Amigos, 3/4 da vida passamos dormindo ou trabalhando. Que coisa, é muito tempo! Raciocine: onde você passa mais tempo: no templo da sua igreja ou no local de trabalho? Na “igreja” (estou usando o termo no sentido popular, antes que alguém escreva reclamando…) passamos por semana quando muito 10 horas. No trabalho passamos isso quase todo dia. Ora, é óbvio que se a gente passa tanto tempo trabalhando, e se não deixamos de ser cristãos quando saímos do templo, a nossa vida profissional, ao lado da vida familiar, são os dois ambientes onde poderemos mostrar de forma mais efetiva o nosso cristianismo.
Não se trata de definir, nesse momento, o que é mais importante, ou onde você aprende mais etc etc. É apenas a constatação de um fato, e da maior relevância. A maioria de nós não pode se dar ao luxo sequer de escolher onde QUER trabalhar. Estamos mais para agradecer a Deus onde CONSEGUIMOS trabalhar. E Deus vai conosco para o nosso trabalho, e nós continuamos a ser “sais da terra”, mesmo depois que passamos a catraca eletrônica e ligamos a máquina na fábrica, ou atendemos o paciente no consultório, ou o cliente na loja ou participamos da audiência, ou negociamos a venda do produto ou …
Acho que está na hora de questionarmos mais profundamente qual deve ser nossa postura nesse local onde ganhamos o “pão de cada dia”. É necessário que a gente comece a pensar melhor em como nos posicionamos como cristãos na esfera profissional. Parece-me constrangedor o fato de que, sendo esse o fator que durante mais tempo envolve a nossa vida, não seja tão discutido e abordado como outros temas. Discutimos exaustivamente como devemos nos reunir, por exemplo. Mas esquecemos de que a nossa vida (infelizmente, até) não é uma constante reunião de crentes. A segunda-feira chega para todo mundo.
Nossa tendência de superficialidade e simplificação das coisas é preocupante nessa área. Afinal, espiritualidade verdadeira não se mede (apenas) pela freqüência de um crente às reuniões. Tem uma porção de crente que não falta nem que esteja chovendo canivete. Mas quando chega na área profissional, cadê a ética, o respeito ao próximo, a honestidade? Quantos são os que pregam o Evangelho no domingo à noite e na segunda pregam cheques sem fundo e protestos em cartório!!
Outro aspecto, que eu chamaria de “mais nobre” da discussão, é que o profissional moderno tem que tomar certas decisões que são relativas à vida moderna e sobre as quais a Bíblia não trata explicitamente, por razões óbvias.
Explico: se você é um profissional médico, diretor de um hospital, e couber a você decidir se desliga ou não o aparelho do paciente. E aí? E se tiver que contar o diagnóstico de um câncer ao pai de família? Conta, mente ou dissimula?
Na área comercial não é diferente. Para ganhar a concorrência, eu pago ou não aquela viagem para a Europa que o comprador pediu? Isso sempre será propina ou nem sempre? Quando se justifica ou quando não?
E o crente psicólogo? Pelo juramento, sua clínica tem que ser laica. Mas, como apontar uma solução para um paciente sem falar de Deus? E se falar de Deus, feriu a ética profissional… E a secretária? Diz que o chefe não está ou expõem-no ao constrangimento?
Há outras perguntas na cabeça dos jovens cristãos de hoje. Qualquer profissão serve para o crente? Como justificar biblicamente uma resposta positiva ou negativa? Daqui a pouco (e para muitos a hora já está aí) é preciso escolher um curso universitário. Será que é só optar pela que dá mais dinheiro, ou será que mesmo dando dinheiro é preciso tomar cuidado com algumas áreas?
Pensando em tudo isso, e também observando que a nossa geração foi privilegiada (esses dias numa conferência perguntei quantos eram formados ou estavam na universidade, quase metade levantou a mão) com o acesso à cultura, à informação e à formação, pode-se concluir que não foi à toa que Deus nos deu este privilégio (que muitos de nossos pais não tiveram). Creio que Ele quer usar essa nova condição para a Sua glória.
Aí, estudamos, chegamos à universidade, e depois ao mestrado e ao doutorado e depois ao sucesso profissional. Mas até que ponto isso tudo não está sendo conseguido ao arrepio da ética e às custas do bom nome do cristianismo?
Então, na mesma conferência já citada (lá na famosa e bela Menino Jesus, aquela da ponte incomparável!!), surgiu o embrião de uma idéia, que lanço agora oficialmente: gostaria de promover em breve um Encontro de Universitários e Profissionais Cristãos, para discutir essas questões mais profundamente. Creio que muitos de nós enfrentam problemas comuns, que se tratados em conjunto, podem viabilizar soluções de comportamento.
Tá lançada a idéia. Se você achar legal, entre em contato com a coluna, através do campo “Sugestões”. Quem sabe ainda em 2001 a gente faz o primeiro.
Pensando bem:
“O problema do Cristianismo são os cristãos” (Mahatma Gandhi)