A traição de César

Amigos, eu não me conformo com isso. O rapaz sempre foi bom caráter, tem reputação ilibada, tem uma razoável experiência profissional, tem reconhecimento internacional, um belo currículo, é um cristão verdadeiro e sincero. Como ele foi fazer uma coisa dessas? Ele não tinha cara de traidor. Com tanto lugar para encerrar a carreira de modo digno, ele tinha que escolher justamente o timinho da Marginal, que nem estádio tem? César Sampaio, você poderia ter ido para o Japão, para a África do Sul ou até para o Afegan Esporte Clube. Poderia ter tentado a sorte num desses times sem tradição, que fazem muito barulho e nunca levam nada, como o Atlético Paranaense ou o São Caetano. Ou mesmo tido um pingo de gratidão para o time que o revelou e que amarga uma fila de quase 18 anos. Mas no Corinthians, César? Para quê isso? Só para manchar uma carreira brilhante? Que decepção! Um palmeirense autêntico não aceita esse vira-casacas. E garanto aos amigos: ele vai sair de lá corrido, que nem o Paulo Nunes. Para aprender.

Mas assim é a vida. Pessoas nos decepcionam. O futebol nos decepciona. Empresas nos decepcionam. Faculdades nos decepcionam. Chefes nos decepcionam. Maridos, esposas, filhos também. Igualmente os amigos. Até os irmãos em Cristo nos decepcionam. A gente tem expectativas em torno de homens e mulheres e muitas vezes ficamos na mão.

É por isso que o Santo Livro nos ensina: “Maldito o homem que confia no homem”. A melhor maneira de não nos decepcionarmos com as pessoas é não esperar delas mais do que convém. Por exemplo, no caso em questão, o que você pode esperar de um jogador profissional? Ele só vê (e está certo nisso) o lado financeiro. Sua carreira é curta e precisa ser bem aproveitada. Ele não raciocina como um torcedor. Para ele, tanto faz se a camisa é verde, azul ou rosa.

Muitas vezes nós somos os verdadeiros culpados pela decepção de alguém, porque a gente atribui a algumas pessoas, pela análise superficial e exterior, uma potencialidade que jamais existiu ou uma expectativa que nunca poderá ser correspondida. Sabe aquele príncipe encantado que depois do casamento nunca deixou de ser sapo? Sabe aquela fulgurante princesa que escondia uma bruxa malvada por baixo do vestido de noiva? E aquele diretor que te levaria aos píncaros da glória profissional e que de repente puxou o seu tapete e riu da sua fragorosa queda? Sabe aquele candidato a presbítero que nunca vingou? Sabe aquele jovem promissor em quem a igreja investiu todas as suas fichas, enquanto ele mesmo não estava nem aí? Sabe aquele “grande ensinador” que você sempre admirou e que de repente se revela um Fariseu 2.0 Turbinado? Quem sabe tudo isso não aconteceu porque a gente não avaliou direito a situação? Quem sabe nós não demos a devida importância aos avisos que Deus foi-nos dando ao longo do caminho e que a gente não deu bola? Afinal, bons conselhos são como placas de trânsito: se todo mundo seguisse, não haveria acidentes. Para dizer de outro modo: se a gente não fizesse avaliações erradas, não ficaríamos surpresos com certos resultados.

Além disso, a gente não costuma respeitar as individualidades. Esperamos que as pessoas sejam de uma determinada maneira por causa, por exemplo, da sua filiação ou por causa do meio de onde elas vem. Quer dizer, se é filho do fulano, tem que pensar como o fulano, falar como o fulano e agir como o fulano. Se veio da igreja tal, tem que ser formato à imagem e semelhança da igreja tal. Isto faz com que as pessoas olhem para nós e esperem sempre uma atitude ou posicionamento previsíveis. Quando a gente diz que pensa outra coisa, parece que o mundo desaba. Decepcionamos aqueles que esperam de nós um determinado comportamento.

Assim é a vida e assim são as pessoas. É sempre mais prudente, em razão disso, confiarmos menos nas pessoas e olharmos mais para o Senhor. Jesus quando esteve aqui nunca se deixou levar pela aparência, “porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2:25). Acredito que o Senhor nunca tenha se decepcionado com ninguém. Porque ele sabia que não devia confiar em ninguém. Mesmo dando oportunidades a um ladrão como Iscariotes de ser o seu tesoureiro, ele não seria pego de surpresa. Era uma chance calculada para a sua própria recuperação, chance que Judas jogou fora. Esse é o segredo. Dar oportunidades mesmo correndo o risco de que ela seja desperdiçada. Mas nunca confiar em alguém a ponto de ver todos os nossos sonhos desmoronando.

Pensando bem:

“Nunca tente se explicar. Seus amigos não precisam disso e seus inimigos não vão acreditar.” (Extraído de “The Quotations and Sayings”)