Mudança de paradigmas: Definindo para compreender

Amigos, é possível vocês já ouviram a história que circulou na época do governo Collor sobre um livro que foi lançado pelo seu chefe de gabinete (ou coisa que o valha) e que lançava farpas para todo lado, incluindo o ministro da justiça na época, Bernardo Cabral. Ao ser perguntado se tinha lido o tal livro, Cabral respondeu rispidamente: “Não” li e não gostei”.

Você não vai fazer isso comigo, não é?? Talvez o que vamos abordar neste artigo não seja exatamente o que você esteja esperando. Mas considero necessário pensar nisto primeiro para então discutirmos algumas questões mais práticas. Venha comigo. Não desista.

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Creio que precisamos antes de mais nada descobrir o que significa um “paradigma”. Segundo o dicionário virtual Michaelis, “paradigma” tem a divisão silábica pa-ra-dig-ma (o que não é relevante neste contexto), vem do grego parádeigma (igualmente irrelevante) e significa “modelo, padrão ou protótipo”. É por isso que associamos paradigma com tradição, especialmente no contexto de igreja. E imediatamente associamos tradição com alguma coisa antiga. E uma coisa antiga é automaticamente associada com uma coisa ultrapassada, que precisa ser reformada ou substituída com urgência.

Gostaria de sugerir que este raciocínio começa bem, mas termina mal. É verdade que paradigma é modelo e que a repetição de um modelo gera uma tradição. É verdade também que muitas tradições são antigas. Mas não é verdade que tudo o que é antigo é ultrapassado e precisa ser mudado. Existem paradigmas divinos que são, por conta disso, imutáveis. Por exemplo: a fidelidade no casamento, a prática de sexo somente dentro do casamento, o respeito aos pais e a qualquer outra autoridade, são coisas tão antigas quanto a história da humanidade. São tradições antiquíssimas, mas que nem por isso são ruins. Foi Deus quem as estabeleceu, para nosso benefício. À medida que o homem “moderno” (e cada época teve o seu) começou a quebrar estes paradigmas, a sociedade afundou num lamaçal fétido e pegajoso, que jogou por terra todas as referências necessárias para uma vida abundante.

O mesmo acontece em relação à vida da Igreja. Paulo, por exemplo, fala de “andar segundo a tradição que de mim recebestes” (II Te 3:6) e de “guardar as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (II Te 2:15). Ele louva os coríntios porque “em tudo lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei” (I Co 11:2). Isto indica que há um modelo, um padrão, um protótipo que precisa ser preservado, não importa o quão antigo ele seja ou quão ultrapassado pareça. Isto é o que podemos chamar de “os paradigmas de Deus”. O bom modelo, o padrão imutável, o protótipo perfeito. Se nós os desconsiderarmos, teremos problemas e problemas sérios.

Por outro lado, quando Jesus discutia com os fariseus sobre a lavagem cerimonial das mãos antes das refeições, ele atacou-os duramente por causa da sua tradição. Ele lhes disse: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. Invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7:8,9,13). O mesmo apóstolo Paulo alertou aos colossenses: “que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2:8).

Se está tão claro para você como ficou para mim, há tradições e tradições; existem tradições boas e tradições más; existe a tradição de Deus (que Jesus faz questão de chamar de “mandamento”) e a tradição dos homens.

Portanto, a pergunta não é: “Minha igreja é tradicional?” Isto não vai resolver muita coisa. A pergunta deve ser: “Em que tipo de tradição se baseia a minha igreja: na de Deus ou na dos homens?” A resposta a esta pergunta vai fazer toda a diferença.

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Agora vamos pensar um pouco na diferença entre o paradigma humano e o paradigma divino. Mas só na semana que vem. Até lá!

Pensando bem:

“Tradição é a fé viva dos que já morreram. Tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem.” Charles Swindoll