Amigos, interromperam minha programação normal para uma piada, quer dizer, uma notícia de última hora, quer dizer, de últimos tempos. Eu não ia dizer nada. Contei até 10. Depois até 20. Chequei a fonte. Consultei amigos e pessoas de confiança. Mas era verdade. Pára tudo o que você está fazendo e corre AGORA para o telefone. Vire para a pessoa que está do seu lado e diga: agora vai! Eis que após mais de 4.000 anos em densas trevas, depois de 150 anos de história do Evangelho no Brasil, finalmente chegou o que estava faltando. Nem sei como dizer isso, mas agora temos um PATRIARCA na nação brasileira. Isso mesmo. Um patriarca. Após a patifaria dos “novos apóstolos”, chegamos à Super Era da unção patriarcal. Não satisfeitos com o engodo de ressuscitar o que já estava posto, agora resolveram mexer nas tumbas mais antigas. Quando escrevi a respeito dos Apóstolos do Século XXI, um prezado leitor me perguntou qual seria a próxima. Pronto! Já tenho a resposta, caríssimo amigo. A próxima é a do Patriarca. Alguém diria que o céu é o limite. Errado. O limite parece ser mesmo o inferno.
Não é preciso gastar muitas linhas. Já avisava o apóstolo Paulo ao seu filho na fé Timóteo, parafraseado por este reles colunista que mal consegue ser filho (que dirá Patriarca!): “Timóteo, meu querido, fica esperto. Vai chegar um tempo em que aqueles que se dizem ‘crentes’ não vão agüentar mais ouvir só o que a Bíblia ensina. Eles vão arranjar para si uma porção de gente até bem instruída, mas que no fundo não presta, porque só querem satisfazer os seus desejos egoístas. Vai ser como se eles estivessem sentindo uma coceira lascada nos ouvidos sujos. E olha, vou lhe dizer, com esses tais não adianta perder muito tempo, porque eles simplesmente rejeitam aqueles que falam a verdade. Eles se recusam a ouvir o que é certo. Eles preferem abraçar as fábulas, as histórias em quadrinhos. Para eles a Bíblia não serve para nada. Eles preferem o Discovery Kids.” (confira o texto original em 2 Timóteo 4:3-5, se preferir na voz de Cid Moreira)
E então aparece uma oportuna e imparcial reportagem de capa da Revisa Época. Surpreendente que se publique de forma equilibrada uma análise consistente das reais diferenças entre as práticas evangélicas muito disseminadas e aceitas e as novas propostas que surgem como resposta a um anseio por algo menos complicado. A bem da verdade, esta desconstrução e descomplicação do Evangelho é exatamente o conteúdo da última frase do meu último artigo publicado nesta coluna. Por incrível que pareça, uma reportagem de revista secular traz mais paz ao meu coração do que os vídeos e notícias que nos apavoram a respeito da suposta “igreja evangélica brasileira” nos últimos dias. Sem nos esquecermos, no entanto, dos interesses que a Rede Globo (proprietária da Revista Época) tem em fazer tais comparações, ao ver seus níveis de audiência caindo em função da profusão descomunal de pseudopastores pedindo dinheiro e oferecendo cura em outros canais. Embora abomine tais práticas em nome de Deus, não se pode deixar de estabelecer uma relação entre o teor da reportagem e esta verdadeira preocupação. Ninguém se iluda de que a Globo jamais terá qualquer motivo para dizer a verdade.
Receio duas coisas apenas, sobre as quais proponho uma reflexão séria, desarmada, sem interesses ou paixões de qualquer natureza. A primeira é que muita gente que está “cansada de igreja”, “ferida em nome de Deus”, “não suportando mais a institucionalização”, “buscando uma espiritualidade sem religiosidade” ou qualquer coisa do tipo, corre o risco de cair em ciladas tão perigosas ou mais do que aquelas das quais querem se desvencilhar. Na busca de um cristianismo autêntico, muita gente está caindo em um relativismo letal, que mistura num cálice venenoso o santo e o profano, o certo e o errado, o divino e o diabólico. Este caminho nos levará para ainda mais longe de Deus do que o caminho trilhado até hoje pelo Protestantismo Histórico, apesar de todas as suas mazelas.
A segunda coisa é que já vi um filme parecido com este nos anos 90. Quando alguns expoentes do chamado “movimento evangélico” passaram a falar “em nome do povo de Deus no Brasil”, abriram-se para várias brechas. Alguns deles acabaram caindo para nunca mais se levantarem. 20 anos depois, a história tende a se repetir. Espero que não se repitam os mesmos erros. Que haja lucidez para todos os citados na reportagem, bem como para todos aqueles que os rodeiam, de forma que não tenham seus egos inflados pelos holofotes sempre traiçoeiros da imprensa. Isso precisa ser dito, porque como disse o Ricardo Agreste, “é lisonjeador saber que nos consideram ‘pensadores’.” Que isto não se volte contra nós mesmos.
E que o mundo descubra que somos muito mais do que pensadores. De pensadores o mundo está farto. Que eles nos descubram, isto sim, “embaixadores do ministério da reconciliação”, de acordo com 2 Coríntios 5:18-20.