A culpa é da Jabulani

Amigos, ainda a propósito da Copa do Mundo, apareceram mais alguns assuntos intrigantes, que merecem um breve comentário. Eles compõem um cenário de um Mundial estranho, bem diferente de todos os outros. Tinha tudo para ser um evento inesquecível, começando pelo fato de ser a primeira vez a ser realizado no continente africano, mas segue sendo um dos certames mais esquisitos de que me lembro.

Agora, até a rainha da Copa, aquela atrás de quem todos correm, a quem todos os olhos do mundo estão fitos, virou vilã. A Jabulani é a culpada pela derrocada técnica dos jogadores do mundo. Tudo bem, está provado que ela é mais rápida, que é diferente das outras, que muda de direção. Mas depois de meia hora de treino, qualquer jogador médio tem a obrigação de se adaptar. Usar a bola como desculpa fica até chato. Será que Pelé, Coutinho, Ademir da Guia, Tostão, Rivelino, Zico, Sócrates, Luis Pereira, Romário, além de outros craques do cenário mundial como Zidane, Platini, Rumnennigge ou Beckenbauer reclamariam também? Essa geração de jogadores atual não treina fundamentos. Não sabe chutar, não sabe bater faltas (quantos gols de falta até agora no Mundial?), não sabe nem bater lateral. Se fosse levada a sério, a regra de reversão seria aplicada em todos os jogos. Só se importam em fazer a linha de impedimento e marcar, trombar, dar cotovelada e tapa no rosto dos adversários. Continuando assim, se até a bola atrapalha, o que vai sobrar do futebol? O mau funcionário culpa a ferramenta. O mau elemento culpa a polícia. O mau cristão culpa a igreja. O mau jogador culpa a pobre Jabulani.

E a França, então? Bem pior do fracasso técnico, pagando o mico de ficar na primeira fase num grupo fraquíssimo como o seu, ainda teve que enfrentar uma vergonha de proporções tão gigantescas, que precisou até da interferência do governo do país. Brigas de tapas entre os jogadores, discussões acirradas na frente da imprensa, greve no treino, ex-jogador dando palpite e rachando o grupo. Não faltou mais nada. Isso porque eles são “cidadãos de Primeiro Mundo”. Imaginem se fossem do Terceiro. Não sobraria nem o massagista para fechar a porta do vestiário. Essas coisas tornam ainda mais odiosa a ideia falsa dos antigos colonizadores europeus (que muitos mantém até hoje), de se acharem superiores aos demais seres humanos. Quem ainda tem dúvidas, olhe para o time da França de 2010 e perceba como o ser humano é decaído, podre, corrompido, mau e imprestável, seja qual for a sua nacionalidade. O pecado estragou a todos, franceses inclusive. Bem, resta um consolo: pelo menos agora eles voltam para Paris. Pior o Tevez, que quando perder vai ter que voltar para Buenos Aires.

Não bastasse tudo isso, o tiro de misericórdia foi a grosseria, a falta de educação, a descompostura do pseudo-técnico-estressadinho Raymond Domenech, que aumenta ainda mais a já insuportável antipatia francesa. Ao final da melancólica e derradeira partida de Les Bleus na Copa da África, ele se recusou a cumprimentar Carlos Alberto Parreira, o Pé de Uva. Nunca imaginei que um diria seria solidário a este cidadão, que também não elenca entre suas qualidades a simpatia. Porém, tão lamentável foi a cena, sob todos os aspectos, que o cidadão francês com cara de costureiro de defunto deveria ser banido do futebol. Ele alegou estar bravinho porque Pé de Uva dissera que a França não merecia estar na Copa, por ter sido classificada com um gol de mão. Se ele disse, não sei. Mas que é verdade, é. Pela primeira vez na minha vida vi o futebol pagar o mal-feito com juros e correção. Fora França e com a mão grande de Henry e seus comparsas.

Fora também a tetracampeã Itália. Com requintes de crueldade. Como era a única que poderia alcançar o Brasil, achei excelente. Achei melhor ainda, porque italiano é racista até não querer mais. Então é ótimo que eles deixem logo o território africano.

Chama a atenção, ainda, a supremacia dos times sulamericanos. Que fase desse continente. Arrisco palpitar que teremos pelo menos dois deles na fase final e certamente um disputará a final. Seria ideal que fossem os Argentinos (só duas vezes campeões, com gol de mão) e nós, os únicos Pentacampeões, do outro lado. A vitória seria mais doce, mais suave, mais apreciada, mais celebrada, mais vivida, sorvida a goles longos e lentos. Ainda mais quando insuflada pela altivez do crack Maradona, dublê de treinador e performista de circo. Se bem que, convenhamos, Maradona na final não cheira bem.

E a briga continua, companheiros. Agora o Dunga arrumou sarna para se coçar. Foi inventar de brigar com a menina superpoderosa. Aí a coisa vai se complicar. Apenas que para descontar sua raiva gauchesca na Rede Globo, ele acaba colocando todo mundo no mesmo balaio. Não gosto das atitudes do Zangado, mas gosto da coragem que tem de falar e fazer o que todo mundo sempre quis: a Globo não tem que ter privilégios.

Finalmente, o gol de mão do Luis Fabiano. Uma vergonha. Ele deveria ser punido com três jogos de suspensão. Aquela mania argentina de se achar esperto não casa bem com o futebol brasileiro, que costuma ganhar na bola. E essa filosofia de querer levar vantagem em tudo, de achar bonito ganhar roubado, é coisa de corintiano, para quem só vale ganhar, não importa como. Para brasileiro de verdade, isso não tem graça. Tudo bem que não dependemos deste gol para classificar. Mas não se pode dizer que o gol “foi uma pintura”. Seria se ele não tivesse feito falta no zagueiro e dominado a bola com a mão duas vezes. Desse jeito, até minha avó Filomena, com uma perna só, teria feito o gol também. É só um jogo, mas ele reflete muito do pensamento que domina a sociedade. Para conseguir nossos objetivos, já dizia o filósofo, “os fins não justificam os meios”.