Comissárias de bordo

Amigos, se existe uma categoria que parece gostar do que faz são as comissárias de bordo. Elas sempre estão sorrindo, penteadas impecavelmente caminhando como se fossem as funcionárias mais felizes da terra. De bem com a vida. Observe-as conversando pelos corredores dos aeroportos. Parece que estão contentes com o salário, as condições de trabalho e os riscos permanentes da profissão. Como é possível andar a vida inteira com aquele cabelo engomado e com um sorriso constante nos lábios?

Será que aquilo é natural ou é só uma exigência da profissão? Será que chega o dia em que se cansam da coisa e mandam tudo às favas? Será que algum dia perdem as estribeiras com aquele passageiro chato que só reclama ou com aquelas famílias com crianças pequenas (que são ligadas no 220 antes de embarcar e colocam o mundo abaixo dentro do avião)? Se houver alguma comissária lendo este artigo, por favor, responda a essa dúvida cruel!

Você poderia argumentar: “Mas elas são pagas para isso”. Bem, os caixas do Banespa e do Banco do Brasil também são, e são intragáveis. Seu serviço é péssimo. Então, não deve ser só por isso.

Impressionante. Eu gostaria de ser como elas. (Isso vale para os comissários também) Gostaria de nunca me aborrecer, de sempre manter o sorriso e a fineza e de conseguir engolir as respostas que às vezes tenho vontade de dar. Gostaria de passar dias e dias engolindo sapos e pacientemente suportar os mal-humorados que descarregam na gente as frustrações do seu próprio fracasso. Gostaria de aprender a enfrentar turbulências com a mesma firmeza e destemor. Gostaria de andar constantemente empunhando com orgulho o nome da empresa no crachá, de modo que todos soubessem bem para quem trabalho. Gostaria de tornar evidente pelos meus gestos que estou satisfeito com aquele que me arregimentou. Gostaria que todos soubessem que trabalhar nesse negócio vale a pena. Gostaria de fazer com que todos aprovassem a empresa que paga o meu salário, por causa da minha maneira de trabalhar. Gostaria de gerar nos outros pelo menos a curiosidade em saber porque eu sempre posso sorrir enquanto trabalho (mesmo que o vôo seja 2h00 da madrugada!!).

Imagino que elas não sejam assim o tempo todo. Creio que quando chegam em casa, não dizem ao marido: “Deseja alguma bebida, senhor?”. Duvido que quando levantam da cama não estejam com o cabelo todo embaraçado. Pouco provável que nunca achem ruim que o despertador já tocou. Elas são pessoas normais, e pessoas normais tem seus altos e baixos. Elas não conseguirão ser impecáveis o tempo todo. Diz-se que o número de aeromoças que procura auxílio psicológico é imenso, porque a profissão traz consigo um stress permanente, às vezes insuportável. Porém, com algum esforço (talvez maior para umas do que para outras) conseguem superar seus problemas e lá estão elas!

Se uma lição elas me deram, foi o que poderia chamar de “bom testemunho”. São pessoas comuns, normais, com seus problemas e dramas. Mas que, mesmo assim, chamam atenção por seu bom desempenho.

Se você é como eu, não poderá esconder que é uma pessoa que não está voando sempre em céu de brigadeiro. Temos lá as nossas nuvens e ventos contrários. Temos os dias que parecem noites. Temos os momentos em que as coisas não correm como gostaríamos. Mas mesmo assim, trabalhar para Ele vale a pena.

E isso faz com que os outros se sintam atraídos a Cristo pelo nosso procedimento, pelas nossas atitudes. Faz com que os que convivem conosco sintam vontade de descobrir qual é o segredo do nosso sorriso, mesmo quando nem tudo vai bem.

Será que as pessoas que olham para nós concluem que deve ser muito bom seguir a Cristo? “Esse povo gosta mesmo do que faz” seria uma conclusão óbvia dos que se sentam nos bancos da nossa igreja?

Enfim, será que estamos mais para comissários de bordo ou para caixas de banco?