ferro, uma pizza em família me pareceu inofensiva. Tinha caminhado a semana toda, refeito meu programa alimentar e os resultados estavam em ritmo franco e promissor. Ledo engano. Uma ingenuidade imperdoável. Na segunda-feira, a balança mostrou que eu tinha recuperado dois dos três quilos perdidos na semana anterior. Aprendi que o peso desce de escada, mas sobe de elevador executivo, sem parada. Que coisa maluca. Aqui é o único lugar do mundo em que a gente faz tudo para perder e chora feito criança quando ganha. Em tudo na vida nós fazemos o maior esforço para ganhar alguma coisa e lutamos muito para não perder nada. Em relação ao peso, fazemos tanto esforço para perder e com tanta facilidade recuperamos tudo e mais um pouco. Que desagradável. Eu protesto! Quero meu dinheiro de volta! Assim não dá!

De volta à minha caminhada diária, fiquei a meditar que esta lógica não vale somente para quem quer emagrecer. Aplica-se, em realidade, àquelas áreas da vida que demandam vigilância e disciplina: praticamente todas. Por exemplo, você paga suas contas rigorosamente em dia a vida toda. Na primeira que atrasar, vai pagar implacavelmente juros, multas e corre o risco de ter seu nome no SPC. O sujeito leva vinte anos para desenvolver um relacionamento de honra com seu cônjuge. De repente, dá uma bobeira e vive algumas horas fazendo o que não devia com outra pessoa e põe em risco o seu casamento. Você trabalha duro para conquistar o mercado até pisar na bola com o maior cliente, uma vez só. As finanças da empresa sempre foram equilibradas até ter um único mês de inadimplência alta. O porteiro pediu a identificação de todos os que entraram, só abriu o portão para aquele entregador de pizza. Infelizmente ele era o assaltante. Você fez back-ups a vida inteira, mas justo na última semana esqueceu ou deixou para mais tarde porque estava sem tempo. Bingo! Nessa semana seu HD pifou. Você fica sem orar uma semana. Você sempre creu na Bíblia até começar a dar brechas para dúvidas injustificáveis. E então, tudo o que foi construído com tanta dedicação, suor, esforço e determinação, de uma hora para outra entra em colapso.

Não tem como fugir disso. Não sei se é justo, mas é assim que a vida funciona. Tem coisa que você até recupera, mas vai levar tanto ou mais tempo e esforço do que você tinha levado para chegar lá. Tempo precioso, que poderia estar sendo empregado na conquista de outras coisas.

Por isso, o grande conselho é não baixar a guarda jamais. Orar sempre, clamar sempre pela misericórdia de Deus, sem a qual nenhum de nós ficaria de pé. Mas também vigiar sempre e fazer a nossa parte. Criar hábitos saudáveis, que vão ajudar a nos manter livres do peso do corpo e da alma. Estou compreendendo melhor agora o sentido do texto de Hebreus 12:1: “desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia”. Não é fácil nos livrar do peso excedente que nos atrapalha. Demanda muito esforço. Tanto no corpo como na vida. Quanta coisa que a gente já tinha eliminado, acaba voltando por culpa de uma pequena concessão. E o peso volta, atrapalhando a vida e caminhada. Tanto a do parque como a da fé.

Não se iluda: eliminar peso, seja do corpo seja da alma, não é uma coisa que se faz uma vez e pronto. Para manter a saúde em dia sempre, a alimentação terá que ser equilibrada sempre, os exercícios precisarão ser regulares sempre, a mente terá que estar limpa sempre. Toda vez que você sair do previsto, toda escapadinha, todo pequeno exagero, terá a proporcional e imediata reação.