Guardas de trânsito e seus admiradores

Amigos, acabo de voltar do banco, onde fui pagar dolorosas contas. Na Praça onde fica o Itaú aqui em Rio Claro o trânsito normalmente flui bem – do jeito que é possível fluir bem no interior. Mas existe uma possibilidade de que tudo vire um caos. É quando o guardinha de trânsito resolve mostrar seu apito. Tudo vai bem, até que ele chega. Pronto. Tá feita a confusão. As filas, até então inexistentes, passam a se multiplicar em várias ruas. O povo que calmamente dirigia seus carros, fica estressado. Os pedestres ficam em dúvida.

E lá está ele. Imponente, trilando forte seu instrumento de trabalho. Gesticulando freneticamente, mostrando presença. Um olhar altivo, de superioridade, caras e bocas de quem manda. Se for argüido, dirá que está “orientando o fluxo de veículos e transeuntes”. Na prática, ele está atrapalhando a vida dos motoristas e pedestres.

Não que a sua autoridade seja ilegítima. O ponto é que o que se espera dele, no uso de suas prerrogativas policiais, é que seu trabalho sirva de auxílio, de melhoria da vida dos cidadãos. Sua incumbência não é meramente exibicionista. É, antes de tudo, servil. Uma vez exercida corretamente, sua autoridade fará da cidade um lugar mais agradável e ordeiro para se viver. Caso contrário, as coisas ficarão piores do que já são.

Fiquei pensando na química que se processa no cérebro dos que alcançam alguma forma de poder, em qualquer nível. Parece que a possibilidade de controlar os outros exerce um fascínio sobrenatural, a ponto de levar alguns a atitudes ridículas. E não se trata apenas do poder usurpado ou conquistado à força. Isso acontece até mesmo com aqueles que exercem um poder legítimo. É o chamado poder “que sobe à cabeça”.

Toda autoridade procede de Deus. Até a autoridade policial. A autoridade dos pais sobre os filhos, do professor sobre o aluno, do pastor sobre a ovelha, dos ensinadores etc. O problema não está na existência de autoridade. Sem “ordem” não há “progresso”. O problema está em como ela é exercida. Deus delega a autoridade para que esta seja exercida como Ele quer, e não ao bel prazer da autoridade.

É bom que todos os que tem sob seus ombros esta responsabilidade pensem nisto. Seja no lar, na sala de aula, no quartel, no presbitério da igreja, na classe de Escola Dominical, na chefia do escritório, na seção da fábrica ou em qualquer outra situação, somos responsáveis diante de Deus pela maneira como usamos da posição de comando em que fomos colocados.

A má compreensão dessa realidade gera distorções nefastas. É por causa do abuso de poder que muita gente está mutilada emocionalmente, estraçalhada espiritualmente e até mesmo afetada fisicamente. É lamentável ver o que alguns maridos, pais, patrões e líderes (cristãos) fazem com as pessoas que estão sob sua autoridade. Pensam que estão ali para exibirem seu apito e mostrarem quem é que manda de verdade no pedaço.

Isso acontece também com aqueles que tem a autoridade de ensinar a Palavra de Deus. Quando esta autoridade não é bem usada, o resultado será uma porção de gente enfatuada, que só está acostumada a falar e que nunca aprendeu a ouvir. Gente que acaba achando que tem mais autoridade do que a própria Bíblia, porque ensina uma porção de coisas que nem a Bíblia ensina.

Jesus Cristo mostrou que liderança implica, antes de tudo, um coração de servo. O seu símbolo de autoridade é uma bacia e uma toalha. A de muitos crentes hoje em dia é um cassetete e um apito. Não é à toa que grande parte das igrejas estão piores do que nunca.

Pensando bem:

“As coisas em nosso país funcionam apesar do nosso governo. Não por causa da sua ajuda” (Will Rogers)