Eu tô legal!

Amigos, essa aqui é velha, mas é bem interessante.

Conta-se que um fazendeiro no Texas sofreu um acidente na estrada enquanto transportava sua mula de estimação. Passados alguns dias, ele resolveu ir ao tribunal contra a transportadora dona do caminhão que o atingira. Lá na corte, numa cena típica da Justiça americana, estava o velho fazendeiro Joe sendo interrogado por um ardoroso advogado contratado pela empresa. Seguiu-se um diálogo mais ou menos assim:

Advogado: “Você” não disse lá no local do acidente “Eu tô legal?”

Fazendeiro: “Bem, na verdade eu tinha colocado a minha mula preferida, a Bessie, no trailer e…”

Advogado: “Desculpe, eu não estou interessado nos detalhes. Apenas confirme. Você não disse no local do acidente “Eu tô legal?”

Fazendeiro: “Bom, eu tinha colocado a minha mula no reboque e comecei a descer a estrada…”

Advogado: “Sr. Juiz, eu estou tentando mostrar que no momento do acidente este homem disse ao policial rodoviário que ele estava bem. Agora ele quer processar o meu cliente. É óbvio que ele está tentando tirar vantagem. Por favor, diga a ele para simplesmente responder a minha pergunta”

Mas a essa altura, o juiz estava curioso para ouvir a resposta de Joe e disse-lhe que ele poderia continuar.

Fazendeiro: “Obrigado, seu juiz. Bom, como eu ia dizendo, eu tinha colocado a minha mula Bessie no reboque e comecei a descer a estrada quando de repente um caminhão atravessou a placa Pare e me acertou em cheio. Eu caí de um lado, e a Bessie do outro. Eu estava tão mal que não conseguia nem levantar. Eu só ouvia os gemidos dela e sabia que ela estava muito mal também. Aí chegou um policial rodoviário. Quando ele viu o estado em que ela estava, ele sacou o revólver e meteu-lhe um tiro no meio da testa. Aí ele atravessou a estrada e veio pro meu lado com o revólver na mão e me disse: “Senhor, a sua mula estava tão mal que eu precisei atirar nela. E o senhor, como está se sentindo?” Foi aí, então, que eu falei “Eu tô legal! Eu tô legal!”

***

A piada pode não ser das mais engraçadas, mas não deixa de ter uma lição sensacional. Ela mostra que muitas vezes um fato ou uma informação pode ser até verdadeiro em si mesmo, mas quando analisado dentro de um contexto, a coisa pode mudar completamente de figura. É típico dos advogados aterem-se a detalhes, frases isoladas, fatos ou atitudes alheios ao restante dos acontecimentos, para tirar proveito disso em favor dos seus clientes. Num certo sentido, a habilidade de um advogado em fazer uma coisa parecer outra é diretamente proporcional ao seu sucesso diante de um júri.

Infelizmente, muitas “verdades” são plantadas no meio dos cristãos, que quando analisadas mais a fundo, mostram-se outra coisa. Já no tempo dos apóstolos isso acontecia. Por exemplo, depois de uma frase que o Senhor disse a respeito de João, “tornou-se corrente que este não morreria” até que Jesus voltasse. Ele não tinha dito isso, mas estabeleceu-se como verdade algo que não passava de uma má interpretação de uma palavra de Jesus (leia a história completa em João 21:20-23).

Quantas vezes se estabelecem versões duvidosas (e mentirosas até) sobre a vida e o ministério das pessoas, muitas vezes baseadas em alguma coisa que se ouviu ou que se interpretou. Como a maioria dos cristãos não tem o costume de verificar se o que ouvem é verdadeiro e como é muito mais fácil vender o peixe do que prezar pela sua qualidade, muita gente acaba ficando que nem o fazendeiro Joe. Só que na maioria dos casos, nunca vai se saber de verdade o que aconteceu.

Eu já ouvi falar tanta coisa a respeito de tanta gente e quando fui conhecer melhor ou quando tive a oportunidade de saber mais coisas a respeito dos fatos narrados, pude perceber que não era nada daquilo. Eu me lembro de dois casos de pessoas a respeito das quais eu só ouvia comentários desabonadores. Eram pessoas rotuladas com uma série de adjetivos pejorativos, pessoas sobre quem pairava a sombra da suspeita em tudo o que faziam. Digamos que “por acaso” (eu não acredito no “acaso”) eu acabei encontrando com os dois, em épocas e circunstâncias diferentes. Comecei a conversar com elas, descobrir o que elas pensavam, ver como conduziam suas vidas e tal. Resultado? Descobri que alguém estava usando coisas que eles tinham dito ou feito “no local do acidente”, e que eles não correspondiam nem de longe aos rótulos que eles levavam. São grandes servos de Deus. Hoje eles estão entre meus maiores amigos. Se estiverem lendo esta coluna, saberão de quem se trata, porque já conversei com eles sobre isso e demos boas gargalhadas com o fato.

Outra ocasião, visitando um casal de missionários, ouvi deles uma dura crítica a um irmão muito querido. “Ele é muito liberal”, foi o veredicto. Estranhei, porque conhecia bem a pessoa. Perguntei: “Você conhece esse irmão?” Resposta: “Não”. “Já se encontrou com ele alguma vez?” “Não”. “Já leu alguma coisa que ele escreveu?” “Não” “Então como é que você sabe que ele é liberal?” “É, a gente sabe de onde ele vem”. Precisa dizer mais alguma coisa?

Amigos, nunca se esqueçam disso: uma informação sempre tem dois lados. Se você não tem nada a ver com ela, ignore-a. Se tiver, procure conhecer os dois lados antes de estabelecer um juízo. Não siga o péssimo exemplo que tem sido dado os longo dos anos por boa parte dos nossos ensinadores, líderes e alguns dos influentes do nosso meio, de atirar primeiro para perguntar depois ou de sair pelo mundo gastando tempo e dinheiro que poderiam muito bem ser empregados em coisa mais proveitosa para destruir a reputação alheia e criar factóides, semeando beligerância entre o povo de Deus a troco de nada.

Nunca aceite uma versão simplesmente porque ela venha assinada por sobrenomes famosos. Nunca engula o que se diz só porque foi o “Seu Fulano” que falou. Lamentavelmente, a história tem mostrado que quanto mais graduada é a fonte, menos confiável ela é.

Pensando bem:

A mula Bessie e o fazendeiro Joe são personagens fictícios. Os outros não.